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Cidade do Paraná larga o negócio de frangos e vira capital da acerola

Gilson Abreu/AEN
Imagem: Gilson Abreu/AEN

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/10/2021 04h00

Os antigos e tradicionais barracões de galinhas poedeiras e frangos que decoravam a paisagem da pequena cidade de Japurá, na região noroeste do Paraná, foram abaixo. Agora, o que se vê por toda a zona rural do município de quase 10 mil habitantes, são pomares, bem coloridos, de acerola, carregados na maior parte do ano. A fruta, que ganhou fama nos anos 1990 por muito rica em vitamina C, transformou a economia local, atraiu três agroindústrias para Japurá e agora, se prepara para encerrar o ano com a produção de quase 2 mil toneladas.

De acordo com estatísticas da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab/PR), pelo menos 80 produtores rurais japuraenses já cultivam acerola no município em cerca de 120 hectares. Em 2020, a cidade produziu 1.900 toneladas da fruta, metade da produção estadual, que foi de 3.681 toneladas. Agora, a meta é ultrapassar 2 mil toneladas e aumentar a produtividade, que já é acima da média nacional, e tornar Japurá, formalmente, "a capital brasileira da acerola".

Em Japurá, de acordo com a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Expansão Rural/PR), a média de produtividade gira em torno de 120 quilos por planta, enquanto no resto do Brasil, as médias atingem 80 quilos por planta. Atualmente, o país produz 60 mil toneladas de acerola ao ano e o grande volume da produção é originário da região Nordeste.

Adeus aos frangos

Em Japurá, ano a ano, os agricultores da região estão migrando da avicultura para a fruticultura. A produtora Iracema Dias Rodrigues cultiva 600 pés de acerola e contou que, por anos, pesquisou alternativas para a transição de atividades. "Estudei, pesquisei muito e achei que o mais viável para esta região era plantar acerola", disse. "Faz 15 anos que mexo com isso e não me arrependo". Segundo ela, em anos bons, a sua pequena produção chega a dar 50 toneladas ao ano.

Também pioneira na cidade, a produtora Márcia dos Santos Zani contou que foi em 2005 que ela e a família decidiram abandonar os frangos e as galinhas que criavam há anos para investir em pomares de acerola. "Marcamos um gol na nossa vida", disse ela. "Nosso antigo ganha-pão, que era a avicultura, foi totalmente asfixiada pelos limites da nossa pequena propriedade, o crescimento da área urbana de Japurá, que chegou à nossa porteira e então, abraçamos a acerola".

Seu companheiro, Mauro Zani, contou que, no auge da colheita, hoje em dia, chega a precisar contratar 13 pessoas para ajudar nas entregas diárias do sítio, que tem produtividade de 130 quilos por planta, uma média bem acima dos 80 quilos por planta no resto do estado. "Para quem planta acerola, não tem parada, não podemos ficar um dia sem colher a fruta", afirmou.

A produção de acerola na pequena cidade já atraiu pelo menos três indústrias de transformação da fruta em polpa e 90% da colheita tem compra garantida por elas.

Segundo Zani, ele chega a colher até 8 mil quilos da fruta por dia. "Não fossem esses grandes compradores, não conseguiríamos dar vazão para tanta fruta", afirmou.

Conforme Rogério Bessa, gerente industrial da Polpanorte, uma das empresas instaladas em Japurá, anualmente, são processadas 900 toneladas de acerola na unidade local e a polpa extraída das frutas é distribuída, tanto no mercado interno como também é exportada. "Movimentamos 150 produtores, a maioria da região, ligados à agricultura familiar. Isso resulta em uma geração de renda acima de R$ 1 milhão", disse.

Capital da acerola

Para tornar a cidade "a capital estadual da acerola", agora o governo vai investir em cultivos protegidos, contou Pamella Ghiseline Takase, secretária da Agricultura e do Meio Ambiente de Japurá. Segundo ela, até o final do ano, um grupo de 11 produtores de acerola vai iniciar o cultivo protegido em 970 metros quadrados de estufas. "Será um cultivo protegido, cuidando do sol, chuva e vento e isso vai fazer a produtividade aumentar consideravelmente", afirmou. Para viabilizar as estufas, o governo investiu R$ 280 mil.

O plano de aumentar a produtividade já sinaliza mais investimentos para Japurá, como a implantação de uma megacooperativa na região, que vai atender também a produção dos municípios vizinhos. "Ganharemos escala e capacidade de comercialização. Vai melhorar para quem planta acerola e carregar junto os demais produtos da região", dise o chefe do Escritório Regional da Seab para a região de Cianorte, Francisco Cascardo Neto.

A acerola, segundo ele, tem quatro floradas ao ano, entre os meses de setembro e maio e "pula" todo o período do inverno. Por isso, durante quase todo o ano, Japurá produz a fruta, o que levou a prefeita da cidade, Adriana Polizer, a incluir a produção agrícola da acerola em seus planos. Com o avanço da vacinação e a diminuição dos indicadores da pandemia, ela estuda fazer da fruta um atrativo. "Queremos voltar com o turismo rural e acerola não pode ser deixada de lado. A acerola está ajudando e fortalecendo a economia do nosso município", destacou.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Uma versão anterior deste texto informava incorretamente que a produtividade média de acerola no Paraná é de 80 toneladas por planta. Na verdade, é de 80 quilos por planta. A informação foi corrigida.