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Juro pode cair a 3,5%; corte só acaba quando Brasil reagir, dizem analistas

João José Oliveira

UOL, em São Paulo

31/10/2019 04h00Atualizada em 31/10/2019 10h52

Resumo da notícia

  • Taxa básica pode ceder até 3,5% ao ano, dizem especialistas, e retomar alta quando economia voltar a crescer acima de 2%
  • Mesmo quando voltar a subir, taxa básica de juros deve ir até o máximo até 8% ao ano, segundo economistas
  • Inflação controlada e abaixo de 4% ao ano é um fator que ajuda a manter os juros baixos por muito tempo
  • Juros baixos vão continuar influenciando estratégias de investimentos que deverão ser menos conservadores

A taxa básica de juros, a Selic, estabelecida pelo Banco Central e usada pelos bancos como patamar mínimo a partir do qual os bancos calculam o custo de empréstimos e investimentos no Brasil, caiu na quarta-feira (30), vai continuar caindo e pode chegar a 3,5% ao ano, o que representa algo como 0,3% ao mês, dizem economistas. Para esses profissionais do mercado, o custo do dinheiro vai seguir baixo enquanto a economia estiver reagindo de forma ainda lenta e a inflação permanecer baixa e controlada.

"Nós vemos a taxa básica de juntos indo até 3,75% no ano que vem", afirmou a economista da Itaú Asset Mirella Mirandola, em evento organizado pelo Modalmais em São Paulo. "A gente está com uma previsão de a taxa básica de juros caindo até 4,5%, mas pode sim ir até 3,75% ou mesmo 3,50%", concorda o chefe de investimentos em Multimercados da Bradesco Asset Management, André Fontenelle, presente no mesmo evento.

Para esses economistas, o principal motivo para explicar os juros baixos no Brasil —algo raro na história recente do país— é a inflação controlada e a economia sem força.

Na política econômica usada em vários países, incluindo o Brasil, os governos utilizam os juros para controlar a inflação. Quando os preços estão subindo de forma constante, as taxas de juros sobem. Assim, os custos do financiamento aumentam, encarecendo as compras e segurando o consumo, de um lado. Ao mesmo tempo, com juros mais elevados, as pessoas ficam mais tentadas a aplicar o dinheiro em vez de gastar.

Economia fraca e inflação controlada

Mas não é o que está acontecendo no Brasil agora. O PIB (Produto Interno Bruto), indicador usado para medir o ritmo da atividade econômica em um país, subiu apenas 1,1% em 2017 e 1,1% em 2018, depois de ter acumulado uma baixa de 7% no biênio 2015 e 2016.

Além disso, a previsão de crescimento do PIB brasileiro para o futuro próximo não tem nada de eufórico —de 0,9% para este ano e de 2% em 2020. "A economia está reagindo aos poucos, mas ainda temos um desemprego de 12%, que é muito elevado", afirmou o economista da Gap Asset, Bernard Tamier.

Segundo ele, esse quadro segura o consumo desenfreado, fator que poderia voltar a puxar os reajustes dos preços de produtos e serviços, e por tabela, a inflação. Os economistas ouvidos pelo Banco Central projetam uma inflação de 3,29% para este ano, de 3,60% em 2020 e 3,75% em 2021.

Com os preços comportados nesse horizonte de três anos, dizem os profissionais de mercado, o quadro de juros baixos veio para ficar. "Temos uma situação sustentável", afirmou o economista-chefe do Banco ABC, Luiz Rabi.

A taxa básica de juros voltará a subir em algum momento nos próximos dois anos, dizem os profissionais de mercado, quando a economia voltar a crescer mais de 2% ao ano, algo que está no radar para acontecer apenas em 2021.

Mas quando esse movimento ocorrer, o custo mínimo do dinheiro não voltará a atingir patamares como o que tivemos em 2016, de 14,25% ao ano. "A gente terá uma taxa básica de juros de, no máximo, 7% ou 8% ao ano" disse Rabi, economista do Banco ABC.

Para ele, as reformas já realizadas —como a trabalhista e a da Previdência— vão permitir que o Brasil possa crescer mais fortemente sem que a inflação suba tanto.

Impacto nos investimentos

O economista da Gap Asset disse que os juros ainda precisam cair para o consumidor como um dos fatores que podem ajudar a acelerar o crescimento econômico no país. "Os spreads ainda são muito elevados", disse Bernard Tamier, sobre a diferença entre os custos que os bancos têm para levantar recursos e o lucro que eles conseguem quando vendem crédito às pessoas e empresas. De fato, segundo o Banco Central, para a pessoa física, por exemplo, a taxa média cobrada pelos bancos é de 51,3%, mais de dez vezes superior à Selic, a taxa básica de juros no país.

Os juros cobrados nos empréstimos que as pessoas fazem ainda estão altos. Mas, nos investimentos ligados ao governo, os juros já ficaram menores. É o caso da poupança ou dos fundos de renda fixa que aplicam em títulos públicos.

"Nós que trabalhamos com investidores temos que nos acostumar com taxas de juros baixas", disse o diretor e chefe de investimentos do Modalmais, Ronaldo Guimarães. Isso significa, segundo ele, que o aplicador deve começar mesmo a diversificar os investimentos, começando a procurar alternativas, como debêntures, fundos imobiliários e ações.

Segundo ele, essa migração vem ocorrendo. Cerca de 20% de investidores em títulos de renda fixa estão procurando outra coisa. Eles aproveitam o momento de renovação das aplicações para fazer a mudança.

Mesmo movimento ocorre na Bradesco Asset, por exemplo. "Nossos fundos de ações estão captando R$ 300 milhões por mês", disse o gestor da instituição, André Fontenelle.

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