Impostos precisam ficar mais simples, diz chefe de Yoki e Häagen-Dazs
Beth Matias
Colaboração para o UOL, em São Paulo
01/08/2022 14h40
Waldemar Thiago Junior, diretor-presidente da General Mills América Latina (dona de marcas como sorvete Häagen-Dazs e pipoca Yoki), diz em entrevista na série UOL Líderes que o país é muito complexo e precisava simplificar o sistema tributário para facilitar o funcionamento das empresas. "A parte tributária ficar menos complexa é do que todos nós, consumidores e empresas, precisamos para prosperar", afirma.
Sobre a tensão no período pré-eleitoral, Waldemar Junior diz que será um ano turbulento, mas que a empresa está preparada para reagir de acordo com os acontecimentos. Para aumentar os investimentos estrangeiros no país, ele defende um sistema tributário menos complexo e um ambiente de negócios mais estável.
A General Mills opera em mais de cem países, e o Brasil é um dos cinco mercados prioritários da empresa (fora dos Estados Unidos e Canadá).
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Na entrevista, o executivo fala também sobre a mudança de hábitos dos consumidores durante a pandemia, como o aumento do consumo de pipoca e farofa, e a busca de produtos mais saudáveis.
Além disso, a pressão do aumento de preços tem levado o consumidor, segundo ele, a buscar os "atacarejos", comprando quantidades maiores.
Sobre o fechamento de diversos centros de distribuição da General Mills pelo país, o diretor-presidente diz que as movimentações foram necessárias para que a empresa possa atuar de forma mais eficiente e "libere mais investimento no Brasil".
Ouça a íntegra da entrevista com Waldemar Thiago Junior, diretor-presidente da General Mills América Latina, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube.
Leia a seguir trechos da entrevista:
Menos corrupção
UOL - Qual a percepção dos empresários sobre a corrupção no Brasil?
Waldemar Junior - Na General Mills temos um valor que é "fazer o que é certo o tempo todo". A empresa é conhecida e renomada por operar dessa forma. Para nós, praticamente não sentimos o efeito da corrupção. O que a gente sente é o que a gente lê no jornal. Aqui já se parte do pressuposto, quando vamos interagir com alguém, de que será feito da maneira correta. O que vier ao contrário disso, não será feito.
Eu diria que a gente percebe menos [a corrupção], acho que o país vem fazendo avanços importantes nisso quando olhamos o quanto o assunto ganhou espaço no Brasil hoje, em comparação ao quanto eu ouvia falar quando eu era pequeno, e as consequências de operar de maneira incorreta, tanto para agentes públicos quanto para as empresas. Acho que saber disso tem trazido evolução para o país.
Como o momento de tensão institucional no Brasil, com um período pré-eleitoral, impacta nos negócios?
O Brasil, em anos de eleição, convive com grande volatilidade, e as empresas que operam no país, em geral, sabem disso. Será um ano mais turbulento, mas nos sentimos preparados para poder reagir de acordo com o que vier.
Quais são as mudanças necessárias para melhorar o ambiente de negócio?
Um elemento importante que sempre dificulta muito a operação no Brasil é a complexidade. A parte tributária ficar menos complexa é do que todos nós, consumidores e empresas, precisamos para prosperar.
Quando você tem uma complexidade alta do ponto de vista de impostos, cada Estado ou região do Brasil opera de maneira diferente, você tem não apenas a carga tributária elevada, mas também tem uma complexidade grande para lidar com isso tudo.
O que você precisa, administrativamente falando, para gerenciar isso, é sempre muito custoso e complexo. Se tudo fosse menos complexo o Brasil seria mais rápido, mais eficiente e a gente conseguiria andar melhor.
Atacarejo cresce na crise
A crise econômica e a queda do poder aquisitivo da população impactaram os negócios da General Mills no Brasil?
A situação econômica tem sido muito desafiadora nos últimos anos, então, percebemos o movimento de um consumo maior em casa e da busca por economia. O nosso portfólio foi sendo adaptado a isso.
Lançamos embalagens maiores e mais econômicas. Fizemos isso com farofa e com os salgadinhos de amendoim. A pressão [da inflação] faz com que as pessoas busquem essas embalagens maiores em que os consumidores podem encontrar uma vantagem de preço em relação a outros tamanhos.
