Dólar alto também tem lado bom, mas o lado ruim está ganhando no Brasil
Resumo da notícia
- Real é terceira moeda que mais se desvalorizou contra o dólar em 2020 numa lista de 121 países
- Moeda brasileira fraca provoca inflação e reduz poder de compra das famílias
- Real fraco pode estimular exportações e atrair investimento estrangeiro
- Mas incertezas com relação à dívida pública preocupam investidores, dizem analistas
Quando o real se desvaloriza muito em relação ao dólar, como é o caso atualmente, há vantagens e desvantagens, dizem economistas. As exportações saem ganhando, mas o brasileiro viaja menos para o exterior e a inflação aqui no país pode acelerar, por exemplo. O problema, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, é que o lado ruim está ganhando.
Economistas dizem que isso acontece por causa dos fatores por trás desse ciclo. Há uma preocupação de investidores e empresários locais e estrangeiros com relação à dívida pública, que está crescendo, e com a política econômica que o governo vai usar para enfrentar esse problema. Essa incerteza está travando a capacidade de o Brasil aproveitar os benefícios do dólar valorizado.
Temos um beneficiário pontual hoje com o dólar valorizado, que é o setor do agronegócio, mas há um monte de malefícios que está afetando a economia brasileira.
Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora
Desvantagens do dólar alto
- Inflação mais alta: Produtos importados ou que tenham cotação em dólar estão ficando mais caros. Isso afeta matérias-primas e insumos usados pela indústria, que precisa repassar os valores aos produtos finais vendidos no país. É o caso, por exemplo, do trigo, do milho, da soja e da carne - cotados no mercado internacional -, ou de componentes de eletroeletrônicos.
- Menor poder de compra das famílias: Esses produtos ficam mais caros e estão provocando a alta do IGP-M, um índice de inflação que mede preços no atacado. Como o IGP-M é usado para corrigir diversos contratos, como aluguéis, escolas e de consumo, a alta dele já afeta o IPCA, a inflação da vida diária das famílias.
- Menos turismo internacional: Com o dólar alto, viajar ao exterior fica mais caro para as famílias brasileiras. O mesmo acontece com programas de estudos e intercâmbios para quem busca formação e aprimoramento fora do Brasil.
- Menor previsibilidade para investir: Quando o dólar sobe muito rapidamente e passa a apresentar comportamento instável, como está acontecendo no mercado brasileiro, empresários e investidores perdem poder de projetar o comportamento da economia. Por isso, preferem segurar investimentos. Isso explica o baixo nível de investimento este ano ante o PIB.
- Percepção de risco: A menor capacidade de previsão entre empresários e investidores se converte em menor confiança no país e piora a percepção de risco da economia brasileira. Isso encarece as taxas pagas por empresas, bancos e do governo brasileiros na hora de tomar dinheiro emprestado lá fora.
Vantagens do dólar alto
- Exportações: Quando o dólar sobe ante o real, os produtos do Brasil ficam mais baratos no exterior e os produtores brasileiros podem ganhar mercado.
- Competitividade: Com moeda local mais barata, Brasil pode compensar custos mais elevados que existem no país, provocados, por exemplo, por fatores como carga tributária mais elevada que em países concorrentes,
- Atração de investimentos: Dólar forte e real fraco tornam os ativos brasileiros - como empresas ou ações - mais atraentes para estrangeiros. Isso pode atrair dinheiro para a Bolsa e para programas de privatização e novos projetos privados, por exemplo. Mas incertezas preocupam investidores
Segundo Sidnei Nehme, da NGO Corretora, quando o dólar começou a subir, em 2019, o governo até deixou esse movimento porque queria estimular as exportações e atrair capital privado para o programa de privatização. "Mas não aconteceu o que se esperava. O programa de privatização não saiu, na Bolsa os estrangeiros não vieram, e o setor privado brasileiro não reagiu como se esperava. Apenas o agronegócio se beneficiou até agora", disse.
Dúvidas provocam volatilidade
O economista Roberto Troster, pós-graduado em banking pela Stonier School of Banking e ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos, diz que o maior problema do câmbio hoje é a incerteza dos agentes econômicos. Ele aponta que a cotação da moeda americana no Brasil depende muito mais dos negócios no mercado futuro - onde investidores, empresas e instituições financeiras fazem contratos de proteção - do que da quantidade de dinheiro físico.
O problema hoje não é o dólar ser alto ou não, mas sim a volatilidade. Olhando apenas os fundamentos, o quanto está entrando e saindo de moeda estrangeira, o real já poderia estar se recuperando.
Roberto Troster, Troster & Associados
Volatilidade dificulta planejamento dos agentes econômicos, elevando as incertezas, afetando os níveis de investimentos privados.
Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais
O risco fiscal é o principal motivo do dólar valorizado. A maior parte dos fundos de investimento veem para o Brasil por casa da taxa de juros. Como hoje há mais incertezas, eles querem um prêmio maior. Mas com juros baixos, esse ajuste tem que ser feito pelo câmbio.
Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos
Um real mais desvalorizado em tese incentiva as exportações e encarece as importações, o que abriria espaço para a produção local. No entanto, taxa de cambio competitiva é uma condição necessária, porem não suficiente para a competitividade, que depende também do custo do capital. Os juros ao tomador final ainda estão elevados, apesar da Selic baixa e todo o custo Brasil.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor-doutor e diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais da PUC/SP
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.