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Supostos clientes usam redes para defender Unick Forex, acusada de pirâmide

Print de abaixo-assinado a favor da Unick Academy, antiga Unick Forex - Reprodução
Print de abaixo-assinado a favor da Unick Academy, antiga Unick Forex Imagem: Reprodução

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

07/11/2019 04h01

Resumo da notícia

  • Em redes sociais, supostos clientes e colaboradores culpam Justiça, governo e mídia pela ruína do negócio
  • Eles criaram abaixo-assinado a favor da empresa, montaram grupo no Telegram e divulgaram vídeo
  • Não é possível confirmar se são clientes mesmo ou líderes da empresa
  • Negócio foi alvo de operação da PF e acusado de ser uma pirâmide financeira

Colaboradores e supostos clientes da Unick Academy (antiga Unick Forex) usam as redes sociais para defender a empresa e alegar que a Justiça, o governo e a mídia são os culpados por sua ruína. O negócio, alvo de operação da Polícia Federal no mês passado, foi acusado de ser uma pirâmide financeira.

Os apoiadores criaram um abaixo-assinado a favor da empresa, que já tem pouco mais de 15 mil assinaturas, montaram um grupo no Telegram chamado #SomostodosUnickAcademy e divulgaram um vídeo defendendo o modelo de negócio.

"Quero que a empresa volte, ajudou muitas famílias, inclusive a minha". "Prefiro acreditar na Unick, pois a PF é corrupta". "Estou a favor da empresa, eles são honestos e cumprem sua palavra no que se comprometem a oferecer". Estes são alguns dos comentários publicados pelos supostos clientes.

Não é possível confirmar se são clientes mesmo ou líderes da empresa (pessoas que atraem centenas de outras para participar do esquema) tentando se passar por clientes. A reportagem tentou conversar com cinco pessoas no grupo de conversa. Uma respondeu, mas não quis dar entrevista.

Contatada, a Polícia Federal não comentou a manifestação dos supostos clientes.

O escritório Nelson Wilians e Advogados, que representa a Unick, não comentou as manifestações a favor da empresa nem as críticas dos clientes. Afirmou que acredita na justiça e que os fatos serão esclarecidos o mais breve possível.

Em vídeo, supostos colaboradores culpam justiça

Em vídeo divulgado nas redes sociais, os supostos colaboradores defendem o modelo de negócio da Unick, identificado como "marketing de rede".

A empresa oferecia rendimento de 1,5% a 3% e atuava no mercado Forex, de compra e venda de moedas, sem autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Os colaboradores afirmam, ainda no vídeo, que "muitas histórias, sem nenhum fundamento, estão aparecendo na mídia" e que a justiça bloqueou os recursos da empresa, o que gerou a paralisação das atividades.

Em um áudio divulgado em grupos, um suposto líder da Unick diz que a Justiça vai "pegar os bilhões e o valor nunca mais vai aparecer".

Só nas Justiças do Paraná e de São Paulo, há pelo menos 250 processos judiciais contra a Unick. Em diversos casos, os tribunais determinaram a penhora dos bens dos sócios e da empresa, além do bloqueio de contas. Na operação do mês passado, a PF disse que o esquema teria movimentado R$ 2,4 bilhões.

Justiça defende bloqueio de recursos

A Justiça Federal do Rio Grande do Sul informou que o bloqueio de bens e valores é uma medida judicial utilizada para preservar os recursos e evitar que os responsáveis pelo esquema sumam com o patrimônio, que deve ser usado para ressarcir as pessoas lesadas.

Informou, ainda, que membros do judiciário entendem a angústia de quem perdeu dinheiro, mas que processos envolvendo supostos esquemas de pirâmide financeira são longos, e os recursos ficam bloqueados durante os trâmites judiciais.

A CVM informou que, como há um processo contra a Unick Forex em andamento no órgão, não comentaria nada relacionado ao caso. A autarquia afirmou, entretanto, que alertou o mercado e o público em geral sobre a atuação irregular da empresa e de seus sócios no dia 21 de março de 2018 e que "o referido alerta foi, ainda, reiterado pela CVM em 25/4/2019."

Estudante perdeu dinheiro da formatura

O estudante Kayke Mozart dos Santos, 24, de Curitiba (PR), disse que é lamentável a atitude dos grupos em favor da empresa. "Será que esses defensores estão por dentro do que está acontecendo e sabem que diversas pessoas foram prejudicadas?". A PF estima que o esquema afetou um milhão de pessoas.

Santos investiu na Unick quase R$ 5.000 entre maio e junho, com a promessa de ter o dobro em seis meses. O dinheiro, disse, foi guardado ao longo de dois anos e seria usado para pagar sua formatura, que acontece em dezembro.

"Agora não vou mais participar da formatura, pois não tenho condições de arcar com os custos", falou ele, que acredita que os líderes da empresa são os responsáveis pelas manifestações.

Promessas não cumpridas

O técnico em comunicação Jeremias Almeida Costa Junior, 38, tem opinião semelhante. Ele disse que, se há clientes defendendo a empresa, provavelmente devem fazer parte do negócio de alguma forma.

"Acredito que sejam líderes dando suporte à Unick porque dependem do esquema, pois não faz sentido ficar a favor dos sócios depois de tantas promessas não cumpridas e mentiras contadas ao longo desses últimos quatro meses", disse Costa Junior.

O técnico mora em Clevelândia (PR) e perdeu R$ 13 mil. Ele disse que começou a investir na Unick em fevereiro, mês em que um dos líderes da organização foi até o município, com quase 17 mil habitantes, para falar sobre as vantagens do negócio. "Muita gente acreditou".

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