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Túnel de ovos de Páscoa vai encalhar? Consumidor deve ficar só no básico

Thâmara Kaoru

Do UOL, em São Paulo

05/04/2020 04h00

O novo coronavírus deve mudar as comemorações de Páscoa desde ano, que acontece no próximo domingo, dia 12. Especialistas afirmam que as incertezas em relação a emprego e renda, e até sobre o avanço da covid-19, devem fazer com que o almoço de Páscoa seja mais restrito e com menos produtos típicos à mesa.

André Braz, coordenador do IPC do FGV Ibre, diz que as comemorações deverão ficar limitadas ao núcleo familiar ou pessoas que moram na mesma casa para evitar riscos de transmissão do vírus. Ele afirma também que as pessoas devem gastar menos com itens comemorativos.

Menos ovo, vinho e bacalhau

"Não vejo espaço para comprometer um orçamento restrito com compras especiais. A demanda por produtos de Páscoa pode recuar bastante. Vai ser um impacto nada desprezível. Isso deve afetar não só a cereja da Páscoa, que é o ovo, mas itens que fazem parte da comemoração, como vinho, azeite e bacalhau. Até para quem pode comprar, esses itens vão ficar mais caros porque, em geral, são importados."

Para ele, os consumidores devem priorizar itens básicos da cesta. "Boa parte da população está com orçamento comprometido. Apesar de ser uma comemoração importante, a pessoa tem que priorizar produtos básicos."

Sem encontro de família

Para Marcos Antônio de Andrade, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o comércio, setor de alimentos e indústrias de chocolates deverão ter crescimento inferior ao esperado para o período.

"Não se sabe exatamente o número disso, mas que vai ser inferior, vai. Existe uma campanha para não sair de casa. Muita gente está ficando sem renda. Ovo de Páscoa não é uma necessidade básica. A própria situação econômica vai fazer com que esses itens fiquem de lado. Vai ser uma Páscoa atípica, sem encontro de família."

Empresas podem fazer promoções

Ele afirma que uma das dificuldades em saber o impacto do coronavírus nas vendas de produtos típicos acontece porque os brasileiros ainda não estão à procura dos itens de Páscoa.

"O brasileiro tem uma característica peculiar que é deixar para fazer as compras mais ou menos em cima da hora. Eu entendo que 80% do que seria consumido de ovos de Páscoa ou produtos direcionados para essa data ainda não foram comprados. E a expectativa de consumo disso é uma interrogação."

Segundo o especialista, para ter algum retorno, as empresas podem acabar fazendo promoções. "As empresas que investiram no setor terão um estoque, e devem ocorrer liquidações para que prejuízos sejam minimizados."

Trabalhadores informais também serão afetados

Andrade afirma que a perda com a Páscoa não será limitada às grandes empresas, mas também afetará o trabalho temporário da época e os trabalhadores informais que apostavam na venda de ovos.

"Para essa época do ano, existem investimentos, inclusive dos trabalhadores informais, que vendem ovos nesse período. Todos serão impactados."

Associação avalia impacto

A Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas) informou que ainda está avaliando a situação.

"A indústria está preocupada com a segurança e a saúde dos consumidores, por isso, entende que todos devem seguir as recomendações das autoridades públicas. A prioridade, neste momento, é a saúde e a segurança da população", informou a associação em nota.

Lacta investiu no online

A Lacta afirmou que ainda está avaliando os potenciais impactos no negócio e que para a Páscoa, além do varejo tradicional, investiu em plataformas digitais de entrega e loja online.

"Com o cenário atual, intensificamos os esforços nas lojas online para atender os consumidores que estão em casa, tanto com ovos, como com a linha regular. Reforçamos o nosso compromisso de manter a magia da data para ajudar a trazer um pouco de alegria neste momento sensível, entregando os produtos de maneira segura."

Nestlé e Garoto não estimam impacto

Nestlé e Garoto informaram que "é muito cedo para quantificar o impacto nos negócios" como um todo, e com a Páscoa não é diferente.

"Esta é uma data importante para o varejo brasileiro, e os pontos de venda já haviam sido abastecidos anteriormente. Estamos dedicando nossos esforços para garantir sempre o abastecimento de alimentos e bebidas em todo o país, nas diferentes categorias onde atuamos, trabalhando em estreita colaboração com nossos parceiros das cadeias de fornecimento, distribuição e varejo."

Cacau Show com delivery

A Cacau Show informou que tem comitês de gestão estratégica de crise para as tomadas de decisão, e monitora a situação de cada estado, "para que, assim que essa fase passar, possamos operar com normalidade, recuperando a atividade e saúde do nosso negócio, que possui mais de 10 mil famílias diretamente ligadas".

A Cacau Show afirmou que os consumidores podem fazer compras no site da empresa ou, nas capitais, pedir os produtos usando aplicativo de delivery.

Para Natália José, da área de marketing da Lindt no Brasil, mesmo que em pequenos núcleos, famílias vão celebrar a data e presentear.

Lindt tem entrega pela 1ª vez

"Entendemos o momento que o mundo está vivendo e sabemos que uma crise como essa impacta todos os tipos de negócio. Na Lindt, estamos trabalhando muito para manter as vendas e buscar bons resultados."

Ela afirma que pela primeira vez eles terão vendas por meio de aplicativo de delivery. Também estão estudando outros canais de vendas, como um e-commerce.

A Kopenhagen não comentou.

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