'Não vendo minha alma a ninguém', diz presidente da Petrobras demitido
O presidente demitido da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, disse em entrevista à revista Veja publicada hoje, que "não vende a alma a ninguém" ao ser questionado se ele se sentiu traído pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao saber que será substituído do comando da petroleira. O militar foi demitido na última segunda-feira (28), mas vai seguir no comando da estatal até 13 abril, quando haverá reunião do conselho da Petrobras.
O presidente é um político, minha relação com ele foi respeitosa. Mas, ao final, em razão de não poder alterar preços, não aceitar interferência dentro da empresa, não aceitar mudar pessoas aqui dentro, trocar diretores, esse foi o desfecho. Não vendo minha alma a ninguém, não coloco meus valores em xeque. Joaquim Silva e Luna, presidente demitido da Petrobras, em entrevista à Veja
Segundo o general, ele ainda sofreu "pressões crescentes" em torno do preço dos combustíveis e da troca de diretores. No último dia 10, a Petrobras reajustou o preço da gasolina em 18,77% e o diesel, em 24,9%.
"As pressões sempre foram crescentes. Em torno do preço dos combustíveis, por troca de diretores. Foram todas absorvidas, nunca cedidas. Nenhuma. Essas resistências foram crescendo, foram feitas algumas sinalizações públicas", afirmou Silva e Luna, dizendo que essas situações não intimidavam, mas que ficou desconfortável.
Pressão nunca me intimidou. Passou a me incomodar quando começaram a falar coisas que não são verdadeiras, porque impactam a companhia. Tenho a responsabilidade de zelar pela imagem da empresa. Isso me incomodou. Disseram que ganho 200?000 reais mensais. Isso é mentira, não existe nada disso. Não é verdade, não ganhei nem metade disso. Joaquim Silva e Luna, presidente demitido da Petrobras, em entrevista à Veja
Silva e Luna também foi questionado sobre eventual vitória do ex-presidente Lula (PT) nas eleições presidenciais e o general afirmou que "gostaria que o resultado fosse outro". "Tenho dito de forma contundente que aqui não cabe aventureiro, hoje a governança da Petrobras não permite isso. Graças à governança, não vejo possibilidade para que aconteça algo parecido com o que ocorreu no passado", acrescentou.
O militar também concedeu entrevista ao jornal O Estado de São Paulo e disse que "é mais fácil encontrar culpado do que solução" ao falar sobre o preço dos combustíveis.
"Vamos ver se meu sucessor tem sorte, de ele chegar aqui e acabar a guerra. Que esse conflito de oferta e demanda se equilibre", afirmou, se referindo ao economista Adriano Pires.
Ao jornal, Silva e Luna disse ainda que não conversou com Bolsonaro desde que soube que deixaria o cargo de presidente da Petrobras. "Próximo de dois meses que a gente não tem conversado. Tem trocas com (interlocutores), mas contato pessoal, não."
Quem é Adriano Pires?
Adriano Pires é sócio e fundador do Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Doutor em economia industrial pela Universidade de Paris 13, Pires tem mais de 40 anos de atuação na área de energia e já passou pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis). A escolha de Pires teve o aval do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que levou o nome do economista para apreciação de Bolsonaro. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, que está em Paris para participar de agenda da OCDE, afirmou a auxiliares que não teve interferência na escolha do nome, nem na saída de Silva e Luna.
A escolha de Pires teve o aval do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que levou o nome do economista para apreciação de Bolsonaro. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, que está em Paris para participar de agenda da OCDE, afirmou a auxiliares que não teve interferência na escolha do nome, nem na saída de Silva e Luna.
Petrobras e Flamengo no Conselho
Outra informação oficializada nesta segunda foi a indicação Landim para a presidência do Conselho de Administração da estatal. Landim é engenheiro com especializações na área de petróleo, mas atualmente tem notoriedade por comandar o Flamengo. Landim inclusive pretende manter o cargo no clube carioca.
A cúpula do Flamengo vem se mantendo próxima a Bolsonaro desde o início do governo. Em um dos episódios mais sintomáticos, Bolsonaro editou uma Medida Provisória em 2020 alterando as regras de direito de transmissão de partidas no futebol brasileiro, algo que na época era de interesse direto do clube carioca.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.