2 em cada 3 brasileiros usam FGTS e 13º do INSS para pagar dívidas e poupar
O dinheiro extra do INSS e do FGTS que vai chegar aos brasileiros não deve movimentar tanto a economia como o esperado. Dos brasileiros com direito à antecipação do 13° salário do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) ou ao saque extraordinário de R$ 1.000 do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), 66,9% usaram ou usarão o dinheiro para pagar dívidas ou poupar, de acordo com uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Do total de pessoas ouvidas, 53,2% informaram ter direito a um dos benefícios.
As duas medidas foram tomadas pelo governo federal para tentar impulsionar a economia. Mas os números mostram que o impacto delas pode ser limitado, visto que apenas 18% disseram que usarão o dinheiro para consumo de bens como eletrodomésticos, supermercados e roupas, e 6,6% para consumo de serviços como restaurantes, médicos e viagens, por exemplo. Entre os entrevistados, 8,5% declararam "outros" gastos.
A maior fatia (43,1%) é daqueles que vão guardar o dinheiro. Depois vem quem vai pagar dívidas (23,8%). É a soma desses dois itens que dá 66,9%.
Para a coordenadora de sondagens da FGV, responsável pelo levantamento, Viviane Seda, os números mostram que o objetivo do governo federal de aquecer a economia através dos recursos será menor do que o esperado.
"Era de se esperar que esses recursos fossem inseridos dentro do consumo de bens para estimular a atividade econômica. Claro que quitar dívidas faz você abrir espaço no orçamento para que depois as compras sejam efetuadas. Mas o que a gente vê é uma preocupação de pessoas de mais baixa renda com o pagamento de dívidas acumuladas sobretudo por causa do segundo ano da pandemia", disse.
Seda destacou ainda que a inflação, que passa de 12% em 12 meses, o endividamento e as incertezas políticas no país, em um ano de eleição, são os fatores responsáveis pela escolha da finalidade dos recursos.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (CNC), a proporção de famílias brasileiras endividadas caiu na passagem de abril para maio, mas a inadimplência aumentou. Em maio, 77,4% das famílias relataram ter dívidas a vencer, queda de 0,3 ponto porcentual em relação a abril. Na comparação com maio de 2021, houve um salto de 9,8 pontos porcentuais.
A inadimplência, medida pela proporção de famílias que relataram ter dívidas em atraso, ficou em 28,7% do total de entrevistados, alta de 0,1 ponto ante abril. Já a proporção de entrevistados que informou que não terão condições de pagar as dívidas em atraso, um sinal de permanência na inadimplência, ficou em 10,8%, 0,1 ponto abaixo do registrado em abril.
Famílias com menor renda priorizam dívidas
Ainda de acordo com os dados da FGV, o uso do dinheiro para pagar dívidas é maior entre os entrevistados que ganham até R$ 2.100. Eles somam 42,3% das pessoas que confirmaram acesso aos recursos. Nessa faixa de salário, 28,6% afirmaram que pouparão o dinheiro.
Quando analisados os percentuais de pessoas preocupadas em guardar o dinheiro, observa-se que a maior parte delas têm ganhos mensais superiores. Na pesquisa, entre aqueles que ganham entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600, 37,6% pretendem guardar o que receber. Já dentre aqueles que ganham mais de R$ 9.600,01, o percentual de poupadores aumenta para 51,4%.
"Para aqueles que têm uma folga no orçamento, a intenção de guardar e poupar acontece também incentivada pela taxa de juros que favorece essa poupança. Vale a pena mesmo para a alta renda investir em outros tipos de ativos mais rentáveis", disse Seda ao UOL.
A pesquisa ouviu 1.500 pessoas entre os dias 2 e 21 de maio.
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