'Não serei ministro', diz Mantega sobre governo Lula
Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda e membro do grupo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou que não será ministro no novo governo.
"O grupo de transição é para ajudar o novo governo a poder governar. As pessoas que estão lá não são um grupo ministerial. É claro que poderão ser escolhidas pessoas que estão lá, mas eu por exemplo não serei ministro. Já estou indicando. Já fui ministro do Planejamento, da Fazenda, e não pretendo ser mais ministro. Eu saio dessa vanguarda e fico na retaguarda, ajudando com conselhos e tudo mais", afirmou em entrevista hoje à GloboNews.
Em críticas ao governo Bolsonaro, Mantega ressaltou que o "mais importante não é definir o ministro" da Economia, já que a "política econômica é do governo, não do ministro. O ministro tem que se enquadrar na política econômica".
Durante seu governo, Bolsonaro se posicionou como um "técnico" de futebol que "escalava" seus ministros. Em diversas ocasiões, o presidente admitiu não compreender temas de economia e passou a responsabilidade para o atual ministro da pasta, Paulo Guedes.
"Eu sou assessor dele [Lula] desde 1993, nós discutíamos a economia, fazíamos seminário. Então o Lula entende de economia. Tem essa diferença", alfinetou Mantega.
Teto de gastos. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Mantega também disse que a disposição atual do teto de gastos "colocou uma camisa de força no Estado brasileiro". O governo de transição trabalha para retirar o Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil na gestão de Jair Bolsonaro (PL), do teto de gastos e analisa uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para isso.
A PEC da Transição (que ainda será votada no Congresso) vai sugerir a excepcionalização não só do Bolsa Família, mas também de outros programas de cunho assistencial. O governo que assumirá a partir de 1º de janeiro de 2023 quer retirar ações sociais do teto de gatos e, dessa forma, garantir a injeção de recursos em relação a iniciativas de combate à fome, farmácia popular, saúde mental, transferência de renda, entre outros.
Os prazos de excepcionalização e condições de recomposição orçamentária ainda estão sendo debatidos pelos congressistas e pelos articuladores ligados ao gabinete de transição.
"O mercado pode ficar tranquilo", falou Mantega em referência aos fechamentos de ontem. "Lula falou muito bem: é a favor do equilíbrio fiscal, sabe que se acumular dívida enorme o país quebra", disse o ex-ministro.
Nesta quinta-feira (10), o dólar comercial fechou em forte alta de 4,14%, cotado a R$ 5,397, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), chegou a registrar queda de mais de 3% ao longo do dia.
O mau humor do mercado ocorreu após o discurso de Lula no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em Brasília, local sede da comissão de transição de governo. O presidente eleito fez críticas à "estabilidade fiscal", ao defender que é preciso colocar a questão social na frente de temas que interessam, segundo ele, apenas ao mercado financeiro.
Mantega também defendeu o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), no qual ele atuou como ministro da Fazenda: "Não dá para dizer que não houve preocupação fiscal".
Segundo o ex-ministro, o "desempenho fiscal foi bom" no mandato dela e "a dívida liquida foi a menor da série: em 2014, era de 32,5% do PIB [Produto Interno Bruto], metade da deixada em 2002 e metade da dívida que hoje o Bolsonaro fez".
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