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CEOs de empresas como Coca e Nike ganharam 300x mais que funcionários

Vinícius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/07/2021 18h23

A chegada da crise causada pelo coronavírus parece ter agravado ainda mais a desigualdade salarial entre a elite e os funcionários de dentro de uma mesma empresa. De acordo com um relatório divulgado nesta semana, os presidentes executivos (CEOs) ganharam, em média, 299 vezes o salário de um funcionário da empresa em 2020, nos Estados Unidos.

O levantamento anual chamado Executive Paywatch, feito pela Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO), tomou por base empresas do S&P 500, índice do mercado de ações que reúne as 500 maiores empresas listadas nos EUA, já que empresas de capital aberto são obrigadas a divulgar a relação de remuneração entre seu executivo-chefe e funcionários. Algumas empresas que fazem parte do índice são Apple, Coca-Cola, Starbucks, Nike, Microsoft, Amazon, Walt Disney, e Facebook, por exemplo.

O estudo mostrou que a crise e o aumento do desemprego contribuíram para aumentar essa distância entre as remunerações. Em 2020, os CEOs das empresas listadas no S&P 500 receberam, em média, US$ 15,5 milhões em remuneração total -uma alta de cerca de US$ 700 mil na comparação com 2019, enquanto que a média salarial de um trabalhador foi de US$ 43,5 mil em 2020, um aumento de US$ 957 por ano.

Os dados do banco apresentados na AFL-CIO Executive Paywatch são extraídos de declarações de procuração de empresas que são arquivadas na SEC, que regula o mercado acionário nos EUA. Segundo a organização, o banco de dados inclui dados de cerca de 3.000 empresas e o ano de remuneração representa o ano fiscal da empresa.

Além disso, a remuneração dos CEOs engloba não só o salário, mas também bônus, ganho em participação, planos de remunerações à parte e outras compensações, enquanto que a remuneração média dos funcionários é retirada da declaração emitida pelas empresas à SEC.

"A pandemia gerou uma maior concentração de renda. Trabalhos mais ligados ao mundo executivo não sofreram nenhuma parada no período e empresas médias e grandes caminharam para um processo de concentração, o que favorece o aumento do salário dos executivos. Se de um lado os trabalhadores de nível médio para baixo estão sofrendo com maior concorrência com o aumento do desemprego, os executivos conseguem capturar mais aumentos salariais", disse André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.

Mesmo antes da pandemia, o movimento já vinha ocorrendo, com menos força, há anos. Nos últimos dez anos, a remuneração média dos CEOs nos últimos dez anos cresceu US$ 2,6 milhões na última década, enquanto a dos trabalhadores ficou em US$ 9.000. "Dentro da empresa, essa diferença não é necessariamente ruim. Mas, do ponto de vista macro, um crescimento gerando concentração é como se fosse um castelo construído sobre palafitas, já que fomenta uma desigualdade mais ampla na sociedade", afirmou Perfeito.

De acordo com o estudo, os dados do índice de remuneração da empresa são importantes pois mostram quais empresas investem realmente em sua força de trabalho para criar empregos com bons salários.

Diferença chega a 6.000 vezes

Apesar de a média ser de 299 vezes, o salário de alguns CEOs é ainda maior do que o de um trabalhador comum. Segundo o levantamento, enquanto o trabalhador da empresa de moda Abercrombie & Fitch Co. ganhou, em média, US$ 18,20 no ano passado, o CEO da companhia recebeu US$ 11 milhões, ou seja, cerca de 6.500 vezes esse valor.

A segunda colocação nesse ranking de disparidade ficou com a empresa de autopeças Aptiv, que pagou ao CEO cerca de 5.300 vezes o salário de um trabalhador. Entre as 20 maiores discrepâncias, ainda estão a rede de hotéis Hilton, que paga ao CEO 1.953 vezes o que um trabalhador ganha no ano, e a Nike, que paga ao CEO 1.935 vezes.

De acordo com a AFL-CIO, já há, porém, diretrizes que poderão arrefecer as desigualdades de pagamento dentro das empresas, dando maiores condições de os funcionários se organizarem nos EUA. A aprovação da Lei de Proteção ao Direito de Organização (PRO) para dar aos trabalhadores liberdade para organizar um sindicato ajudará a restaurar o equilíbrio entre a remuneração dos CEOs e os trabalhadores, disse a organização.