Quem é o brasileiro multimilionário que quer pagar mais impostos

João Paulo Pacífico é o único brasileiro em uma lista de multimilionários de todo o mundo que quer pagar mais impostos. Ele integra um grupo composto por 250 super-ricos que divulgaram uma carta endereçada aos líderes mundiais reunidos em Davos, na Suíça, pedindo que suas fortunas sejam taxadas.

Conheça o milionário

João Paulo, de 45 anos, é signatário da iniciativa Proud To Pay More (Orgulho em pagar mais, na tradução para o português). Outros nomes, como o de Abigail Disney, herdeira da Disney, e do ator Brian Cox também aparecem na lista de assinaturas.

No texto, que foi divulgado na última quarta-feira (17), os super-ricos questionam as autoridades presentes na 54ª edição do Fórum Econômico Mundial, sobre quando serão taxados. "Estamos surpresos de que você não tenha conseguido responder a uma pergunta simples que temos feito há três anos: quando vocês tributarão a riqueza extrema?", diz o início da carta. O grupo alertou para a necessidade de dar esse passo "inevitável" antes que seja muito tarde.

Nosso pedido é simples: pedimos que vocês nos imponham impostos, os mais ricos da sociedade. Isto não alterará fundamentalmente o nosso nível de vida, nem privará os nossos filhos, nem prejudicará o crescimento econômico das nossas nações. Mas transformará a riqueza privada extrema e improdutiva num investimento para o nosso futuro democrático comum.
Proud to Pay More

João Paulo é o único brasileiro na lista. Formado em engenharia, ele é o fundador e atual CEO de Investimentos de Impacto do Grupo Gaia, criado em 2009. João Paulo explica que o negócio, que nasceu como um grupo de investimentos, tinha dois braços — um de impacto social e outro de não impacto social.

A parte de investimentos tradicionais, chamada de Planeta, foi vendida em março de 2022. Em entrevista à Época Negócios, João Paulo afirmou que a securitizadora Opea, do fundo norte-americano Jaguar Growth Partners, foi a compradora, mas ele não pode detalhar os valores da transação.

Os recursos da venda e as ações da Gaia foram doados para a ONG Gaia+. A organização foi criada com objetivo de fazer investimentos de impacto. O Grupo seguiu com o mesmo time, mas todo o lucro passou a ser para causas sociais por meio dos próprios projetos e a companhia deixou de ter um dono.

Em entrevista ao Ecoa, do UOL, em 2022, o executivo disse que acumulou muito patrimônio ao longo da vida, mas que "não precisa mais". Ele entende que acumular mais patrimônio seria ser 'viciado em dinheiro'.

Cheguei a um momento que não faz sentido ter mais dinheiro. Foi por isso que decidi doar a empresa e transformá-la em uma ONG de impacto social. Acredito que quem tem mais saúde precisa ajudar quem tem menos, assim como quem tem mais dinheiro tem de ajudar quem tem menos.

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João Paulo é crítico do mercado financeiro, diz que se trata de um sistema feito para "rico investir em rico". O Grupo Gaia hoje se apresenta como empresa do mercado financeiro que "trocou a competição pela colaboração".

O executivo também se aproximou do trabalho do MST (Movimento Sem Terra). Ele criou uma operação em que qualquer pessoa pode investir no movimento a partir de R$ 100. "As pessoas compraram a partir da B3 títulos para emprestar dinheiro ao MST [e ter rentabilidade com o investimento]", contou ao Ecoa em 2022. "Há um lado muito positivo nesse tipo de investimento de impacto, mas sofri diversas retaliações no mercado e até mesmo em meu círculo pessoal. Há pais de crianças da escola da minha filha que falam mal de mim por eu apoiar o movimento", completa.

João Paulo defende a tributação de forma progressiva (quanto mais patrimônio, mais impostos) e uma renda básica universal. Em sua página oficial do Instagram, ele costuma falar sobre os temas.

Na última quinta-feira (18), por exemplo, ele repercutiu os dados mais recentes divulgados pela Oxfam no relatório Desigualdade SA. O documento, também apresentado em Davos, mostrou que a riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo mais que dobrou (114%) desde 2020. Por outro lado, 60% da população global (cerca de 5 bilhões de pessoas) empobreceu. "Enquanto isso, as pessoas aplaudem bilionários que contribuem com a falência da sociedade", diz.

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