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Sextou! Empresa adota jornada de 4 dias de trabalho e mantém faturamento

Gerencianet adotou jornada de trabalho de 32h por semana com sextas-feiras livres Imagem: Divulgação

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em Maceió

06/07/2022 17h05Atualizada em 07/07/2022 08h33

"Estamos olhando para o passado e para o presente". É assim que o CEO da Gerencianet, Evanil Paula, justifica o motivo da fintech mineira de meios de pagamentos optar por reduzir a jornada de trabalho de seus funcionários de 40h para 32h por semana, o que implica um dia a mais livre para o descanso dos empregados.

Quando cita o passado, Evanil compara a jornada cansativa de cinco dias de trabalho ao fordismo, modelo de produção que ganhou espaço na primeira metade do século XX, que se caracterizou pela automatização da mão de obra. Hoje em dia, em uma nova realidade ditada sobretudo pela tecnologia, ficar preso a modelos arcaicos de produção é ignorar o presente e, principalmente, o futuro. Portanto, destaca o CEO, é preciso "repensar esse formato".

"Já era um velho sonho reduzir a jornada de trabalho. Trouxe a discussão para dentro da empresa, tendo em vista que ela já é produtiva, e como o time entrega bem [o serviço] é mais uma forma de compensá-los", disse Evanil Paula em entrevista ao UOL.

"A sexta-feira já é um dia que as pessoas estão cansadas e em um ritmo diferente. Com um dia a mais de descanso, as pessoas chegarão na segunda-feira muito mais dispostas", completou.

A Gerencianet é um fintech fundada há 15 anos em Ouro Preto, Minas Gerais, que atua como uma instituição de pagamento e como sociedade de crédito, financiamento e investimento. O trabalho é feito por por 298 funcionários, habituados a uma "cultura" de trabalho "que permitiu a redução da jornada" de cinco para quatro dias.

Evanil Paula, CEO da Gerencianet Imagem: Divulgação

O dia livre é a sexta-feira, quando a fintech trabalhará no esquema de plantão, com escalas entre as diversas áreas, de forma que alguns colaboradores folgarão na segunda-feira e outros na sexta.

"De toda forma, todos irão trabalhar 32h. São quatro dias de 8h", destacou Paula. A nova forma de trabalho começou a valer neste mês "e os seus desdobramentos serão analisados pela empresa após o período de seis meses", salientou o empresário.

Com a readequação contratual que permitiu a redução da jornada, sem que isso implique em diminuição do salário ou perda dos benefícios já ofertados, os empregados "ficaram sem acreditar", e cresceu a busca por pessoas interessadas em trabalhar na companhia, afirma o CEO.

"No dia que conversamos e comunicamos a novidade, os colaboradores ficaram sem acreditar. Na sequência, foi impressionante o movimento dos colaboradores no LinkedIn, todos postaram depoimentos, um mais bonito que o outro", declarou, reforçando que, após a novidade, a "base de currículos" da Gerencianet "aumentou 100%".

"Ganhamos 10 mil seguidores na semana que anunciamos a novidade nas redes sociais. Os impactos em termos de retenção e bem-estar já são visíveis", garantiu.

Países testam jornada de 4 dias

Realidade ainda incipiente no Brasil, mas defendida por centrais sindicais desde que não acarrete em diminuição de direitos dos trabalhadores, a jornada de trabalho de quatro dias por semana com três dias de folga vem sendo testada em outros países já há algum tempo, e os resultados têm sido positivos, o que indica uma maior aderência a essa novidade, que traz melhorias à saúde dos trabalhadores, sobretudo quando indicadores apontam que a jornada excessiva de serviço provoca milhares de mortes anualmente.

De acordo com dados de um levantamento realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgado no ano passado, cerca de 745 mil pessoas morrem por ano de derrame e doenças cardíacas relacionadas a longas horas de trabalho.

O Brasil ocupa o quarto lugar na lista de países em que até 4% da população está exposta a longas jornadas com 55h ou mais por semana. No geral, o Brasil tem uma das jornadas menos exaustivas do mundo, quando comparado aos países que apresentam percentual grave, que atinge mais de 33% da população — conforme a pesquisa, os moradores do Sudeste Asiático e da região do Pacífico Ocidental são os mais afetados por longas jornadas de trabalho.

A pesquisa descobriu que trabalhar 55 horas ou mais por semana está associado a um risco 35% maior de AVC (acidente vascular cerebral) e 17% maior de morrer de doença cardíaca, em comparação com uma semana de 35 a 40 horas de trabalho. Entre as vítimas fatais, três quartos eram homens de meia-idade ou mais velhos.

Quando não mata, a jornada excessiva de trabalho pode acarretar na síndrome de burnout, caracterizada por um esgotamento profissional, que consiste em uma espécie de estresse crônico, que provoca exaustão emocional, despersonalização e baixo sentimento de realização.

A síndrome de burnout foi descrita pela primeira vez na década de 1970 e, deste então, tem sido cada vez mais tema de debate. A OMS já destaca a síndrome como um problema de saúde grave na contemporaneidade, oficialmente reconhecida como uma doença ocupacional.

Nesse sentido e em busca de propiciar melhor qualidade de vida aos trabalhadores, países como Portugal, Canadá, Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia, entre outros, têm feito testes com esse novo modelo a fim de reduzir a jornada, mas não sofrer perda na obtenção dos resultados e das metas pretendidas.

Para Evanil Paula, da Gerencianet, a redução da jornada de trabalho passará a ser algo natural quando as empresas adotarem um "olhar mais atento aos colaboradores, trazendo-os para uma atuação mais próxima", a fim de que todos "trabalhem com o mesmo objetivo, de agregar valor, não só financeiro, mas também de bem-estar, de entender a necessidade do dia a dia e do atendimento às demandas do cotidiano".

"A partir desse alinhamento de objetivos, a redução da jornada é algo natural. Não faz sentido uma carga horária grande se o time tem esse tipo de engajamento", concluiu Evanil.

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