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Renda de brancos é duas vezes a de pretos e pardos - e a diferença cresceu

Rrendimento médio mensal dos brancos é praticamente o dobro do rendimento de negros, segundo o IBGE - Getty Images/iStockphoto
Rrendimento médio mensal dos brancos é praticamente o dobro do rendimento de negros, segundo o IBGE Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

11/11/2022 10h00

O rendimento médio mensal dos brancos é praticamente o dobro do rendimento de negros (população composta por pretos e pardos), e essa distância aumentou no último ano no Brasil. É o que mostram os dados da segunda edição do estudo Desigualdades por Cor ou Raça, elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com o levantamento, o rendimento médio domiciliar per capita dos brancos em 2021 foi de R$ 1.866 por mês, enquanto os pretos tiveram rendimento de R$ 965 (51,7% do rendimento dos brancos), e os pardos, de R$ 945 (50,6% do rendimento dos brancos). O dado considera todas as fontes de renda de um domicílio.

Ainda que todos tenham tido queda no rendimento mensal de 2020 para 2021, o recuo foi mais intenso para pretos e pardos. Em 2020, o rendimento médio mensal domiciliar per capita de brancos foi de R$ 1.986, enquanto o de pretos foi de R$ 1.058 (53,3% do rendimento dos brancos), e o de pardos de R$ 1.034 (52% do rendimento dos brancos).

O movimento intensificou a distância entre brancos e negros. "Os rendimentos observados em 2021 foram os mais baixos da série, tendo maior redução entre a população preta (8,9%) e parda (8,6%) em relação ao ano anterior, enquanto o rendimento da população branca decresceu em 6%", diz o estudo.

Gráfico Renda por raça -  -

Se considerada só a renda do trabalho, os brancos continuam em vantagem. O rendimento médio dos trabalhadores brancos em 2021 foi de R$ 3.099, ante R$ 1.764 dos pretos, e R$ 1.814 dos pardos.

Segundo o IBGE, pretos e pardos representavam 56,1% da população brasileira em 2021.

Mais negros entre os mais pobres. A pesquisa mostra que pessoas pretas e pardas continuam com menor acesso a emprego, educação, segurança e saneamento.

De acordo com o levantamento, as diferenças "estão relacionadas à maior concentração da população preta e parda na base da estrutura de rendimento". Ou seja: há mais pretos e pardos entre os pobres do que entre os ricos. Eles são 74,8% da população de menor renda, enquanto são apenas 28,2% da camada de maior renda, mostra o levantamento.

Como consequência, a proporção de pretos e pardos abaixo da linha da pobreza é quase o dobro da de brancos. Em 2021, a taxa de pobreza de pessoas pretas era de 34,5%, e a de pardos era de 38,4%, enquanto a de brancos foi de 18,6%. A linha considera o critério de US$ 5,50 por dia, estabelecido pelo Banco Mundial.

Distorções também na ocupação. Pretos e pardos também sofrem mais com a falta de trabalho. Em 2021, a taxa de desocupação foi de 11,3% para a população branca, 16,5% para a preta e 16,2% para a parda.

As distorções ocorrem até entre os que têm mesmo nível de escolaridade. Em 2021, brancos sem nenhuma instrução ou que não completaram o ensino fundamental receberam em média R$ 9,2 por hora trabalhada, enquanto pretos e pardos receberam R$ 7,3.

Entre os que possuem ensino superior completo, enquanto brancos ganharam em média R$ 34,4 por hora, os pretos receberam R$ 22,9 (66,6% do que foi pago aos brancos), e os pardos, R$ 24,8 (72% do que foi pago aos brancos).

Além disso, apesar de serem maioria no mercado de trabalho (53,8%), pretos e pardos ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais em 2021. Enquanto os brancos eram 45,2% do total de população ocupada, mas tinham 69% dos cargos gerenciais. O estudo aponta ainda que, quanto mais alto o rendimento, menor é a proporção de pessoas pretas ou pardas. Na classe de rendimento mais elevada, somente 14,6% das pessoas ocupadas em cargos gerenciais eram pretas ou pardas.

Retrocesso na educação. O acesso à educação também é desigual e isso se agravou com a pandemia. Em 2020, os percentuais de estudantes pardos e pretos de 6 a 17 anos de idade sem aulas presenciais e sem oferta de atividades escolares foram respectivamente 13,5% e 15,2%. Praticamente o dobro do percentual de brancos, que foi de 6,8%.

Com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da covid-19, os dados mostram que a desigualdade no acesso às atividades escolares prejudicou "principalmente os alunos da rede pública, estudantes com menor renda, maioria de pretos ou pardos, moradores da zona rural e das regiões Norte e Nordeste do país", diz o estudo.

O período ainda teve um retrocesso na participação de pretos e pardos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), principal prova de acesso às universidades públicas do país. De 2019 a 2021, a proporção de participantes brancos cresceu de 37,1% para 43,7%, enquanto a de participantes pretos ou pardos caiu de 58%, para 51,8%.

Os anos de pandemia "não levaram somente a uma redução no total de inscritos no Enem", mas também "foram responsáveis por uma quebra na tendência de democratização no perfil dos participantes de cor ou raça", diz o estudo.

Moradias precárias. Com renda menor e menos acesso à educação, pretos e pardos também vivem em moradias mais precárias. Os dados mostram que "os imóveis próprios da população preta ou parda eram em geral menores, apresentavam pior inserção na infraestrutura urbana e possuíam maior proporção de informalidade em relação à documentação que os imóveis próprios da população branca", diz o estudo.

O acesso a saneamento é um dos pontos de maior atenção. Em 2019, 27,8% dos brancos viviam em locais sem coleta de esgoto, dentre os residentes em domicílios próprios. Entre pretos, a proporção era de 36%, e entre os pardos ela salta para 45,9%. A desigualdade é semelhante no acesso à rede de abastecimento de água e à coleta de lixo, diz o levantamento.

Outro ponto é a insegurança de posse da moradia. De acordo com o levantamento, 20,8% das pessoas pardas e 19,7% das pessoas pretas viviam em em domicílios próprios, mas não tinham documentação da propriedade. Entre os brancos essa proporção era de 10,1%.

A cor das vítimas de violência. Pretos e pardos também são mais vítimas de violência no Brasil. Segundo o levantamento, em 2019, 18,3% das pessoas com 18 anos de idade ou mais haviam sofrido violência física, psicológica ou sexual nos 12 meses anteriores. Entre os pretos, a proporção foi de 20,6% e entre os pardos, de 19,3%. Já entre as pessoas brancas, 16,6% relataram ter sofrido algum tipo de violência.

Em 2020, a taxa de mortes de pardos foi de 34,1 mortes para cada 100 mil habitantes. Entre os pretos, a taxa foi de 21,9 mortes. Já entre brancos, ela foi de 11,5 mortes para cada 100 mil habitantes. O estudo ressalta que "a diferença entre as taxas de homicídios de pardos e brancos aumentou ao longo da série". Em 2012, ela era de 2,4 vezes, e em 2020 chegou a 2,96 vezes. Ou seja, morreram quase três pardos para cada branco vítima de homicídio em 2020 no país.

Esta é a segunda edição do estudo sobre desigualdade de cor e raça do IBGE. A primeira foi divulgada em 2019. O levantamento utiliza dados de diversas fontes, como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua 2021, a Pnad Covid-19 2020, o Enem, o Sistema de Informações sobre Mortalidade, a Pesquisa Nacional de Saúde 2019, a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018, dentre outras.