Gol pede recuperação nos EUA: o que explica dívida bilionária da empresa
A Gol entrou com pedido de recuperação financeira nos Estados Unidos nesta quinta-feira (25). O pedido também vale para as subsidiárias da Gol. A aérea não informou qual é sua dívida atual. O último dado divulgado, de setembro do ano passado, é de R$ 20,23 bilhões em dívida.
O que diz a Gol
A empresa fez anúncio via fato relevante. A Gol afirma que tem o compromisso de financiamento de US$ 950 milhões e que valor está sujeito à aprovação judicial. O processo será usado para reestruturar "obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo", segundo a aérea.
A Gol afirma que os clientes vão continuar voando pela companhia e acumulando milhas pelo programa Smiles. "A Gol planeja honrar todas as obrigações com Clientes, incluindo reembolsos de passagens, cupons de viagem e pagamentos ou crédito associados a reclamações de bagagem ou serviços, em conformidade com políticas da empresa em vigor", afirma em comunicado à imprensa.
Relacionadas
A GOL está confiante de que este processo atende aos melhores interesses de seus stakeholders, incluindo colaboradores e clientes, que continuarão a contar com a oferta de voos acessíveis e seguros, além do melhor serviço.
Gol, em nota
O que é Chapter 11
O Chapter 11 é um processo judicial nos Estados Unidos para reestruturação de empresas. "O processo permite que as empresas fortaleçam a sua posição financeira, enquanto continuam a operar normalmente, sujeitas a supervisão e aprovação do sistema judicial dos Estados Unidos", afirma a Gol em nota.
O recurso já foi usado por outras aéreas. Algumas delas são Latam, United Airlines, Delta, Aeroméxico e Avianca Colômbia. Celso Ferrer, CEO da Gol, afirma que o pedido do Chapter 11 foi motivado pelo fato de credores estarem posicionados pela lei dos Estados Unidos, principalmente o do setor de aeronaves.
O Chapter 11 protege o pagamento a fornecedores essenciais para manter a operação, segundo Celso Ferrer, CEO da Gol. O executivo diz que isso garante a normalidade dos fornecedores locais e a operação no país e foi um dos motivos para que a companhia optasse pela reestruturação de dívida nos Estados Unidos.
Dívida da Gol
A Gol tinha uma dívida próxima de R$ 20 bilhões até setembro de 2023. A dívida é principalmente com arrendadores de aeronaves. A empresa afirmou que não deve diminuir a frota de aeronaves disponíveis.
A pandemia, juros altos e valorização do dólar são alguns dos motivos que explicam o valor da dívida da empresa. Em 30 de setembro de 2023, a dívida da aérea era de R$ 18,5 bilhões, um crescimento de 15,9% na comparação com a mesma etapa de 2022.
Empresa levaria quase seis meses para pagar o que deve se usasse tudo o que ganha na quitação da dívida. O indicador de alavancagem financeira — medido pela dívida líquida ajustada versus o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dos últimos 12 meses — ficou em 5,5 vezes em setembro do ano passado.
A Gol contratou a empresa Seabury Capital em dezembro. A companhia é especializada no setor de aviação e foi contratada para reestruturar as finanças da Gol.
Aumento de risco
A Fitch Ratings, empresa de classificação de risco, rebaixou a Gol no começo de dezembro. A Gol tinha classificação CCC+ e desceu para CCC-. A Fitch justificou a decisão dizendo que havia chances crescentes de uma reestruturação de dívida da Gol como resultado de riscos elevados de refinanciamento.
Dívida de curto prazo é maior preocupação. Samuel Barros, doutor em administração e reitor do Ibmec Rio de Janeiro, afirma que a dívida de R$ 3 bilhões, com vencimento em menos de 12 meses, aumenta o risco da empresa no mercado. "Avaliando comportamentos anteriores do caixa da Gol e as expectativas para o ano de 2024, ela tenderá a ter dificuldades para arcar com esses vencimentos de R$ 3 bilhões, o que eleva bastante o risco da empresa no mercado, afirma Barros.
De onde veio a dívida
Os consumidores reclamam que o preço das passagens nunca foi tão alto. Os preços das passagens aéreas subiram 47,24% nos últimos 12 meses. Os aviões estão voando cheios, com ocupação acima de 80% dos assentos e, mesmo assim, a Gol acumula dívidas.
As dívidas de curto prazo eram as que mais preocupavam o mercado. A pandemia também trouxe dificuldades para a empresa. Sem voar, as companhias aéreas acumularam dívidas entre 2020 e 2021. Boa parte dessas dívidas foi renegociada no final de 2022 e começo de 2023. As empresas conseguiram postergar o pagamento para ter fôlego e recuperar o movimento, mas assumiram juros mais elevados (até 100% maiores do que os anteriores).
Depois de chegar a 2% ao ano, a Selic subiu até chegar a 13,75% ao ano, impactando o custo de empréstimos. A Selic ficou em 2% de agosto de 2020 até março de 2021. O BC começou um movimento de alta, até chegar ao patamar de 13,75% em agosto de 2022. Hoje, o BC está promovendo cortes na Selic, que está em 11,75%.
A alta do petróleo e a variação do dólar também prejudicaram o setor. Uma matéria do jornal O Globo afirma que a Gol perdeu créditos com as distribuidoras e que precisa pagar à vista pelo combustível das aeronaves em alguns aeroportos do país. A empresa negou.
Socorro às aéreas
O governo federal vai criar um fundo para financiar a aviação civil. A informação foi divulgada em 24 de janeiro pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Ele também afirmou que o Executivo trabalha para baixar o preço do querosene usado em aviões, e que há "sensibilidade" da Petrobras sobre o assunto.
Ministro diz que há desafios para o setor. Apesar do crescimento de 15,3% na movimentação de passageiros em 2023, o ministro tem afirmado que ainda há desafios para fortalecer as companhias - que se queixam de crise arrastada desde a pandemia de covid-19 - e fala em maior democratização do acesso aos voos.
*Com Estadão Conteúdo.