Os planos da Arezzo&Co pós-fusão, segundo Alexandre Birman
O empresário Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co participou neste sábado (6) da Brazil Conference em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos. Ele falou no painel "A marca Brasil no Mundo" com o ex-reitor de Harvard Nitin Nohria e destacou alguns planos e desafios após a fusão com o Grupo Soma.
O que aconteceu
A Brazil Conference é um evento anual que reúne a comunidade estudantil das universidades de Boston. Com o tema "O Encontro dos Vários Brasis", a 10ª edição da BC acontece neste final de semana e reúne mais de 90 palestrantes e cerca de 1.200 participantes.
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A Arezzo&Co acabou se tornar o maior conglomerado de moda do Brasil. No final de março, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a fusão com o Grupo Soma. O faturamento combinado das duas companhias é de R$ 12 bilhões.
Daqui dez anos, Birman acredita que algumas marcas podem se tornar globais — uma delas é a Farm Rio, marca que pertencia à Soma, o que ele chama de "cereja do bolo" do grupo, vai se tornar uma marca global. "Essa marca tem o 'sabor brasileiro' e a forma como foi distribuída internacionalmente está crescendo em 35% nos últimos 3 anos. Acredito que é apenas o começo, e vai se tornar uma marca global em 10 anos, com certeza. Eu também sou responsável pela parte criativa desse novo grupo, e tem uma marca cereja do bolo que está no meu portfólio então, esperamos que essa marca esteja ao redor em um espaço global", disse o executivo.
Para o Brasil, o principal foco é que o ciclo de vestuário esteja na mesma velocidade da parte de calçado. A empresa também deve focar em sustentabilidade e em ajudar empreendedores do ramo da moda. "[Queremos] Entregar melhores produtos, tendo menos inventários, construindo sustentabilidade, não apenas para os padrões, mas para realmente desenvolver novos modos de crescimento, para ser sustentável em termos de pessoas, os materiais que usamos, para investir em novos talentos".
Ele também falou sobre empreendeddorismo. Uma das nossas ambições em termos de trabalho social é ajudar empreendedores, é ajudar pessoas criativas que não têm a oportunidade de ter um negócio. Hoje meu foco atual é como criar um negócio melhor, mas nós acreditamos que outras categorias podem vir ao longo do caminho, como joias, cosméticos e athleisure [roupas de ginástica que podem ser usadas socialmente]. Nós estamos criando uma estrutura de empresa que no futuro pode ter outros negócios ao invés do que temos hoje".
A Arezzo já detém hoje 40% do market share (fatia do mercado). Ao ser questionado sobre o que motivou a fusão, Birman começa dizendo que a Arezzo tem uma das fábricas mais equipadas do mundo, com uma produção de 60 mil peças por ano para todas as suas marcas.
Segundo ele, o Brasil tem capacidade para produzir do algodão ao produto pronto, sem depender de importação. "Mesmo que o Brasil seja um país sustentável, da plantação de algodão, da importação, do processo e montagem e finalização, isso é espalhado, não é organizado. Não há um software que pode realmente conectar e acelerar o tempo entre desenvolvimento e venda. (...) Para mim, esse é o meu maior desafio e também, como ajudar a moda".
A maioria das fusões fracassa com o tempo, lembra o ex-reitor de Harvard. Apenas uma a cada três operações acaba sendo bem-sucedida. Birman diz, no entanto, que está plenamente ciente da probabilidade — e que foi alertado. O principal motivo para o sucesso da operação é unificar o melhor da cultura das duas empresas e torná-la uma só.
"Eu e o Roberto [Jatahy], fundador do grupo [Soma], realmente aprendemos como ver a fraqueza e as oportunidades em cada um dos estilos. Em uma frase mais curta, nós [Arezzo] somos uma empresa mais pragmática, focada em resultados e indicador de performance. Eles são [focados] em autonomia em liberdade, deixando as pessoas fazerem seus trabalhos com menos controle. Eu acho que nós precisamos de ambos, precisamos de um equilíbrio então, nós estamos muito conscientes disso, dos pontos fracos de cada um, que nós vamos colocar juntos, como nós estamos sendo transparentes com todos da organização e como também nós colocamos todos os detalhes da governança e como nós vamos realmente estruturar a companhia. Eu acho que isso nos coloca em um nível diferente para ser um dos três [casos de fusões que dão certo]", diz o executivo.
Nós não estamos aqui para falhar nós sabemos que os desafios são normais nós estamos falando de 24.000 pessoas, 2.000 lojas 13 bilhões de reais em venda 30 diferentes marcas. Nós estamos conscientes do desafio.
A história da marca
Alexandre explica que tudo começou com o seu pai em 1972, que criou a marca Arezzo. O nome foi inspirado em uma cidade na Itália, que fica na região da Toscana.
Ele diz que a Arezzo&Co é, antes de tudo, o resultado entre a parceria pai e filho. A empresa foi criada após a fusão entre Arezzo, empresa do pai, e a Schutz, criada por Birman em 1995.
Ao falar em negócios, o executivo reitera a importância de se fazer coisas e arriscar, além de estudar. "Eu acredito que aprender é um processo constante. Claro, quando você pausa para ir a uma conferência, quando você lê um livro, são momentos dedicados [ao aprendizado]. Mas eu tenho que dizer que, para mim, é um processo fluido, 24 horas, 7 dias por semana. Você sempre vai aprender".
Ele diz que aprendeu muito sobre negócios com o pai. A principal lição é focar sempre no cliente, estar na linha de frente e "não complicar as coisas demais". "Meu pai nunca tinha um escritório. Ele trabalhou, a maior parte do tempo, seja na fábrica, nos primeiros 20 anos, ou na loja. Ele realmente é alguém que trabalha com clientes. E ele sempre disse que quando você tem um problema, você vai às lojas. A única forma de resolver um problema é aprendendo com o cliente. Não passe muito tempo nas reuniões infinitas. Ele nunca olhou muito em informações financeiras muito detalhadas. Ele só olhou em geração de dinheiro. Se eu gerar dinheiro, eu acho que tudo do topo está indo bem".
Ele explica, no entanto, que o pai, que começou fazendo pares de sapatos há 52 anos, sempre trabalhou para não falir — e não para conquistar. Birmann acredita que esta diferença entre eles seria um motivo de admiração.
Nós começamos a crescer na aquisição há três anos e meio. É uma ligação entre estabilidade e risco. Então, aprender como lidar com o processo de eliminação é algo novo para mim, que eu estou aprendendo muito. Mas nós estamos avançando, nós estamos aumentando o nosso mercado. Então, meu pai diria 'eu admiro como você faz bem com a estabilidade e como você gosta de ser pressionado e tomar riscos'.