Desigualdade de renda sobe em 2019, mas tem 1ª queda trimestral em 5 anos
Resumo da notícia
- Desigualdade subiu 0,17% no ano passado, menor avanço desde 2014
- Em 2019, atingiu o maior nível da década
- Mas, quando se considera só o quarto trimestre, houve queda de 0,12%, interrompendo 18 trimestres de alta
- Pesquisador diz que dados são positivos e sinalizam otimismo com o futuro
A desigualdade de renda do trabalhador vem aumentando continuamente durante quase cinco anos, mas mostrou uma luz no fim do túnel no quarto trimestre de 2019. A conclusão é de um estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas) sobre o Índice de Gini, que mede a concentração de renda no país usando uma escala de 0 a 1 —quanto mais próximo de 1, maior é a concentração.
O indicador havia subido por 18 trimestres seguidos, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, e chegou a atingir o maior nível da década em 2019. Porém, no quarto trimestre, caiu 0,12%, na primeira queda desde o primeiro trimestre de 2015.
A desigualdade no país aumentou no acumulado de 2019 em relação a 2018 —alta de 0,17%, a 0,6290—, mas foi o menor avanço desde 2014.
Eu diria que é uma novidade dupla: de um lado, a desigualdade sobe pelo quinto ano consecutivo, um recorde, mas, por outro, quando se olha os dados trimestrais, podemos ver que desacelerou e até houve queda.
Marcelo Neri, diretor do FGV Social
Para o economista, os dados podem ser vistos como algo positivo.
A desigualdade de renda subiu [em 2019], mas, agora, parece ter atingido o topo. Não se pode dizer com certeza, mas, avaliando trimestralmente, deve continuar a cair, como em um ciclo.
Marcelo Neri, da FGV Social
O estudo elaborado pela FGV Social usou dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Renda per capita e bem-estar social melhoram
O estudo também aponta que a renda per capita média do brasileiro e o nível de bem-estar social, que soma a desigualdade de renda do trabalho e a renda per capita, continuam a subir.
A renda per capita média subiu pelo terceiro ano seguido, para R$ 846, aumento de 1,6% em relação a 2018. Com isso, o bem-estar social também cresceu: 1,32%, melhor desempenho desde o início da recessão, em 2015.
Emprego e produtividade puxam para cima
Neri apontou cinco variáveis que afetam a desigualdade de renda e o mercado de trabalho: desemprego, jornada de trabalho, participação (número de desempregados propensos a procurar ocupação), escolaridade e produtividade. Pela primeira vez desde a recessão, quatro deles estão positivos.
A escolaridade e a participação [procura por emprego] nunca deixaram de crescer, mesmo na crise. Já o desemprego voltou a cair, embora continue alto, e a jornada de trabalho também tem aumentado, o que significa que as pessoas estão trabalhando mais. O único problema é a produtividade, que continua a cair e segura o crescimento.
Marcelo Neri, da FGV
Para medir a produtividade, o estudo considera os ganhos do trabalhador divididos por seus anos de estudo. Em 2019, a produtividade caiu 1,58% em relação a 2018. Segundo Neri, ela capta o efeito da informalidade e tem consequência na média de salário-hora do trabalhador.
"É o que podemos chamar do efeito de precariedade. Desde 2014, este já é o principal motor para a queda da renda do trabalhador, até mais do que o desemprego. A diferença, agora, é que a produtividade continua a jogar para baixo, enquanto os outros indicadores voltaram a jogar para cima", afirmou Neri.
Expectativa positiva
O economista disse estar otimista em relação ao futuro, em especial por causa da contínua melhoria da educação.
Se você olhar, ela [educação] cresce na base, entre os 50% mais pobres, duas vezes mais do que entre os 10% mais ricos, o que é muito positivo e contribui para a diminuição da desigualdade.
Marcelo Neri, da FGV
"Acho que já estamos em momento de virada. O desemprego já virou o Cabo da Boa Esperança há um tempo e deve continuar a cair. O que ainda persiste é a precarização, mas é um problema em meio a tantos que havia", disse.
Para resolver isso, ele sugere a melhoria entre a conexão da educação básica com o mercado de trabalho para que o jovem chegue mais preparado.
Temos que pensar na realocação do jovem, que foi quem perdeu muito na recessão. É a hora de ele se recuperar.
Marcelo Neri, da FGV
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