No Boticário, herdeiro não tem lugar garantido na empresa, diz executivo
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
19/06/2024 04h00
O Grupo Boticário é uma empresa de controle familiar altamente profissionalizada e que nenhum herdeiro tem lugar garantido na companhia. É o que disse o empresário Artur Grynbaum, 55, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário, ao "UOL Líderes", videocast do UOL Economia que entrevista líderes do mundo empresarial.
A empresa nasceu em Curitiba (PR), em 1977. Hoje, o Grupo Boticário tem lojas em cerca de 1.750 municípios e está presente em 50 países. São duas fábricas —São José dos Pinhais (PR) e Camaçari (BA)— e é dono de marcas famosas, como O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice?, O.U.i e Vult.
Ter uma empresa de controle familiar não tem nenhum pecado. Nós somos uma empresa de controle familiar. Somos dois cunhados que somos sócios e proprietários do negócio, mas temos uma gestão profissionalizada há muitos anos.
Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
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Não há lugar garantido na empresa. "Para você sentar em qualquer cadeira da empresa, você tem que trazer sua contribuição, entregar performance. Não tem lugar garantido, ou seja, minhas sobrinhas não têm lugar garantido, eu não tinha lugar garantido. Tem que estar sempre tendo uma entrega acima da expectativa da cadeira para você poder se manter, e é assim que tem que ser feito", declarou.
Segundo ele, as duas sobrinhas, já adultas, estão sendo preparadas para o Conselho da empresa. Já Grynbaum tem dois filhos pequenos, de 5 e 7 anos.
A besteira é quando você tem as cadeiras destinadas por cargo familiar. Essa cadeira da minha sobrinha, essa cadeira do meu filho, aí não funciona. E a gente sempre soube separar muito bem isso desde o início das operações.
Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
Grynbaum disse que o lucro é importante, mas "a graça é como a gente chega no lucro". "Claro que lucro é importante para o negócio, não tem dúvida nenhuma. O lucro garante o nosso futuro, a nossa saúde. Mas, no fundo, a graça é como a gente chega no lucro. Ele não pode ser o objetivo, ele tem que ser o resultado que a gente faz", declarou, na entrevista.
Tem uma frase que todos os nossos colaboradores cansam de ouvir de mim durante a sua jornada 'O resultado que a gente gera é tão importante como a forma que a gente gera esse resultado'.
Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
Empresa não vai abrir capital
Abrir o capital não faz parte da estratégia da empresa no momento. Segundo Grynbaum, para fazer uma abertura de capital, a empresa teria de ter um propósito diferenciado. "E hoje eu não consigo enxergar nem no curto e no médio prazo", afirmou, na entrevista.
Há a estratégia que cada organização escolhe para poder fazer frente aos seus sonhos, ao seu desenvolvimento. Nós optamos por permanecer fechados, porque nós hoje conseguimos suprir todas as necessidades de investimento que nós temos. Eu tenho, na verdade, a geração própria que nós temos de resultado no ano.
Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
Para ele, hoje o mercado financeiro evoluiu muito. "Isso me dá diferentes opções também para tomar recursos que podem ser necessários para o nosso desenvolvimento", disse. Uma delas são os franqueados. "A própria questão do franqueado, que é importante, porque o franqueado faz o investimento na loja dele, faz o investimento no negócio. Eu ainda sempre trago a equação que quem trabalha com franquia já fez uma abertura de capital", declarou.
A diferença é que o franqueado não só coloca o dinheiro. Ele tem que botar o dinheiro e tem que trabalhar junto. É que nem a academia. A franquia é que nem a academia. Porque não adianta você pagar mensalidade para achar que você vai ficar com o corpinho em dia. Você tem que pagar mensalidade e tem que suar lá, malhar para poder fazer. E assim é a franquia.
Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
[As pessoas dizem que] Você deveria abrir o capital porque deveria monetizar uma parte do que você tem hoje. Pode ser, mas nosso prazer não é esse. Nosso prazer é gerar oportunidades, criar oportunidades para as pessoas.
Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário
Empreendedorismo no Brasil
Para Grynbaum, o empreendedorismo é a "única forma de a gente fazer esse Brasil ir para frente". "A forma que a gente tem de oferecer oportunidade de trabalho para as pessoas é por meio de empreendedores, que vão gerar seus negócios, vão oferecer, através dessa oportunidade de trabalho, dignidade para as pessoas poderem ter uma identidade profissional, fazer um sustento adequado das suas famílias e ter uma condição digna de vida", declarou.
Mas é preciso se planejar para isso. "O conselho para esse empreendedor que tem a vontade, tem a gana, é para planejar um pouco, investir tempo conhecendo o que vai fazer, conhecendo o mercado em que ele vai se colocar, entenda o ambiente no qual ele está colocado, busque enxergar que diferenciais pode fazer", afirmou.
Ações de sustentabilidade
A empresa faz ações para chamar atenção para temas importantes da marca, como sustentabilidade e conscientização ambiental. Grynbaum disse que uma das ações foi o "Projeto Extinto": criação de uma fragrância que reproduz fielmente o cheiro da parte não poluída da Baía de Guanabara, no Rio.
O Grupo Boticário criou uma fundação de proteção ambiental em 1990. "No fundo, a gente busca inspiração muito mais do que nós queremos transmitir, nos cuidados que nós achamos relevante passar e, mais do que isso, ajudar a influenciar na formação da opinião das pessoas para trazer um contexto, uma visão e uma ação sobre o tema", declarou.