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Produção de lúpulo no país salta 110%, com mercado de cervejas artesanais

Anuário da Cerveja aponta que existem 1.383 cervejarias registradas no país - Antonio Rodrigues
Anuário da Cerveja aponta que existem 1.383 cervejarias registradas no país Imagem: Antonio Rodrigues

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/08/2021 04h00

O aumento na produção de cervejas artesanais fez crescer também a produção de lúpulo no país neste ano. É o que mostra um levantamento da Associação Brasileira dos Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo). O lúpulo é uma das principais matérias-primas da cerveja.

Atualmente, 109 produtores cultivam 42 hectares de lúpulo, o que representa um crescimento de 110% em relação ao ano passado. O volume total produzido no Brasil foi de 24 toneladas em 2020, segundo o levantamento.

De acordo com a Aprolúpulo, o que incentivou a produção foi a demanda por lúpulo de maior qualidade. A produção de cerveja também cresceu e bateu os 14 bilhões de litro no ano passado, com 1.383 cervejarias registradas, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil).

Produção nacional é insuficiente

O lúpulo tem bastante importação porque a produção nacional não é suficiente. Dados da plataforma Comex Stat, do governo federal, mostram que, em 2020, o Brasil importou 3.2 mil toneladas de lúpulo, por US$ 57 milhões.

No campo, a produção se destaca em Santa Catarina, que é o estado que tem maior percentual de produtores de lúpulo: 27%, seguido por Rio Grande do Sul, 22% e São Paulo com 18%.

Em relação à área cultivada, Santa Catarina também ocupa o primeiro lugar, com um total de 12,105 hectares de lavouras de lúpulo.

Segundo Stéfano Gomes Kretzer , consultor do Ministério da Agricultura para o setor, o cultivo de lúpulo já conta com fazendas que têm produtividade e competitividade internacional.

"O cultivo de lúpulo brasileiro é hoje uma crescente realidade, com fazendas com produtividade e qualidade comercial competitiva com o lúpulo importado. A existência de uma produção brasileira pode baratear os custos das cervejarias no futuro."

Ele também disse que um diferencial será o uso de lúpulos frescos, recém-colhidos, e até mesmo a possibilidade de fazer produtos avançados, como extratos e óleos essenciais.

Brasil cervejeiro

O Brasil é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, atrás de China e Estados Unidos, segundo pesquisa publicada em 2020 pelo Barth-Haas Group.

De acordo com a CervBrasil, o setor representa 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), com faturamento de R$ 100 bilhões a ano e geração de 2,7 milhões de empregos. O lúpulo é responsável pelo aroma e amargor da bebida.

"A mudança no mercado cervejeiro do Brasil, com alteração de consumo para produtos de maior valor agregado e maior uso de matérias-primas, tende a pressionar mais o consumo de malte e de lúpulo. Proporcionalmente, essas cervejas utilizam muito mais lúpulo", explicou o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Mapa, Carlos Müller.

Cevada e malte

O lúpulo é uma cultura de alto valor agregado e não precisa de grandes extensões territoriais para ser cultivado. "Em áreas de 0,5 ou 1 hectare, o produtor já possui um bom retorno financeiro se comparado a outras culturas neste mesmo espaço de área", ressaltou Kretzer.

Outro insumo que compõe a cerveja é a cevada, matéria-prima do malte, principal fonte de açúcares fermentáveis, que confere corpo, cor, aromas e sabores para a bebida. Para que possa ser utilizado, o cereal passa por processamento para produção do malte cervejeiro.

Segundo a Embrapa Trigo, a produção de cevada em 2019, de 429,4 mil toneladas, foi recorde no Brasil. Em 2020, em função de problemas climáticos no Rio Grande do Sul, houve uma redução da área plantada. A pandemia de covid-19 também atrapalhou. A produção caiu para 374,4 mil toneladas. Em 2021, a expectativa é de recuperação, com produção esperada de 424,1 mil toneladas.

A procura por cevada também é cada vez maior, puxada pelo mercado cervejeiro. "A demanda tem aumentado. O Brasil importa em torno de 68% e produz cerca de 32% da demanda nacional", diz o pesquisador em Genética e Melhoramento (culturas anuais) da Embrapa Trigo, Aloísio Vilarinho.