Dono de café relata crise e apela a governo para salvar pequenos negócios
O governo anunciou medidas para ajudar pequenos empresários impactados pela pandemia de coronavírus, como a possibilidade de suspensão do contratos de trabalho dos funcionários, redução temporária de salários e jornadas, e também uma linha de crédito emergencial para ajudar a pagar a folha. Para alguns, porém, essas medidas não têm sido suficientes.
É o caso de Vitor Sapolnik, 55, dono da Caffè Latte, cafeteria com três unidades em São Paulo, que publicou um texto em redes sociais contando sobre a dificuldade para conseguir crédito no mercado e fazendo um apelo emocionado por ajuda do governo.
"Façam alguma coisa para salvar os negócios, os empregos e a economia. Precisamos de crédito a juros baixos, com carência, a prazos longos, lastreados por um fundo garantidor do governo", escreveu.
Em entrevista ao UOL, ele falou sobre esses problemas. Confira abaixo os principais trechos do relato.
Café como vocação
"Eu era da área de TI (tecnologia da informação) e montei o café há 15 anos, perto da Bolsa de Valores, no centro antigo de São Paulo. Fui atrás um pouco dessa onda de cafeterias modernas, da revitalização do centro. Vi o café como uma vocação, ter um negócio próprio, fazer uma coisa de que gosto.
O café virou um point do centro. Na verdade, não sou tão pequeno, mas caio nessa categoria de pequeno empresário. Tenho três cafeterias. Uma delas inaugurei em fevereiro, é um conceito mais moderno, de loja pocket, um espaço menor e com menu reduzido.
A gente tentou inovar, fazer um modelo novo. Montei esperando a retomada da economia, me descapitalizei um pouco. Sempre fui um cara muito conservador com finanças.
Renda da minha família vem do café
Mas aí veio a pandemia. Ainda tinha capital de giro. Consegui pagar tudo, mas estamos completamente parados. Com a possibilidade de suspensão do contrato de trabalho, demos uma hibernada. O que o governo fez com a folha de pagamentos ajudou muito, sem dúvida. Só fico pagando contas.
A renda da minha família vem do café. A minha esposa é arquiteta, ela tem uma pequena renda. É o meu trabalho, eu não sou um investidor em pequenas empresas. Minha renda é aquilo lá.
Estamos esperando voltar para nos reinventarmos, funcionar do jeito que der: tentar fazer delivery, tentar online. Eventualmente, adequar o tamanho, também. Isso significa número de pessoas, número de unidades. Acho que este ano de 2020 será muito difícil pela frente.
É preciso crédito mais acessível
Mas, para reabrir, preciso de capital. E aí que é o ponto: os bancos não suprem isso. Minha ideia não é bater em banco. Criticar banco é chutar cachorro morto. É fácil, todo mundo bate em banco. E um pouco é isso mesmo. Mas o problema é o governo. Se o governo viesse por trás, dando garantia, um fundo garantidor, os bancos podiam fazer os empréstimos. O banco tem medo de perder dinheiro.
Estou correndo atrás. No banco com o qual trabalho, fui nas linhas de crédito. Até me ofereceram. Mas os juros são altos e pedem garantia. Em quase todos é a mesma coisa. Mesmo em bancos públicos, é a mesma coisa.
O crédito serviria para eu manter o negócio, retomar capital de giro para poder fazer compras, pagar fornecedores, pagar as próximas folhas, pagar os próximos aluguéis e botar o negócio para andar.
A minha luta é por alguma coisa subsidiada pelo governo. Faço uma analogia: nem seguradora suíça paga o risco da pandemia, não é justo que o pequeno empresário pague isso. Tem que ser assim, não adianta. Se não, você empurra com a barriga e termina endividado.
Não penso em fechar
Não penso em fechar o café. Eu acredito que vou conseguir manter os cafés abertos. Essa foi até uma preocupação que tive no meu relato. De não passar a mensagem: 'Estou à beira da falência e vou fechar'. Não é isso.
É uma reclamação realmente para o governo e para os bancos, que eles têm que dar crédito para os pequenos negócios. Mas muita gente está realmente arriscada a fechar as portas e falir.
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