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AliExpress aposta em frete e atendimento para bombar 'Black Friday' chinesa

Yan Di, diretor-geral do AliExpress no Brasil - Divulgação
Yan Di, diretor-geral do AliExpress no Brasil Imagem: Divulgação

Maria Carolina Abe

Do UOL, em São Paulo

11/11/2020 04h00

O 11 de Novembro (11.11), Dia do Solteiro, é a maior data para o comércio na China, uma espécie de "Black Friday" do país. O site chinês AliExpress tenta importar o modelo para o Brasil. Além das promoções (com promessa de descontos de até 70%), que já ocorreram no ano passado, para este ano a empresa aposta em ações com famosos, como Gracyanne Barbosa, e promete entregas mais rápidas (com três voos fretados por semana), frete grátis, pagamento parcelado e atendimento em português. Além disso, vai investir na Black Friday oficial (dia 27) e no Natal.

A empresa não revela números, mas diz que o Brasil é seu maior mercado na América Latina e um dos cinco maiores mercados globais. Yan Di, diretor-geral do AliExpress no Brasil, conversou com o UOL por email. Veja os principais trechos da entrevista abaixo.

UOL - Que investimentos foram feitos para a nova versão do 11.11 no Brasil?

Yan Di - O festival 11.11 integra, pela primeira vez no Brasil, nossas promoções e ofertas com diversão e entretenimento. Em comemoração aos 11 anos do lançamento do AliExpress para os consumidores brasileiros, buscamos adaptar nossa cultura original aos gostos locais. Criamos uma mistura entre o festival de ofertas e características do entretenimento local e, por isso, estamos promovendo ações com celebridades brasileiras como a musa fitness Gracyane Barbosa, youtubers como Rezende e Dani Russo, além de ações com Marcos Mion, apresentador do programa A Fazenda, reality show do qual fazemos parte e contribuímos com parte do conteúdo exibido.

Além disso, no decorrer de 2020 implementamos melhorias sensíveis em nosso serviço para os brasileiros, como três voos fretados semanais, para diminuir o tempo de entrega; serviço de atendimento ao consumidor em português; devolução de produtos em um endereço no Brasil; novas formas de pagamento parcelado; e a inclusão de mais itens no modelo de frete grátis.

O Brasil já um mercado prioritário para a empresa? Quanto cresceu o investimento em marketing para a data no país neste ano?

O Brasil é o maior mercado da América Latina e já é um dos cinco maiores consumidores globais de produtos em nossa plataforma. Para o festival 11.11, contratamos uma das maiores agências de publicidade do Brasil, a FCB, e fizemos investimentos em ações online (influenciadores) e offline (reality show A Fazenda). Isto representou o maior investimento recente do AliExpress no Brasil.

Quais os números esperados para o 11.11 no Brasil?

Nós não divulgamos expectativas de vendas em nenhum mercado ou mesmo as individualizadas por país. Nosso principal indicador de sucesso é a experiência de compra que conseguimos entregar para o usuário e, neste sentido, estamos melhor posicionados do que nunca para atender aos brasileiros.

Com a aposta no 11.11, a empresa vai também investir na Black Friday?

Sim, certamente. O AliExpress, como faz todos os anos, também participará da Black Friday no Brasil com descontos especiais, bem como organizará uma campanha voltada para as compras de Natal, a principal data comercial para os brasileiros.

Outras empresas, como as Americanas, já estão usando a data 11.11 para promoções. Isto é positivo para vocês?

O Alibaba sempre teve um perfil vanguardista e lança tendências que acabam sendo implementadas também por outros varejistas. A adesão de outros players ao 11.11 é um sinal positivo e saudável para o mercado, que vemos com naturalidade. Se levarmos em conta que a participação do e-commerce no bolo total do varejo brasileiro ainda é de apenas 5,3%, vemos que há um grande espaço de desenvolvimento para vendas digitais, de forma que incentivamos toda a indústria a aderir a esta nova data, que além de reunir ofertas, traz elementos de cultura e diversão para o consumidor brasileiro.

Quais os produtos mais procurados pelos brasileiros que entram no site?

