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Moto elétrica compensa financeiramente para fugir da alta de combustíveis?

Empresário Roberto Elias Abdullatif, que comercializa motos elétricas em SP - Arquivo Pessoal
Empresário Roberto Elias Abdullatif, que comercializa motos elétricas em SP Imagem: Arquivo Pessoal

Nivaldo Souza

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2022 04h00Atualizada em 29/03/2022 17h47

A alta dos combustíveis, que piorou com a guerra entre Rússia e Ucrânia, preocupa consumidores, que buscam alternativas. As motos elétricas têm sido apontadas como uma dessas opções.

Já em 2021, antes da guerra, houve um aumento de 68,4% nos emplacamentos de scooters e triciclos elétricos em comparação com o ano anterior. Foram registradas 1.615 unidades de ciclomotores elétricos ante 959 no ano anterior, de acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Será que financeiramente compensa fazer isso?

Vale a pena ter uma?

Voltz EV1 - Divulgação - Divulgação
Modelo Voltz EV1 de scooter elétrico
Imagem: Divulgação

O valor de uma scooter elétrica varia conforme a potência e o fabricante. A maioria dos modelos vendidos no Brasil é de pequenas marcas chinesas. É possível encontrar modelos mais simples, a partir de R$ 6.900, até cerca de R$ 20 mil — valores bem abaixo da média de investimento em um carro. Um automóvel zero quilômetro supera a faixa de R$ 70 mil.

Estudo realizado pela Emotive, Programa de Mobilidade Elétrica da CPFL Energia, mostra que a economia de veículos elétricos pode chegar a mais de 80% em relação aos combustíveis tradicionais.

Quanto economiza?

Para fazer uma comparação, consideramos um modelo de scooter elétrica com potência de 2.000 Watts vendida por cerca de R$ 11 mil (um valor médio entre os modelos disponíveis), com autonomia da bateria de 30 a 45 km (varia conforme a aceleração).

  • Se a moto é de 2.000 Watts, ela consome 2 kW de energia por hora em funcionamento (2kWh)
  • O custo do kWh na cidade de São Paulo é de R$ 0,594, segundo dados da Aneel. Com isso, a scooter consumiria R$ 1,188 na tomada para recarregar cada hora que rodasse
  • Se, ao longo dessa uma hora de funcionamento, a scooter percorrer 15 km no trajeto de ida e volta ao trabalho, o gasto será de quase R$ 1,19 por dia
  • Considerando que aos finais de semana também haverá deslocamento pela mesma distância para lazer ou compras, o percurso total percorrido será de 450 km em 30 dias
  • Multiplicando o custo diário (R$ 1,19) pelos 30 dias do mês, teremos um investimento de R$ 35,70 com energia para carregar a scooter

E se fosse de carro?

  • Um carro econômico pode chegar a percorrer os mesmos 15 quilômetros por litro de gasolina
  • Considerando a mesma distância percorrida no exemplo acima (média de 15 km ao dia, e 450 km por mês)
  • Seriam necessários 30 litros de gasolina para percorrer o mesmo trajeto
  • Com o valor médio da gasolina a R$ 6,388, o investimento total seria de R$ 191,64, o que fica cinco vezes mais caro. O valor da gasolina usado no cálculo segue a média da ANP (Agência Nacional do Petróleo) captada na cidade de São Paulo de 6 a 12 de março

Consumidor busca opções

O especialista em mercado automotivo Flávio Padovan, sócio da MRD Consulting, avalia que o choque de preços dos combustíveis gera um comportamento natural no consumidor em busca de economia.

"O que estamos verificando [no crescimento de vendas das elétricas] é o aumento de algo que já vinha acontecendo antes dessa crise do petróleo", diz.

Padovan considera haver um cenário positivo para as elétricas a partir da disparada do petróleo com a guerra na Ucrânia.

"Eu acredito que o preço do petróleo vai estimular um pouco mais [a venda de elétricos]. As pessoas vão pensar mais em economizar e utilizar menos veículos a combustão."

Qual a tendência do mercado?

A tendência é de aceleração na presença das elétricas nas ruas do mundo todo, segundo a projeção da consultoria Quince Market Insights. A empresa estima que o mercado de motocicletas elétricas, incluindo scooters e triciclos, crescerá em média 32,5% ao ano até 2030.

