'Só quero meu dinheiro': vendedores do Enjoei narram perrengue para receber

Ela tinha um brechó online na plataforma desde 2018, com mais de cem peças para venda. Segundo afirma, todos os produtos foram retirados do ar sem aviso prévio há cerca de oito meses. Larissa diz que nunca teve explicações sobre o que aconteceu ou quais regras teria infringido.

Larissa tem cerca de R$ 2.600 para saque, mas que estão bloqueados, segundo afirma. A soma correspondente a roupas que ela já vendeu e até já entregou aos clientes. Quando os problemas dela começaram, outros R$ 1.500 constavam em processo de liberação —quando o produto foi enviado, mas o consumidor ainda pode desistir da compra.

Agora, quando Larissa tenta sacar o dinheiro, a mensagem que aparece no aplicativo e no site é de que o saldo está bloqueado por segurança, diz ela. "Abri 10 chamados no Reclame Aqui, no Procon e no consumidor.gov. Enviei uma notificação extrajudicial, mas não tive nenhuma resposta positiva. É sempre a mesma resposta robotizada."

Os termos de uso do Enjoei informam que a empresa pode, a qualquer tempo e exclusivo critério, suspender ou cancelar, temporária ou definitivamente, o cadastro e anúncios de seus usuários. O mesmo valeria para o saldo.

Nós podemos --baseados em critérios de risco definidos internamente-- suspender, provisória ou definitivamente, o pagamento de valores decorrentes de vendas efetivadas por intermédio de suas contas que estiverem passando por processo de análise de risco e de segurança.
Termos de uso do Enjoei

Larissa também relata problemas com a modalidade "pro" da marca, em que as taxas são mais altas em troca de facilidades para a vida do vendedor. Quem opta por isso não precisa tirar foto dos produtos: envia-os para uma central, que é responsável por toda a logística. "Eu mandei 50 peças e somente 20 foram aceitas. As outras 30 eu nunca mais vi. Eles alegam que eu não fiz o pagamento de um boleto, mas não foi enviado boleto", afirma ela.

Não quero nunca mais abrir esse aplicativo, porque eles não dão suporte. Só quero o meu dinheiro. Abri um processo administrativo no Procon e não tive retorno. Agora abri um processo nas pequenas causas e estou aguardando a audiência.
Larissa Pereira

A loja era uma de suas principais fontes de renda. Agora, ela está participando de feiras e tenta negociar pelo Instagram. O volume de vendas, no entanto, é menor do que pelo Enjoei. Ela precisou fazer um empréstimo para pagar o aluguel.

Caso não é único

Larissa procurou as redes sociais da plataforma e se deparou com outros vendedores com problemas semelhantes. "Na época, eu achava que tinha sido denunciada por alguém ou que fosse só um erro mesmo, mas depois vi pessoas com o problema igualzinho ao meu."

Ao ver os relatos, ela criou um perfil no Instagram para divulgar os problemas. Depois, fez um grupo no WhatsApp que conta com 30 membros.

Postagens na página do Enjoei no Reclame Aqui também trazem relatos semelhantes. Apenas em um dia, pelo menos duas pessoas relataram problemas parecidos.

Os vendedores ainda alegam falta de transparência e problemas no contato com o suporte do marketplace. Segundo eles, a assistência se restringe ao envio de emails e mensagens padronizadas.

Quero saber quais regras ou comportamento errado tive dentro da plataforma que justifique me bloquearem e impedirem o pagamento das minhas vendas que inclusive já chegaram aos seus respectivos destinos.
Vendedora de Manaus, no Reclame Aqui

"O saldo da minha conta foi bloqueado, são R$ 3.430 já liberados [para saque] e mais R$ 3 mil em andamento. Entendo que minha conta está suspensa, mas se o saldo já está disponível para saque, então não há motivos para mantê-lo bloqueado", comenta outro de São Paulo.

O que diz o Enjoei

Por meio de nota, o Enjoei informou que tem "diversas medidas para garantir que cada usuário tenha uma experiência segura e confiável ao comprar e vender produtos" e que atua para combater a comercialização de produtos contrafeitos e atividades suspeitas.

Quaisquer usuários que não estejam em conformidade com as boas práticas adotadas pelo marketplace têm seus anúncios e contas bloqueadas, com eventual suspensão de seus saldos. Após analisados os casos, a conta é liberada, total ou parcialmente, com a maioria das situações resultando na liberação dos saldos.
Enjoei, em nota

"O Enjoei afirma que colabora de maneira proativa com órgãos reguladores para garantir que as práticas de mercado estejam alinhadas com as melhores normas e regulamentos do setor", afirma.

Em nota complementar enviada após a publicação da reportagem, o Enjoei afirmou que "possui diversas medidas para garantir que a experiência dos usuários seja segura e confiável ao comprar e vender produtos na plataforma".

"Neste caso [de Larissa], a empresa identificou que a vendedora havia violado os termos de uso da plataforma ao anunciar produtos falsificados em sua loja. Com isso, após o período de avaliação, a sua conta foi suspensa", afirma a plataforma.

O Enjoei reforça que é totalmente comprometido com o combate à pirataria no Brasil e que que colabora de maneira proativa com órgãos reguladores para garantir que as práticas de mercado estejam alinhadas com as melhores normas e regulamentos do setor. Nota do Enjoei