Produtos eletrônicos, como smartphones, fones de ouvido e relógios inteligentes, por exemplo, são uma categoria muito popular no Brasil. Produtos para mãe e filhos, como roupas para bebês, brinquedos e itens de enxoval também vendem em grande volume.

Quais as semelhanças entre o consumidor brasileiro e o chinês?

Ambos são apaixonados por tecnologia, gostam de recursos que os ajudem a ganhar tempo e comodidade, são consumidores exigentes e são muito empreendedores.

Aqui no Brasil, por exemplo, temos muitos empreendedores que compram os produtos em grande volume para revender e ter seu próprio negócio sem sair de casa. Para atender a este público e outros consumidores em geral, estreamos este ano um contact center, em que clientes podem conversar com atendentes em língua portuguesa.

Quais as dificuldades encontradas para a operação no Brasil? Sistema de entregas, burocracia, sistema tributário?

Em um país de dimensões continentais como o Brasil e distante de centros produtores, como a China, certamente as entregas são um item desafiador. Por isto, a Cainiao, braço de logística do Alibaba Group, passou a fretar três voos para o Brasil semanalmente. Os voos conectam nossos principais centros de logística no mundo ao Brasil e são a forma mais confiável de garantirmos o transporte de mercadorias e prazos de entrega. Uma vez dentro do Brasil, nossos produtos são entregues por parceiros logísticos, como os Correios.

Outros desafios são colaborar para ampliar a penetração do e-commerce no Brasil, contribuindo para que a participação do varejo online do Brasil se aproxime dos mesmos níveis encontrados nas regiões mais desenvolvidas do mundo.

O governo brasileiro estuda privatizar os Correios. A empresa teria interesse em participar de uma disputa?

Nós não podemos comentar especulações de mercado a respeito de privatizações, vendas e aquisições. Mas, como uma das grandes empresas de e-commerce atuando no Brasil, sempre observamos com atenção estes movimentos de mercado.

Qual foi o impacto da pandemia nas operações e resultados do AliExpress?

É inegável que, em 2020, a pandemia gerou mudanças claras no perfil de compras de nossos usuários. Desde abril, quando começou o fechamento do comércio em muitas cidades do Brasil, até o final de agosto, itens relacionados à casa e jardim, eletrodomésticos e aparelhos de ginástica tiveram uma alta acima de 130% em vendas, o que demonstra que as pessoas buscaram mais conforto para suas casas no período de quarentena.

Também itens relacionados ao trabalho remoto registraram uma explosão em vendas, como mesas e cadeiras de trabalho, microfones, mouses e teclados. A categoria mais impressionante foi de venda de webcams, que foi 38 vezes maior neste período que em igual espaço de tempo de 2019.

A previsão para 2020, de toda forma, é que o varejo total brasileiro (soma das vendas online e offline) caia entre 5% e 10%, dependendo do instituto que faz a projeção. Mas, quando olhamos apenas as vendas online, notamos, pelos dados do 1º semestre de 2020, que elas cresceram 47% em volume transacionado (GMV, Gross Merchandise Value), quando comparadas a igual período de 2019. Ou seja, para as empresas digitais, como nós, o cenário é positivo. Parte desta alteração nos números deve-se à pandemia, já que as pessoas passam mais tempo em casa, navegando online, e preferem fazer compras digitais, pois se sentem mais seguras.

Quais as expectativas para 2021?

Com o fortalecimento da economia do mundo e do Brasil no pós-pandemia e a recuperação na renda das famílias, a tendência é de maior expansão do varejo online como um todo, em 2021 e 2022.

Para os próximos dois anos também prevemos a ascensão de um novo modelo de vendas baseadas em transmissões ao vivo, o live commerce. Na China, país que possui maior maturidade no uso deste método de vendas, a modalidade deve fechar 2020 transacionando US$ 155 bilhões e envolvendo 10% dos consumidores do país. Para 2021, a expectativa dos analistas é de que 20% dos chineses façam compras via live commerce, o que deve dobrar também o montante transacionado por este método. Guardadas as diferenças de tamanho entre os dois mercados, é natural que esta tendência se replique em outros países, como o Brasil.