Pipoca transgênica
Um dos principais produtos da General Mills é a pipoca. Qual a sua opinião a respeito do milho transgênico?
Os alimentos transgênicos são parte da alimentação de toda a população mundial. [Para] qualquer questão relacionada aos alimentos é importante estar atento àquilo que consumidores ou grupo de consumidores precisam e querem.
Para nós, vai do bom equilíbrio de toda a cadeia alimentar e das necessidades de cada consumidor. Não damos grande destaque para isso nos nossos produtos.
Mas o milho de vocês é transgênico ou não?
No Brasil, a lei diz que quando o alimento é transgênico é preciso informar isso na embalagem. Qualquer produto nosso que não tenha o símbolo de transgênico, não é. Temos todo um trabalho de rastreabilidade para garantir isso.
Então, vocês trabalham com os dois tipos de milho?
Sim, temos os dois produtos.
Falando em milho, durante a pandemia o maior consumo foi de pipoca ou farofa?
As pessoas comeram mais dos dois. As duas categorias cresceram bastante. Imagine o seguinte: quanta gente estava consumindo Netflix e streaming ou então fazendo churrasco em casa?
A situação econômica tem sido muito desafiadora nos últimos anos. Percebemos o movimento de um consumo maior em casa e da busca por economia. O nosso portfólio foi sendo adaptado a isso.
Waldemar Thiago Junior, diretor-presidente da General Mills América Latina
Prazer sem culpa
Qual é o espaço que os snacks têm hoje diante da pressão por alimentos menos industrializados?
Nutricionalmente, precisamos equilibrar bem o que comemos. Podemos nos dar ao gostinho de algo mais indulgente às vezes. No nosso portfólio, trazemos um pouco dos dois. No campo da saudabilidade [neologismo com a palavra saudável], recentemente lançamos a pipoca pronta Yoki. A pipoca já é percebida como um snack mais saudável.
A tecnologia evolui muito no sentido de desenvolver produtos com menos sódio e gordura, mas que ainda mantenham características indulgentes. A nossa pipoca, por exemplo, é o prazer sem culpa.
Novidades na Copa do Mundo
Quais os investimentos que vocês estão fazendo em tecnologia e inovação?
Em relação ao desenvolvimento de produtos, o lançamento recente da linha Kitano Reserva dá uma boa pista do que virá. Uma linha mais premium, com embalagem e mecanismo de uso fácil e resistente. Algumas das tendências daqui para frente estão ligadas a consumos específicos de temperos, por exemplo.
Na linha snacks, acabamos de lançar uma linha de amendoins crocantes e outra de amendoim descascado e temperado. Esse conhecimento que adquirimos em temperos é muito aplicado no desenvolvimento desses "snacks" com sabores que, às vezes, são exóticos ou temáticos. Teremos novidades temáticas para a Copa do Mundo, como fizemos nas festas juninas com pipocas de micro-ondas sabor maçã do amor ou churros.
É preciso ser rentável
No ano passado, vários centros de distribuição foram fechados no Brasil. Foi levado em conta o impacto econômico disso?
As decisões que tomamos sobre nossos centros de distribuição têm a ver com dois fatores principais: atender melhor aos nossos clientes e garantir que a rentabilidade do negócio esteja adequada.
Mudamos a nossa forma de operar. Esse trabalho não deixou de existir, ele continua, mas quem fará agora é uma empresa que tem condições de fazer isso muito melhor do que nós fazemos.
Quando pensamos do ponto de vista das atividades realizadas, continuamos com operação no Brasil inteiro. Temos também por obrigação de ter uma operação mais rentável, para poder investir ainda mais no Brasil.
Aumentamos significativamente o nosso investimento em marketing e também na capacidade produtiva. Recentemente anunciamos um aumento de 30% da nossa capacidade de produção de pipoca no Brasil. Isso é crescimento e renda na veia. As movimentações são necessárias para liberarmos ainda mais investimentos.
Qual o volume de investimento que vocês pretendem fazer aqui?
Acabamos de investir mais de R$ 26 milhões para abrir o nosso maior centro de distribuição na cidade de Extrema, em Minas Gerais, que terá 50 mil metros quadrados. O Brasil é um dos mercados mais importantes para a General Mills no mundo, estamos entre os cinco mais importantes fora dos Estados Unidos e Canadá.