Água, vinho e cachaça em lata: é sustentável, mas nem sempre mais barato
Juliana Moraes
Colaboração para o UOL, em São Paulo
14/08/2024 05h30
O mercado brasileiro de bebidas em latas de alumínio está voltando a crescer. Depois de sentir os impactos econômicos no pós-pandemia e registrar um aumento de 1,7% no setor em 2023, a Associação Brasileira de Latas (Abralatas) prevê expansão de 5% neste ano no segmento. Esse crescimento é impulsionado não por refrigerantes ou cervejas, mas, sim, com água em lata.
Somente no ano passado, foram 32,3 bilhões de latas comercializadas no Brasil. A demanda por água enlatada avançou 74,6% em comparação com o ano anterior, segundo a Abralatas.
Minalba foi pioneira
A primeira água em lata no Brasil foi lançada pela Minalba em 2020. Segundo a empresa, o lançamento veio como estratégia para se diferenciar da concorrência. "Uma das nossas missões é explicar que água não é tudo igual. E como a gente quebra o código da categoria para fazer ele [o consumidor] pensar diferente? Começa pela jornada de inovação, que passa pela lata", diz ao UOL Christina Larroude, diretora de marketing da Minalba.
O lançamento, ainda na pandemia, só teve seu "boom" dois anos depois, com um 'meme' na internet. Em outubro de 2022, o jornalista e editor-chefe do Jornal Nacional, William Bonner, abriu uma lata de água ao vivo durante a apuração da votação nas eleições presidenciais de 2022. O barulho da latinha abrindo logo foi associado à cerveja pelos telespectadores, que, então, viralizaram o momento nas redes sociais. "Foi quando trouxe o conhecimento [dos consumidores] para a categoria. Ficaram sabendo que existia uma água em lata", declara Christina.
Outras marcas também entraram no segmento. A marca Dane-se, do empresário Gregório Machado, nasceu com latinhas de água com um marketing inspirado na cultura punk. Recentemente, a empresa firmou parceria com a Bioleve. "A gente queria transformar a água em algo 'legal' a se tomar, socialmente falando", diz.
É mais ecológica
A cadeia de reciclagem do alumínio é bem desenvolvida no Brasil. Uma pesquisa conduzida pela Recicla Latas mostrou que, nos últimos 15 anos, o Brasil manteve a média de reciclagem de alumínio acima de 95%, um dos maiores índices do mundo. Já com o plástico, só cerca de 25,6% do material pós-consumo foi recuperado em 2022, apontou pesquisa da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).
A Ball Corporation, líder global na produção de latinhas de alumínio, aponta que as latinhas comercializadas na América do Sul têm cerca de 85% de conteúdo reciclado por embalagem.
Tem vantagens, mas preço da água aumenta
O transporte de latas de alumínio é mais eficiente. "O formato é muito eficiente logisticamente, você pode empilhar melhor do que a garrafa de plástico", diz Christina, da Minalba.
Além disso, o alumínio gela mais rápido a bebida e preserva melhor seu conteúdo. "Na latinha, temos quase o dobro da validade do que nas garrafas plásticas", afirma Christina.
Um dos principais desafios, se não o maior, é o preço. "A embalagem de metal de alumínio é duas a três vezes mais cara do que o plástico. É uma das razões pela qual a conversão do mercado não é mais rápida. O consumidor quer uma embalagem mais ecológica, mas não quer ter que pagar mais por isso", diz Christina.
Nova aposta para vinhos, espumantes e drinks
Já na substituição do vidro por lata de alumínio, porém, o preço se torna mais atrativo. Este é o caso para vinhos e espumantes que apostam na venda de latinhas. "Acaba sendo um pouco mais barato que a garrafa, e a gente ganha muito na logística de transporte", diz Lucas Aguiar, CEO da Lovin' Wine.
A latinha também facilita o consumo dessas bebidas alcoólicas em outras ocasiões. "A lata faz muito sentido para as ocasiões de consumo no Brasil", diz Aguiar.
Lançaram espumante em lata para facilitar o consumo. "O espumante, por exemplo, é um produto muito formal, de ocasiões específicas. Olhamos para o mercado e nos perguntamos qual era essa barreira que complica o consumo: abrir e ter que beber a garrafa inteira. Nosso objetivo é descomplicar e simplificar", afirma.
Os drinks não ficam para trás. Thiago Henrique, da cachaçaria Triunfoice, que vende drinks de cachaça, diz que a opção em lata é permitida em eventos fechados. "A lata nos dá acesso a shows e boates, onde a garrafa de vidro não é permitida", afirma.
"A grande vantagem de usar latas de alumínio é ter um produto com acesso a todos os ambientes e que a embalagem é completamente reciclável, o que nos dá mais tranquilidade em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos", diz Henrique.