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Daslu: leilão de R$ 10 mi está suspenso, e venda aguarda aval da Justiça

Fachada da loja da Daslu, em São Paulo. - SÉRGIO CASTRO/AE
Fachada da loja da Daslu, em São Paulo. Imagem: SÉRGIO CASTRO/AE

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

08/06/2022 14h03Atualizada em 08/06/2022 15h20

Após a Daslu, rede pioneira em varejo de luxo no Brasil, ser arrematada por R$ 10 milhões ontem em um leilão, o novo proprietário ainda terá que aguardar o julgamento de um recurso no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) para de fato pôr as mãos na marca.

A ação questiona o valor estipulado para a venda, que teve lance mínimo de R$ 1,4 milhão. O autor da ação argumenta que a marca vale muito mais: R$ 40 milhões. A rede foi à falência em 2016 após denúncias de sonegação fiscal ruírem o império de luxo.

O recurso que ainda precisa ser analisado foi aceito há duas semanas, em 25 de junho, na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do TJSP. O pedido é do empresário Eduardo Duarte Teixeira João, da falida DSL Comércio Varejista. Ele requeria que não fosse expedida a carta de arrematação da marca até o julgamento do agravo de instrumento, onde contesta o valor do leilão.

A DSL é representada pela Expertisemais, que possui os direitos da marca e teria interesse em uma venda com valores mais expressivos. A quantia adquirida será usada para cobrir dívidas.

Sem prazo para julgamento

Segundo Sidney Palharini Júnior, advogado da Casa Sodré Santoro, que fez o leilão, a situação já era conhecida e estava prevista no edital do pregão. O arrematante da marca não foi pego de surpresa.

"Não há ainda um prazo específico para esse recurso ser julgado. Ele já estava em andamento mesmo antes do leilão. É um assunto que todo mundo tinha ciência. O sócio da DSL apresentou um laudo bilateral para alterar a avaliação feita pela administradora da falência e por isso, o desembargador [responsável pelo processo] suspendeu a expedição da carta de arrematação, que é o último ato do leilão", afirma ao UOL.

A carta de arrematação é o documento que garante ao comprador (arrematante) a transferência da marca. No caso do leilão da Daslu ocorrido ontem, a transferência está suspensa aguardando o julgamento do recurso — como previsto no edital do certame.

O advogado da Sodré Santoro acredita que a marca foi vendida pelo valor que o mercado estava disposto a pagar.

"Foi um dos leilões mais divulgados. Isso fez com que todo mundo ficasse sabendo e, independente da avaliação, chegou no valor que o mercado queria pagar", avaliou o advogado.

O UOL procurou o escritório de advocacia que representa a Expertisemais, mas não conseguiu contato.

Leilão disputado

Daslu - Reprodução - Reprodução
Leilão da Daslu: marca é arrematada por R$ 10 milhões
Imagem: Reprodução

O nome do comprador da Daslu segue sob sigilo. Além de pagar R$ 10 milhões pela marca, ele precisou desembolsar ainda R$ 500 mil, em taxas e impostos, à leiloeira responsável pelo pregão.

Iniciado às 13h de ontem, o leilão da Daslu foi bem disputado. As ofertas começaram a ser feitas ainda pela manhã. Foram 32 lances até chegar ao valor final.

O UOL apurou que o site da casa de leilão quase saiu do ar durante o certame, e que havia pelo menos cinco pessoas envolvidas na disputa acirrada pela marca, que recebeu lances de milhão em milhão. Outras 20 pessoas acompanharam o pregão e aguardavam momentos oportunos para fazer as ofertas.

A história da Daslu

Eliana - VALÉRIA GONÇALVEZ/AE - VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
A empresária Eliana Tranchesi, proprietária da loja Daslu. Ela morreu de câncer em 2012.
Imagem: VALÉRIA GONÇALVEZ/AE

Nascida em 1958, sob o comando de Lucia Piva de Albuquerque e Lourdes Aranha dos Santos, a marca viveu seu ápice a partir dos anos 2000, sob a gestão de Eliana Tranchesi, filha de Lucia.

A loja passou de uma boutique que funcionava com hora marcada e atendia a alta sociedade, em uma casa na Vila Nova Conceição, área nobre da capital paulista, para se tornar, em 2005, a Villa Daslu, que ocupou uma área de quase 20 mil metros quadrados, na Vila Olímpia, com investimentos de R$ 200 milhões.

A rede chegou a faturar R$ 1 bilhão por ano. Entre as clientes famosas estava a apresentadora Hebe Camargo (1929 - 2012),e entre as vendedoras, jovens como Sophia Alckmin, filha do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, e Ana Carolina Magalhães, neta de Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), ex-governador da Bahia.

A rede ficou conhecida como um templo do luxo e a meca de estilistas. Nesta época, já vendia também produtos próprios.

Pouco tempo depois da inauguração da Villa Daslu, em 2005, a PF (Polícia Federal) deflagrou a Operação Narciso. As investigações apontaram que a Daslu praticava sonegação fiscal na importação e venda dos produtos. De acordo com a PF, a empresa dizia ter comprado os produtos a preços muitos mais altos do que os declarados pelas importadoras. Com isso, pagava menos imposto.

Em 2009, Eliana Tranchesi, filha da fundadora da Daslu, foi presa e condenada a 94 anos de prisão, mas cumpriu a maior parte da pena em liberdade. Em 2012, ela morreu em decorrência de um câncer no pulmão.