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Mães erram cadastro e ficam sem os R$ 1.200 para comida de filhos e aluguel

Thâmara Kaoru

Do UOL, em São Paulo

20/04/2020 04h00

Uma cabeleireira não tem dinheiro para pagar o aluguel do fim do mês e está racionando a comida dos filhos. Uma costureira teve que vender o celular da filha para pagar contas e comprar comida. Uma vendedora de lanches está recebendo ajuda de amigos e igreja para ter o que comer. Todas pediram o auxílio emergencial do governo federal por causa do novo coronavírus, mas preencheram o cadastro errado, e agora estão sem saber se vão mesmo receber o dinheiro.

O cadastro de trabalhadores informais deve ser feito no site e aplicativo da Caixa. A costureira Patrícia dos Santos, 40 anos, fez o cadastro na quinta-feira da semana passada. Moram com ela uma filha de nove anos e um filho de 12 anos. Ao preencher o cadastro no site da Caixa, ela afirma que não entendeu que teria que incluir os dados dos filhos.

Patrícia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Patrícia Santos errou no cadastro do auxílio emergencial do governo
Imagem: Arquivo pessoal
"Na minha opinião, o aplicativo está confuso. Ele pergunta quantas pessoas no imóvel tem CPF. Minha filha não tem. Não estava claro que eu tinha que colocar os dados dos meus filhos menores de idade. Então, acabei não colocando."

Ela afirma que percebeu o erro dois dias depois. Tentou resolver pelo site da Caixa, mas não conseguiu. Chegou até a tentar arrumar o cadastro em um Cras (Centro de Referência de Assistência Social), mas também não teve sucesso.

Segundo Patrícia, o site diz que o pedido dela está em análise. Por morar sozinha com os filhos, ela teria direito a R$ 1.200. "Mas se conseguisse receber os R$ 600 já estaria feliz."

Ela afirma que está sem gás em casa e até vendeu o celular da filha mais nova para conseguir pagar as contas. "Se esperar por isso [liberação do dinheiro], nós vamos morrer de fome."

Cabeleireira tem medo de não conseguir pagar aluguel

Paula - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Paula Meirie André não incluiu dados dos filhos no cadastro do auxílio de R$ 600
Imagem: Arquivo Pessoal
A cabeleireira e manicure Paula Meirie André, 39 anos, cometeu o mesmo erro de Patrícia. Ela afirma que preencheu o cadastro no site da Caixa no primeiro dia em que foi disponibilizado e não entendeu que teria que informar os dados dos demais membros da família. Ela mora com os três filhos, uma bebê de sete meses e dois meninos, um de cinco anos e outro de 12 anos.

"Eles perguntam quem tem CPF na casa. Tenho o meu, mas esqueci de colocar os dados deles. Quando percebi, não dava mais para voltar para corrigir." Ela tentou refazer o cadastro, mas diz que o site informa que o CPF já está cadastrado e que o pedido está em análise.

Sem o auxílio, ela afirma que teme não conseguir pagar o aluguel. "Estou juntando o que dá para pagar o aluguel. Esse mês já não tenho. Nem sei o que fazer. O meu medo é se começarem a cobrar juros. Aí acumula com as outras contas. Não sei como vai ser."

A comida das crianças também está mais restrita. Segundo ela, a bebê de sete meses que tomava fórmula infantil, por exemplo, agora passou a tomar leite de vaca diluído na água. "As crianças estão em casa. Eles querem comer. Eu fico desesperada por causa da alimentação deles. Como não tenho família no bairro, algumas pessoas que me conhecem acabam trazendo uma coisa ou outra para mim. Eles não estão passando fome, mas estou controlando a comida."

Por sustentar o lar sozinha, ela também teria direito a R$ 1.200 de auxílio.

Vendedora recebe ajuda da igreja

Laudicéia Gonzaga, 50 anos, vendia lanches nas ruas de Maceió, em Alagoas. Com a quarentena, não pode mais trabalhar. Quando soube que o cadastro do auxílio emergencial estava liberado, ela disse que pediu para uma vizinha preencher seus dados. A vizinha, porém, informou no cadastro que Laudicéia morava com o marido, mas ela mora sozinha.

A vendedora afirma que tentou corrigir o cadastro nesta semana, mas não conseguiu. Tentou também a correção em uma agência da Caixa e foi informada de que não havia dinheiro liberado para ela por enquanto. No site, ela diz que o pedido dela está em análise.

Enquanto o dinheiro não sai, ela afirma que está vivendo de ajuda. "Recebo a ajuda de um e de outro, mas principalmente da minha igreja, que dá cesta básica. Com os R$ 600, pelo menos conseguiria comprar alguma coisa para comer e não depender de ninguém."

Caixa diz que será possível corrigir dados

A Caixa afirmou que será possível corrigir os dados cadastrais pelo site e pelo aplicativo, mas será preciso esperar o fim da primeira análise.

O prazo da Caixa para avaliar o pedido é de cinco dias úteis após o envio do cadastro. Se o benefício for aprovado, o dinheiro cai na conta em até três dias úteis depois da resposta. Antes, o banco havia informado que não seria possível fazer a correção.