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Quase metade do café brasileiro sai de Minas, mas clima enfraquece produção

Plantação de café em Capelinha (MG); produção no estado foi 38% menor neste ano do que em 2020 - Montesanto Tavares/Divulgação
Plantação de café em Capelinha (MG); produção no estado foi 38% menor neste ano do que em 2020 Imagem: Montesanto Tavares/Divulgação

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/11/2021 04h00

Minas Gerais continua sendo o estado que mais produz café no Brasil e, nesta semana, encerrou a safra 2021 com a colheita de 21,5 milhões de sacas. Isso é 46% de todo o café do país. Mas em relação ao ano passado, reduziu 38%. As informações são da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de MInas Gerais (Seapa).

De acordo com a Seapa, nesta safra o café foi cultivado em pelo menos 451 cidades mineiras e ocupou uma área de 1,3 milhão de hectares. Em todo o Brasil, foram cultivados 1,81 milhão de hectares de cafezais, com variedades arábicas, em regiões de maior altitude, como Minas e São Paulo, e variedades do tipo conillon, em terras de menor altitude, como Espírito Santo, Bahia e Rondônia.

Segundo estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o segundo estado que mais plantou cafés nesta safra foi o Espírito Santo, com 402 mil hectares, seguido por São Paulo, com 200 mil hectares, Bahia, 102 mil hectares, e Rondônia, com 69 mil hectares.

Clima provoca queda na produção

Em Minas, a queda na produção foi provocada por estiagens, que atingiram a região a partir de setembro do ano passado, época mais importante para o florescimento dos cafezais, e ainda, por geadas que atingiram as principais áreas produtivas nos meses de julho e agosto deste ano.

O clima também atingiu a produção de cafés de variedades arábicas, principalmente no cerrado.

Após as geadas, a Seapa elaborou uma força-tarefa de apoio aos produtores e forneceu laudos gratuitos para os pequenos agricultores.

"Os laudos foram importantes para que os produtores afetados, que receberam crédito rural, pudessem acessar o seguro agrícola, renegociar dívidas e captar recursos do Funcafé", disse Ana Maria Soares Valentini, secretária de Estado.

Na semana passada, bancos e cooperativas apresentaram pedidos de R$ 645,5 milhões do Funcafé, linha de crédito destinada para a recuperação dos cafezais atingidos pelas geadas.

Café mais caro

As variedades arábicas, que são as mais procuradas pelo mercado externo e que durante 2021 registraram alta nas cotações todos os meses, responderam por 99% do café produzido em Minas Gerais.

A secretária Ana Maria disse que mais de 80 países importaram o café mineiro, mesmo com o preço mais alto durante o ano, devido à escassez de oferta.

"São cafés que se distinguem pelos sabores e aromas possíveis principalmente por conta das variações de altitude e sistemas de produção", afirmou.

Segundo ela, países como China, Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão estão entre os principais compradores.

Segundo estatísticas do Centro de Estudos de Economia Aplicada (Cepea/USP), as cotações do café arábica subiram fortemente em outubro, completando 12 meses de altas mensais consecutivas.

No final do mês, a saca do café atingiu o valor de R$ 1.270,07, o mais alto da série histórica do Cepea, que começou em 1996.

As variedades de café conillon, que são mais resistentes às mudanças climáticas, também registraram alta no preço em novembro, de acordo com o Cepea/USP.

No Espírito Santo, estado que tem a maior produção de café conillon no Brasil, o produto acumula alta de 1,44% neste mês.

No entanto, esse tipo de café sofreu uma desvalorização de 6,64% nos preços em outubro. Uma saca de café do tipo hoje custa em torno de R$ 780.

Para o consumidor, essa movimentação também resultou em preços mais elevados. O café em pó foi apontado como um dos vilões da inflação em outubro, de acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica divulgada na primeira semana de novembro pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos).

Segundo o órgão, o preço do café em pó subiu em 16 capitais, com destaque para Vitória (10,14%), Rio de Janeiro (10,6%) e Campo Grande (9,81%).

Safra futura deve ser maior

Nesta semana, consultores de agronegócio do Itaú BBA apontaram que, na próxima safra, 2022/2023, o Brasil pode chegar a colher entre 60 milhões e 64 milhões de sacas de café, considerando as duas variedades (arábica e conilon).

Os volumes, com alta de até 36% em relação a este ano, foram projetados considerando que os cafezais, no ano que vem, terão mais produtividade.

Segundo o informe, a próxima safra de café deve resultar na colheita de 38 milhões a 42 milhões de sacas de café de variedades arábicas, números que resultariam na exportação de 40 milhões de sacas de café entre os meses de julho de 2022 e junho de 2023, quando termina a safra.