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Se o Brasil parasse de exportar carne e milho, eles ficariam mais baratos?

Índia proibiu a exportação de trigo para diminuir preços no mercado interno Imagem: SHANNON VANRAES

Giuliana Saringer

Do UOL, em São Paulo

23/05/2022 04h00

Países ao redor do mundo estão criando medidas protecionistas para controlar o preço dos alimentos no mercado interno. É o caso da Indonésia, que limitou a exportação de óleo de palma por quase um mês (de 28 de abril a 23 de maio), e da Índia, que proibiu as vendas de trigo para outros países do mundo.

De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar, a Argentina proibiu a exportação de farelo e óleo de soja. A Moldávia e a Sérvia restringiram as vendas de trigo e açúcar, enquanto o Egito proibiu a exportação de alimentos básicos como farinha, lentilha e trigo. No Brasil, não existe nenhum tipo de medida protecionista. O país exporta alimentos como milho, soja, carnes bovina e de frango e café. O UOL conversou com especialistas para entender se esse tipo de restrição ajudaria a reduzir o preço dos alimentos no mercado interno.

Positivo no curto prazo, mas prejudicial depois

A resposta é que isso pode trazer algum alívio imediato nos preços dos alimentos do mercado interno no curto prazo, mas causa também um aumento da inflação global —o que em prazos mais longos tende a ser negativo para o país.

"Quando vemos essa guerra de criar entraves para a exportação de um produto ou deixar de exportar, percebemos uma escalada de preços no mundo todo. É um tiro no pé. Acaba acelerando a inflação global e faz com que os países precisem subir os juros, tendo um efeito reverso", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Para Fabio Astraukas, CEO da consultoria Siegen, a redução dos preços no curto prazo não compensaria os impactos na inflação global.

"Em um primeiro momento a medida protecionista pode ter algum efeito de recuar ou de impedir o processo inflacionário imediato, mas acaba geração mais inflação no nível global, que é o que estamos vendo. Não parece uma medida de eficácia no médio e longo prazo", diz Astraukas.

José Augusto Castro, presidente executivo da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), diz que proibir exportações brasileiras seria um problema, porque a população local não daria conta de consumir tudo o que é exportado, criando uma oferta maior do que a demanda.

O especialista considera que se o Brasil deixasse de exportar causaria um desequilíbrio internacional, fazendo com que outros preços subissem ainda mais.

"Se você proíbe exportação, indiretamente você está gerando desemprego, porque se o mercado não conseguiria absorver toda quantidade que seria exportada. Em países pequenos até dá para fazer isso, mas o Brasil exporta commodities, que não dá para deixar de exportar", afirma Castro.

Paulo Ferracioli, professor do MBA em gestão de comércio exterior e negócios internacionais da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que não existe resposta certa ou errada para a questão — muito menos fácil.

"Somos um grande exportador de carne, por exemplo, que está muito valorizada nos mercados internacionais. O governo poderia tomar uma medida que limitasse a exportação. Os exportadores não gostariam da decisão, enquanto a população, que está reclamando do preço do mercado, ficaria mais feliz. Não tem certo ou errado", afirma Ferracioli.

Inflação dos alimentos deve ser duradoura

Vale diz que faz mais sentido o governo investir em políticas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, para diminuir os impactos da inflação, do que controlar as exportações.

"As medidas protecionistas podem trazer uma diminuição no preço do alimento para o mercado local. Por outro lado, os preços de outros produtos sobem e o país ainda corre o risco de ser retaliado pelos outros", afirma Vale.

Para ele, a única solução é o trabalho que o BC (Banco Central) vem fazendo com aumento de juros para controlar a inflação. Atualmente a Selic está em 12,75% ao ano.

O que vai, de fato, ajudar a reduzir as pressões sobre os alimentos é o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, segundo o analista. "A melhor solução para o preço dos alimentos é a guerra acabar. Vamos ter que lidar com as consequências da guerra por algum tempo até o mercado se reorganizar", afirma Vale.

"A pandemia e a guerra criaram um desarranjo na cadeia de abastecimento. A solução para a inflação dos alimentos passa por uma acomodação da covid, que aparentemente está quase superada, e da guerra, que não parece ter um fim próximo. Só devemos ter um recuo de inflação em 2023", diz Astraukas.

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