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Comprar um imóvel será mais caro em 2021, com dólar alto e maior procura

Casa própria: preços de imóveis podem subir de 5% a 10% em 2021 - Getty Images/iStockphoto/Zephyr18
Casa própria: preços de imóveis podem subir de 5% a 10% em 2021 Imagem: Getty Images/iStockphoto/Zephyr18

Daniele Madureira

Colaboração para o UOL, de São Paulo

19/03/2021 04h00

Comprar a casa própria pode ficar entre 5% e 10% mais caro neste ano em relação a 2020, prevê a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Os preços podem subir no segundo semestre, puxados pelo aumento na taxa básica de juros (Selic) e do custo do material de construção e pela alta procura por imóveis, que já vem desde o ano passado.

Nesta semana, o Banco Central subiu a Selic de 2% para 2,75%, sinalizando novos aumentos à frente. Como a taxa é uma referência para a economia, a tendência é outras taxas de juros também subirem.

Dólar alto encarece material de construção

O custo da construção civil é afetado pela disparada do dólar, hoje na casa dos R$ 5,60, que influencia o preço de matérias-primas como resinas de PVC, alumínio e cobre.

Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária da CBIC, afirma que a inflação da construção civil costuma acompanhar a inflação oficial, o IPCA. "Mas agora está fora de controle", disse.

O IPCA acumula alta de 5,2% nos últimos 12 meses, enquanto o INCC, que mede os custos da construção, beira os 11%.

Brasileiros reformam mais a casa na quarentena

Desde o ano passado, houve também aumento súbito da demanda por itens de construção.

"Muita gente que recebeu o auxílio emergencial e estava em casa decidiu investir na reforma do imóvel", diz Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo).

Ele diz que também afetou o mercado o fato de muitos fornecedores de matérias-primas terem quebrado entre 2014 e 2017, período de crise da construção civil. "Com aumento da demanda e menos produto em estoque, o preço sobe", afirmou.

Busca da casa própria também cresce

No ano passado, cresceu a procura por imóveis com mais de 50 metros quadrados. Em contrapartida, houve queda na busca por apartamentos e casas menores que isso, tanto no aluguel quanto na compra. Os dados são de levantamento feito pelo DataZAP para o UOL.

"Isso já é um efeito da pandemia: as pessoas buscaram imóveis maiores e, especialmente, para compra", diz Edivaldo Constantino, economista do DataZap, braço de inteligência imobiliária do grupo Zap+, que reúne os portais Zap Imóveis e Viva Real.

Para Constantino, a busca pela casa própria deve se manter aquecida, apesar de diversos sinais negativos. Entre eles, a perspectiva de aumento maior da taxa Selic neste ano, o que impacta as taxas de financiamento imobiliário, o agravamento da crise com aumento do desemprego e queda da renda das famílias, e mesmo com a contínua pressão sobre o preço dos insumos da construção civil.

De acordo com o último levantamento FipeZap, divulgado na terça-feira (16), no acumulado dos últimos 12 meses, houve um aumento de 3,99% no preço dos imóveis, enquanto no aluguel o reajuste foi de 2,03%.

Famílias mais pobres ficaram com menos opções

Petrucci, da CBIC, afirma que as realidades do mercado imobiliário são diferentes conforme as famílias. "O peso do INCC sobre o preço final de um imóvel no Itaim Bibi [bairro nobre da capital paulista] varia de 3,5% a 4%", diz ele. "Já para um imóvel do programa Casa Verde Amarela [mais popular] vai de 5,5% a 6%".

Antevendo o atual cenário, muitas construtoras começaram a antecipar obras do programa governamental no ano passado, diz o executivo, e algumas deixaram de atender às faixas mais baixas do programa.

A Direcional, por exemplo, suspendeu os lançamentos da faixa 1 (a mais popular) do Casa Verde e Amarela neste ano. "Não temos condição de acompanhar o aumento do preço dos insumos e manter o orçamento da obra", diz o presidente da Direcional, Ricardo Ribeiro. "Um imóvel que custaria R$ 144 mil em São Paulo, por exemplo, hoje já custa R$ 155 mil".

Lançamentos mais caros

Uma saída encontrada pela construtora foi readequar projetos que seriam lançados neste ano na faixa 1 para a faixa 2 do programa (que é mais cara), para famílias com renda bruta até R$ 4.000. "Dentro desse projeto para a faixa 2, conseguimos incluir algumas unidades para a faixa 1", diz o executivo. Essa alternativa é possível em empreendimentos cujo terreno foi adquirido a preços mais competitivos, diz Ribeiro.

O CEO da Direcional fala de outro fator que pode aumentar o preço dos imóveis para a classe média, especialmente na capital paulista: mais empresas estão abrindo capital na Bolsa de Valores e, com isso, acumulando dinheiro em caixa para investir na compra de terrenos.

"Com mais capital disponível no mercado, por conta dos recentes IPOs, os empreendimentos na cidade agora têm que ser pagos em dinheiro -e não mais em permuta, como era o mais comum", afirma. "Não podemos reclamar da demanda, mas não há dúvida de que o preço dos imóveis terá que se adaptar à nova realidade."