Comida deve continuar cara no começo de 2022 e só desacelera no 2º semestre
Resumo da notícia
- Inflação no setor ainda é provocada por aumento de custos na cadeia de produção
- Melhora de safra agrícola, estabilização do dólar e redução de tarifas de energia devem conter alta de preços de alimentos
- Especialistas dizem que inflação de alimentos em 2020 e 2021 não significa que o problema veio para ficar
A comida vai continuar subindo de preço no primeiro semestre de 2022. Um alívio deve acontecer só no segundo semestre -e isso se der tudo certo, esperam empresários do setor e economistas.
Os aumentos no primeiro semestre vão ser gerais: do pãozinho da padaria a embalados e processados vendidos nos supermercados. Isso vai acontecer por causa de encarecimento na cadeia de produção, com reajustes de grãos e carnes, energia elétrica e combustíveis.
Os preços só devem começar a desacelerar no fim do segundo trimestre de 2022 se forem confirmadas as expectativas de aumento da safra agrícola, de estabilização do dólar e de redução das tarifas de eletricidade com a volta das chuvas, apontam empresários e economistas ouvidos pelo UOL.
Seca e menos produção agrícola atrapalharam
Para eles, a atual alta dos preços de alimentos ainda é reflexo de problemas que surgiram na pandemia, como escassez de matérias-primas e desorganização da cadeia global de suprimentos, que se juntaram, no Brasil, a queda na produção agrícola, seca e valorização do dólar.
Esses fatores tendem a perder força em 2022. Por isso, esses especialistas descartam que a atual inflação de alimentos, que vem desde 2020, seja um problema que veio para ficar para sempre.
A perspectiva para o próximo ano é que as pressões de custo de produção de alimentos permaneçam devido aos preços de energia e commodities agrícolas e ao câmbio. Mas acreditamos em melhoria na safra de algumas commodities, o que pode auxiliar na acomodação dos preços.
João Dornellas, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia)
Commodities são matérias-primas ou alimentos frescos usados pela indústria de alimentos em produtos vendidos após beneficiamento ou processamento. Por exemplo, o açúcar usado para doces ou refrigerantes.
Custos encarecem produção de alimentos
Segundo o presidente da Abia, que representa cem empresas que produzem alimentos e bebidas, o setor ainda convive com custos hoje muito mais elevados que os de antes da pandemia.
Após os períodos de lockdown, encomendas e compras que estavam suspensas voltaram todas ao mesmo tempo. A disputa de muitos países pelos mesmos produtos gerou uma corrida que provocou o aumento dos preços.
Parte desses gargalos ainda permanece, e isso deve afetar os preços dos alimentos em 2022, aponta a indústria de alimentos.
Veja abaixo alguns desses custos.
- Commodities: Segundo o Índice de preços da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, uma das agências das Nações Unidas), a variação acumulada em 12 meses pelas commodities agrícolas foi de 31,3% até outubro deste ano. Entre os itens que mais subiram, estão café (+84%), açúcar (+64%), milho (+64%), óleo de palma (+53%), trigo (+40%), óleo de soja (+33%), soja (+24%).
- Petróleo: O preço médio do petróleo no mercado internacional (tipo Brent) em outubro (até dia 27) alcançou cotação 125,7% acima da de outubro de 2020.
- Energia elétrica: A escassez de chuvas reduziu os reservatórios das hidrelétricas no Brasil e forçou o país a acionar as termelétricas, que produzem energia a um custo mais elevado.
- Embalagens: Por causa dos reajustes de preços de matérias-primas, como os plásticos, alumínio, papel e papelão, os preços das embalagens em geral também seguem pressionando os custos na indústria de alimentos. Alguns desses itens mais que dobraram de preço em 12 meses.
Exportação levou comida para fora
André Braz, economista que coordena os índices de preços ao consumidor no Ibre (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), diz que, além desses fatores, o Brasil teve queda na produção safra agrícola, escassez de chuva e real desvalorizado, fator esse que estimula as exportações, o que desabastece o mercado doméstico e alimenta aumentos de preços.
A inflação de alimentos resultou de uma tempestade perfeita, com pandemia, seguida da quebra de safra e crise hídrica que acabou sendo mais grave do que a gente esperava.
André Braz, coordenador do IPC do Ibre FGV
Começo de 2022 ainda pressionado
Segundo empresários do setor, a maior parte desses custos vai seguir elevada pelo menos até o fim do primeiro semestre do ano que vem.
A seca prolongada que gerou impactos negativos na produção agrícola e a instabilidade do dólar continuam pressionando as cotações no mercado interno.
Além disso, apontam empresas do setor, a própria inflação acumulada neste ano também reforça os aumentos de custos na primeira metade de 2022.
A inflação e o dólar alto vão criar pressões sobre o custo de produção. O dólar impacta diretamente no custo de matérias-primas e embalagens. E o custo logístico, por exemplo, deve continuar aumentando devido aos combustíveis.
Lindolfo Marinho, gerente administrativo da indústria de cervejas Cerpa
Indústria vai repassar preços
Além desses custos, a indústria do setor deve tentar recompor no começo do ano que vem parte da margem de lucro que perdeu em 2021. Ou seja, repassando reajustes de preços aos consumidores finais.
Já sentimos o impacto dos custos elevados de matéria-prima em nossa operação desde 2020 e, seguindo aquilo que nossos concorrentes já têm feito, devemos reajustar nossos preços no ano que vem.
Lindolfo Marinho, da Cerpa
Alívio no segundo semestre
A expectativa para o comportamento dos preços dos alimentos no segundo semestre de 2022 já é mais positiva, se confirmados cenários de crescimento da safra agrícola e redução dos custos de energia elétrica à medida que as chuvas recomponham os reservatórios das hidrelétricas, permitindo menor utilização das térmicas.
O Brasil tem chances de ter safra positiva no ano que vem, normalizando a oferta de produtos no mercado doméstico e contribuindo para redução de preços.
André Braz, coordenador do IPC do Ibre FGV
Segundo Braz, a inflação de alimentos no Brasil e no mundo não veio para ficar. Ele destaca que isso ficará mais claro ao longo de 2022.
Ele afirma que, depois de bater 18% em 2020, a inflação de alimentos no Brasil deve fechar este ano na casa de 10% e ceder, em 2022, até 5% ou 6% ao fim do ano.
Aumentos dos principais alimentos
Veja a variação de preços acumulada em 12 meses até outubro de 2021, segundo IPCA do IBGE.
- IPCA: +10,67%
- Alimentação e bebidas: +11,71%
- Alimentação no domicílio: +13,27%
- Feijão fradinho: +17,47%
- Milho: +18,45%
- Farinha de trigo: +15,36%
- Açúcar refinado: +47,82%
- Carnes: +19,71%
- Frango: +33,28%
- Óleo de soja: +14,67%
- Café moído: +34,53%
- Combustíveis e energia: +31,52%
- Gás de botijão: +37,86%
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.