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Governo ajuda grandes empresários e complica pequenos e médios, diz Dilma

Ex-presidente Dilma Rousseff criticou condução econômica do governo durante a pandemia - Reprodução
Ex-presidente Dilma Rousseff criticou condução econômica do governo durante a pandemia Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

08/05/2020 20h28

A ex-presidente Dilma Rousseff criticou hoje a atuação do governo no socorro da economia durante a pandemia do novo coronavírus. Em live realizada pela Fundação Perseu Abramo, a petista disse que a administração de Jair Bolsonaro tem pesos e medidas diferentes para lidar com grandes empresários, em relação ao tratamento dado aos pequenos e médios.

Dilma citou o encontro de Bolsonaro com empresários e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, ocorrido nesta semana. A ex-presidente disse que se chocou com os pedidos de líderes das associações empresariais para o relaxamento do isolamento social em um momento no qual os casos e mortes confirmadas por covid-19 estão aumentando no Brasil.

"Porque os grandes empresários brasileiros tinham sido já atendidos de forma generosa pelo governo Bolsonaro. Ao contrário dos pequenos, micros e médios empresários. Eles já tinham recebido R$ 1,2 trilhão. Que foram dados aos bancos para fazer aquilo que os bancos devem fazer, emprestar para as empresas. Ao mesmo tempo receberam R$ 670 bilhões que era para conceder empréstimos para lastrear as letras, operações, enfim. Eles tinham recursos. Se supõe que ele tenham recursos em torno de R$ 2 trilhões. Quem não tem recursos são os micros, pequenos e médios. Não têm recursos para enfrentar a crise. Até porque todas as exigências colocadas são muito similares àquelas colocadas quando se trata dos R$ 600 que as pessoas têm a receber", afirmou Dilma.

A petista também fez críticas à falta de condições impostas para a ajuda do governo aos grandes empresários nos pacotes aprovados no começo da pandemia no país. Para Dilma, o Congresso deveria ter incluído obrigações ou retribuições ao estado pelo dinheiro investido.

"Eu não tenho nada contra que se dê recursos para as grandes empresas e os bancos, desde que se condicione. O Senado tinha condicionado a manter empregos, a Câmara tirou. Você poderia exigir que se dessem como contrapartida ações de suas empresas, como aconteceu nos EUA quando o governo Obama, ao emprestar dinheiro para a GM, recebeu ações em troca. Mas o fato que se constata primeiro nessa relação governo-empresários, é que os grandes empresários são mais contemplados pelo governo do senhor Bolsonaro e do senhor Paulo Guedes. Os pequenos, junto com o povo trabalhador, têm exigências labirínticas, intermináveis e burocráticas para salvar empregos, considerando que os pequenos, micro e médios empresários são os que mais empregam", afirmou a petista.

Dilma ainda considerou a aparição de Bolsonaro com os empresários no STF, fora da agenda, como um elemento de pressão do presidente. "A ida até o Supremo dá a entender que houve um constrangimento dos empresários e do Supremo. O Supremo levou um chapéu, uma passada por cima absolutamente desrespeitosa e inadequada na relação entre Executivo e Judiciário", disse.

A ex-presidente também comentou o discurso governista de exigir redução nos salários do funcionalismo público para socorrer os estados em meio à crise. Dilma apontou novamente diferença de tratamentos no caso.

"O pacto neoliberal é sobretudo a visão de que o privado tem absoluta autonomia mesmo quando a vida está em risco, e isso é inadmissível. A outra questão que a gente tem que considerar e deriva daí, é esta coisa estarrecedora sobre a redução dos salários do funcionalismo estadual para poder emprestar recursos. Veja o tratamento diferenciado. No caso dos bancos, que chegou a quase R$ 2 trilhões, você não pede garantia nenhuma, e ali está o grosso do que está sendo gasto. Dos governadores, um recurso muito menor, você exige redução de salários dos funcionários", afirmou.

"Não que os funcionários públicos não tenham que dar sua contribuição. Mas os pesos e as medidas são completamente desequilibrados. Não se pede das empresas o que você pede dos funcionários", complementou Dilma.

A frase usada no encontro no Supremo sobre "mortes de CNPJs" também foi criticada pela petista. "CPF é a vida que nós temos obrigação de apoiar, de acolher, de proteger e impedir que morra e adoeça. CNPJ a gente tem obrigação de salvar quando se trata do seu país, mas não se mede uma coisa com a outra. Sinto informar para o industrial que CPF, diante da crise, da vida, da economia, da política, tem prioridade. Caso o CPF não tenha prioridade, CNPJ não terá nenhuma prioridade. Esse é o grande equívoco, esse é o grande erro", concluiu.