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Presidente do BC: projeto liberal "decolava", e recuperação virá no 4º tri

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

31/03/2020 20h17

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse que a economia brasileira deve começar a dar sinais de recuperação no 4º trimestre deste ano após o abalo provocado pela pandemia do novo coronavírus. Em entrevista à CNN Brasil, o economista disse que o projeto liberal comandado pelo ministro Paulo Guedes estava "decolando" antes da chegada da covid-19 ao país.

"Eu acho que nós vínhamos com um programa liberal que estava funcionando, um avião que estava decolando, quase todos os dados de fevereiro estavam melhorando, e aí veio a crise do coronavírus. Foi uma crise que levou algum tempo para interpretar o impacto", disse o presidente do BC, que citou as previsões de crescimento na casa de 2% no PIB brasileiro em 2020, agora já revistas para 0%. No ano passado, o PIB desacelerou e cresceu 1,1%.

Sobre o choque do conjunto de medidas do estado para ajudar na recuperação econômica com as ideias liberais do governo, Campos reconheceu que a crise provocou mudanças, mas projetou um retorno futuro ao programa de Guedes. "Saiu um pouco do que vínhamos pensando, tem que ter incentivo financeiro, mas pensar que depois nós vamos colocar as coisas nos trilhos novamente", afirmou.

Um prazo para a recuperação é econômica é difícil de prever, disse o economista, apesar de indicar que o fim do ano já deve ser melhor para o Brasil. "Nós entendemos que no último trimestre já vai estar começando a recuperar, e no ano que vem teremos uma recuperação boa", disse.

Questionado sobre a cotação do dólar, que tem se mantido acima dos R$ 5 desde o início da crise do coronavírus, o presidente do BC lembrou que a política do banco envolve o câmbio flutuante como um dos fatores fundamentais para manutenção da credibilidade da instituição no futuro.

"Não é interessante para o BC definir um nível de câmbio. Nós temos um arsenal de câmbio muito grande, é importante ver como a moeda brasileira está em comparação com seus pares de países emergentes, e ela oscila junto com elas. Temos uma linha com o banco central americano de US$ 60 bilhões, mas o objetivo do BC não é defender um nível de câmbio, e sim uma funcionalidade no mercado", disse.

Campos evitou entrar no debate sobre flexibilização ou não do isolamento social na luta contra o coronavírus, algo que é bastante criticado pelo presidente Jair Bolsonaro, que usa a questão econômica como principal argumento contra a quarentena. "Esse é um debate feito entre o Ministério da Economia e o governo, o nosso papel é pegar as variáveis nas decisões que foram tomadas e trabalhar com elas", disse.