A consultoria indica o movimento como parte da procura por uma economia mais sustentável e com menor custo com transportes. É o que se observa por aqui a partir de 2018. Naquele ano, as elétricas ainda eram novidade, e o Brasil registrou apenas 93 emplacamentos.

No primeiro bimestre de 2022 já foram emplacados 951 ciclomotores elétricos, ante 162 em janeiro e fevereiro do ano passado. Isso representa uma elevação de 487% na comparação entre os bimestres, conforme a Fenabrave.

Foi de olho nas tendências do mercado que o empresário Roberto Elias Abdullatif, 61, decidiu vender scooters e triciclos elétricos a partir de 2018. Ele comercializa carros novos e seminovos há 45 anos na Mooca, bairro da zona leste de São Paulo, onde mantém a Reavel Multimarcas

O comerciante conta que a novidade logo atraiu clientes dispostos a gastar a partir de R$ 10 mil para economizar no transporte diário entre a casa e o trabalho. "O pessoal procura porque não quer gastar combustível no preço em que está", diz.

É necessário emplacamento?

A advogada Camila Chiganças, especialista em direito de trânsito da R&G Assessoria, explica que o emplacamento de elétricas é obrigatório desde 2015, mas tem sido ignorado. "Existem muitos condutores desinformados ou que não cumprem a legislação", afirma.

É possível observar a falta de emplacamento nas ruas, indicando que a quantidade de scooters e triciclos elétricos pode estar subestimada nos dados oficiais.

Um exemplo de falta de registro foi o que levou à apreensão da scooter elétrica do ex-jogador Robinho. Ele entrou na Justiça para tentar reaver o veículo apreendido na orla da praia de Santos por estar circulando de forma irregular.

Antes, existia um certo "limbo regulatório" no país, dificultando a fiscalização por agentes de trânsito e polícia a respeito desses veículos. Mas isso mudou com alterações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que entraram em vigor em 12 de abril do ano passado.

O CTB incluía apenas o "motor a combustão" como características dos ciclomotores. A nova lei de trânsito passou a considerar veículos movidos a motor de propulsão elétrica com potência de até 4kW (quilowatts) e velocidade máxima de até 50 km/h.

A CNH é obrigatória?

A elevação de categoria das scooters e triciclo passou a exigir do condutor a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para pilotá-las. É necessário carteira na categoria A, a mesma exigida para pilotar motos tradicionais.

Os motoristas de outros veículos tradicionais podem solicitar no Detran uma ACC (Autorização para Conduzir Ciclomotor), desde que possuam CNH nas categorias B, C, D ou E.

"O condutor deve utilizar capacete de proteção com viseira ou com óculos de proteção", observa a advogada.

Outros documentos são necessários?

Além do emplacamento obrigatório, o proprietário de uma elétrica deve pagar IPVA e realizar o licenciamento do veículo.

O condutor deve carregar consigo os comprovantes de regularização do veículo para apresentar aos agentes de trânsito em caso de fiscalização, sob pena de ter o meio de transporte apreendido.

Pode andar em qualquer lugar?

Desde o ano passado está proibido pilotar scooters e triciclos elétricos em vias expressas - como as marginais dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, estradas e rodovias. Elas podem ser utilizadas normalmente em ruas e avenidas.

Os condutores não podem circular em ciclovias e ciclofaixas.

O descumprimento das regras pode levar à apreensão do veículo, pontuação na CNH e multa de até R$ 880,41 por falta de habilitação. O técnico do Santos, Jorge Sampaoli, por exemplo, teve problemas por causa disso.

Quais os cuidados na compra?

O mais importante é checar se o modelo do veículo desejado está credenciado no país. Caso contrário, o proprietário pode ter dificuldade na hora de emplacar e emitir os documentos para condução em vias públicas.

Antes de comprar, portanto, é importante checar se o modelo tem Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).

É possível checar diretamente no site do Detran de cada estado. Basta acionar a consulta do Renavam pelo número do chassi.

Em caso de dificuldade, a recomendação é procurar um despachante para realizar a consulta.