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Fim da especulação imobiliária fez magnatas perderem US$ 65 bi na China

Hui Ka Yan, CEO da Evergrande, viu sua fortuna diminuir em quase US$ 24 bilhões - Xiaomei Chen/South China Morning Post via Getty Images
Hui Ka Yan, CEO da Evergrande, viu sua fortuna diminuir em quase US$ 24 bilhões Imagem: Xiaomei Chen/South China Morning Post via Getty Images

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/06/2022 13h24

Um indicador da Bloomberg Intelligence aponta que a fortuna de magnatas do setor imobiliário da China caiu com força. De acordo com a publicação, eles perderam US$ 65 bilhões após a China adotar medidas para controlar o preço dos imóveis no país.

Em 2018, Hui Ka Yan, presidente da incorporadora imobiliária China Evergrande Group, era considerado o homem mais rico do país com uma fortuna estimada em US$ 40 bilhões. A realidade, entretanto, tem mudado desde que o presidente chinês, Xi Jinping, optou por fazer com que propriedades privadas não fossem mais o motor do crescimento econômico ou da acumulação de riqueza na China.

Mas, mesmo com a queda, o setor imobiliário é responsável por quase 30% do PIB (Produto Interno Bruto) da China e considerado um dos maiores impulsionadores da economia local.

A publicação da Bloomberg aponta ainda que investir em imóveis foi um tiro certeiro na China nas últimas duas décadas. Os preços das casas no país estavam em tendência de alta desde o início dos anos 2000, alimentando a especulação imobiliária.

Os desenvolvedores foram encorajados a assumir dívidas, recorrendo a vastas reservas de dinheiro fora da China continental. Investidores globais, ávidos por retornos mais altos, compraram títulos de alto rendimento. As vendas anuais desses papéis aumentaram de US$ 675 milhões em 2009 para US$ 64,7 bilhões em 2020, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Os primeiros sinais de queda e inconsistência vieram ainda em 2016, quando o presidente Xi Jinping declarou que "as casas são construídas para serem habitadas, não para especulação". O ritmo do avanço regulatório aumentou em 2020, quando a China introduziu as chamadas "três linhas vermelhas", limitando os empréstimos que os desenvolvedores poderiam assumir.

Com isso, o governo atingiu os desenvolvedores em geral e também o Evergrande Group. A empresa, com mais de US$ 300 bilhões em passivos, entrou em default em dezembro depois de esgotar as formas de obter financiamento, causando repercussões em uma dúzia de construtoras.

Desde o início do ano passado, os desenvolvedores chineses deram calote em pelo menos US$ 18 bilhões em títulos offshore em dólares e o equivalente a US$ 2,5 bilhões em dívidas onshore denominadas em yuans.

Essa pressão do presidente ressalta a mudança de prioridades dos altos escalões do país. O presidente do banco central da China, Yi Gang, divulgou um "novo modelo de desenvolvimento" para o setor imobiliário, sugerindo que o país está finalmente fazendo a mudança há muito esperada em direção à história de sucesso de Cingapura, de acomodar a maioria de sua população em moradias públicas.

Isso causou uma destruição de riqueza sem precedentes. O fundador da Sunac China Holdings Ltd., Sun Hongbin, viu quase 90% da fortuna evaporar, enquanto Hui, de Evergrande, liderou a queda, perdendo quase US$ 24 bilhões. Muitos dos magnatas, incluindo Hui, tiveram que tirar dinheiro dos próprios bolsos para salvar suas operações.

Os bilionários imobiliários agora representam menos de um décimo das pessoas mais ricas da China, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

As consequências regulatórias estão se espalhando pela economia em geral, da tecnologia à educação. Buscando evitar uma crise, a China relaxou as medidas de austeridade para compras de casas nos últimos meses e cortou as taxas de juros.

A recuperação, no entanto, deve ser lenta - não apenas por causa da estratégia "Covid Zero" do país, mas também por questões políticas, dado que Xi Jinping deve permanecer no poder.

Com o setor respondendo por um terço do crescimento real - semelhante ao que havia na Espanha logo antes da explosão imobiliária de 2009 - o governo precisa trazê-lo de volta aos níveis médios globais, disse Alicia Garcia Herrero, economista-chefe da Ásia-Pacífico com Natixis SA.