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Petrobras: 3ª troca de chefia sob Bolsonaro afeta planos e ações da empresa

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

24/05/2022 16h36

Resumo da notícia

  • Trocas de comando desvalorizam ações no curto prazo, mas também preocupam investidores no longo prazo
  • Mercado monitora mais de perto interferências do governo que possam atingir conselho e estatuto da Petrobras
  • Especialistas dizem que o governo tem razões "eleitoreiras"

A terceira troca de presidente da Petrobras no governo Jair Bolsonaro —a segunda só em 2022— acelerou a rotatividade no cargo da maior empresa brasileira em termos de receita, derrubou seu valor de mercado com a queda das ações na Bolsa e reforçou a atenção do mercado com o risco de que a interferência afete o dia a dia e os projetos de longo prazo da petroleira.

Nas duas primeiras trocas, a interferência do governo federal —controlador da petroleira— foi vista como movimento de impactos limitados ao curto prazo da companhia, sem ameaçar projetos nem o valor dos ativos no longo prazo. Agora, porém, cresce a preocupação de que a interferência de Bolsonaro afete a Petrobras em seus projetos de longo prazo que estão, por exemplo, contemplados no plano estratégico 2022-2026.

Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo UOL, o governo busca nas trocas de comando na Petrobras meios "eleitoreiros" de adiar aumentos de combustíveis que estão alimentando a inflação e diminuindo o poder aquisitivo das famílias.

Veja abaixo os temas que mais preocupam profissionais de mercado ouvidos pelo UOL.

Essas trocas afetam ações da Petrobras? Por quanto tempo?

A queda nas ações da Petrobras nesta terça-feira (24) é provocada pelas incertezas que surgem com relação à empresa no curto prazo, pelo menos até o fim deste ano, dizem os especialistas.

Essa reação negativa do mercado pode durar alguns dias, mas a volatilidade vai ficar por mais tempo, até o fim do ano, pelo menos.

Acreditamos que o evento de ontem (23) corrobora com nossa visão de que as ações da Petrobras permanecerão altamente voláteis, à medida que os investidores percebem um alto risco associado à continuidade do fluxo de dividendos.
Pedro Soares e Thiago Duarte, analistas do BTG Pactual

Temos um ambiente político-eleitoral competitivo e um contexto de inflação pressionada, em particular, pelos preços de combustíveis. Isso aumenta a instabilidade nos mercados acionários, principalmente no que se refere ao desempenho de algumas estatais.
Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV

Acreditamos que essa notícia deve aumentar a volatilidade na ação.
Genial Investimentos, em relatório de mercado

Uma empresa internacional, a maior e mais importante do país, não pode ter quatro presidentes em apenas um governo. É por isso que as ações estão caindo hoje.
Alvaro Bandeira, economista e ex-presidente da Apimec Nacional (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).

Hoje a Petrobras está sendo administrada de uma forma normal como uma empresa privada e essas trocas constantes estão incomodando o mercado.
Cesar Frade, sócio da Quantzed

Troca pode ameaçar andamento dos projetos da companhia?

A duração da volatilidade das ações da Petrobras vai depender dos limites que o atual governo seguir testando para fazer valer a intenção de segurar os preços dos combustíveis usando a petroleira como dique, afirmam profissionais de mercado.

Se o governo perceber que não tem mesmo poder para influenciar as decisões diárias da Petrobras, ele pode tentar recorrer a mudanças mais como forma de tentar diminuir o ônus político da alta nos preços.

Essa movimentação de cargos gera muita desconfiança do mercado, que vê uma possível mudança nas regras de cálculo dos combustíveis. Essas mudanças frequentes ficam injustificáveis no ponto de vista de resultado da companhia que vem emplacando resultados excelentes.
Cassiano Konig, sócio da GT Capital

Caso isso ocorra, projetos da Petrobras planejados para os próximos anos poderão ser afetados. A preservação da maioria da equipe de gestão em mudanças anteriores de presidente foi uma medida necessária para dar algum sentido de continuidade, dizem analistas de mercado. Então, qualquer mudança nisso vai corroer a percepção de risco da empresa ainda mais.

Mesmo considerando que a Petrobras historicamente tem rotatividade maior que outras petroleiras, com uma média inferior a dois anos de permanência no cargo, essa nova frequência de trocas passa uma sinalização cada vez mais negativa para o mercado. Denota uma clara desorganização e ingerência política na empresa.
Cristiano Vilela, sócio da Vilela, Miranda e Aguiar Fernandes Advogados

Papel do presidente no dia a dia da empresa pode ser minimizado?

Para analistas que acompanham a Petrobras, o presidente da estatal é necessário para levar adiante as atividades operacionais, do dia a dia. Mudanças feitas no estatuto da Petrobras desde 2016 fortaleceram o poder das áreas técnicas, dos comitês e conselhos e da companhia contra interferências políticas.

São então os profissionais dos quadros técnicos —incluindo gerências e diretorias— que executam no dia a dia as decisões comerciais e de investimentos estabelecidas pelos comitês e conselhos.

Conselho pode adiar ou interromper decisões?

O presidente é importante para ditar o ritmo de operação porque é ele quem, muitas vezes, define as prioridades, dizem especialistas.

Além disso, as trocas constantes e inesperadas de comando geram cada vez mais incertezas em todo o quadro gerencial, que passa a atuar de forma mais conservadora, ou seja, mais lenta.

Os profissionais da empresa deveriam estar estudando o quadro atual dos negócios e os desafios futuros. Mas nem a diretoria nem o conselho estão debruçados sobre esses temas por causa dessas constantes trocas de comando.
Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Corretora.

Troca de comando emite alerta sobre risco de faltar diesel?

Esse é um tema que entrou mais fortemente na pauta dos analistas que cobrem o setor de óleo e gás no Brasil, dizem profissionais desse mercado.

Para eles, se a troca do comando da Petrobras tiver de fato relação com o alerta emitido pela companhia sobre o tema, apontando para risco de falta de diesel nas bombas se preços forem contidos, esse assunto vai ganhar espaço nos cenários com os quais o mercado trabalha para a economia no segundo semestre.

Em última análise, achamos que o novo CEO enfrenta um difícil dilema: como preservar o próprio emprego seguindo as políticas da empresa, mas sem comprometer a disponibilidade de combustível do Brasil?
Pedro Soares e Thiago Duarte, analistas do BTG Pactual

O governo quer travar o preço dos combustíveis?

Para profissionais de mercado, o governo está tentando meios de travar os preços nas bombas, independentemente dos custos que essa estratégia possam provocar, porque Bolsonaro está mais preocupado com o impacto da alta dos combustíveis sobre a inflação e da inflação sobre a popularidade dele.

O problema, destacam, é que parte relevante do encarecimento dos combustíveis no Brasil tem origem global, em um ciclo internacional de valorização de commodities e do petróleo.

Está claro que a preocupação imediata do presidente é com o impacto da política de preço dos combustíveis da Petrobras e dos derivados do petróleo na oferta em toda a cadeia produtiva nacional, fortemente calcada na matriz rodoviária.
Guilherme Amorim Campos da Silva, sócio da Rubens Naves Santos Jr. Advogados


Como avaliar impacto no investimento ainda vale a pena?

Analistas de mercado e gestores de recursos que têm ações de Petrobras em suas carteiras reconhecem que as trocas de presidência podem afetar os cálculos de valorização da companhia para o futuro.

É provável que o governo tenha derrubado o presidente para derrubar o conselho inteiro e, dessa forma escolher outros membros para mudança de políticas de preços, por exemplo, afirma o gestor e sócio da 3R Investimentos, que tem ações da Petrobras em fundos da firma, Rodrigo Boselli.

Mas esses mesmos profissionais destacam que alterações feitas na legislação, como a criação da Lei da Estatais, e nas regras da própria companhia, como novo estatuto, dificultam em muito o caminho para interferências que comprometam as atuais estratégias que têm garantido aumento dos lucros.

Entre essas estratégias, estão a decisão de focar os investimentos no pré-sal e reduzir posições em refinarias e distribuição; e a política de preços alinhada com a cotação internacional do petróleo. E os resultados que a companhia está colhendo justificam a manutenção das ações da companhia na carteira do investidor, dizem gestores ouvidos pelo UOL.

Com tudo isso, continuo acreditando na Petrobras. Ela focou no pré-sal, e essa estratégia tem dado resultados, elevando as margens de lucros. A geração de caixa é tão significativa, e o valor das ações empresa está tão depreciado, que em três anos você recebe todo o valor da companhia em dividendos.
Rodrigo Boselli, gestor e sócio da 3R Investimentos

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