Bolsa fecha em alta, se aproxima de marca histórica, mas dólar sobe
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL, em São Paulo
14/08/2024 10h07Atualizada em 14/08/2024 17h55
Pela sétima vez consecutiva, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta. Depois que dados sobre a inflação americana divulgados hoje aumentam as chances de cortes de juros nos Estados Unidos em setembro, o Ibovespa engrenou e passou a marca dos 133 mil pontos. Assim, o índice se aproxima do pico histórico, de 134,4 mil, atingido no último pregão de 2023.
O Ibovespa fechou a sessão subindo 0,69%, indo a 133,317,66, conforme dados preliminares. O dólar, porém, interrompeu a sequência de seis dias em baixa e terminou a jornada com valorização de 0,35%, indo a R$ 5,469. O Turismo ia a R$ 5,681 (venda).
Relacionadas
O que aconteceu?
A inflação dos EUA subiu conforme o esperado em julho, impulsionada por custos mais altos relacionados à moradia. O índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês), a medida oficial do custo de vida dos Estados Unidos, foi divulgado pela manhã. O indicador mostrou aumento 0,2% no mês, colocando a taxa de inflação de 12 meses em 2,9%.
O mercado esperava algo entre 0,2% e 3%. A taxa anual é a mais baixa desde março de 2021, de acordo com o relatório do "Bureau of Labor Statistics". A inflação geral foi de 3% em junho.
Por que isso é importante?
Isso significa que as chances de o Federal Reserve (o banco central dos EUA) cortar juros no mês que vem aumentaram. O mundo todo espera esse momento. Juros menores lá fazem o dinheiro de investidores internacionais sair do Tesouro Americano — a aplicação mais segura do mundo — e voltar para Bolsas de outros países, inclusive de nações emergentes, como o Brasil.
De quanto podem ser os cortes?
"As apostas indicam que o ciclo abre com um corte de 0,25 ponto porcentual", diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad. O primeiro corte deve acontecer no início do mês que vem. Depois, segundo ele, espera-se mais um corte 0,75 p.p para as duas reuniões finais deste ano.
E o dólar?
O dólar oscilou, chegou a cair, mas terminou o dia em alta devido a vários fatores econômicos e políticos. É o que diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. Uma reportagem desta terça-feira (13) da Folha de S. Paulo aponta suposta irregularidade na conduta do ministro Alexandre de Moraes, que teria violado regras formais quanto à produção de provas e envio de dados entre tribunais.
Além disso, o feriado que fechava bancos no Japão acabou. Com isso, as operações de "carry trade" voltaram. Os investidores retiram dinheiro do Brasil para pagar empréstimos feitos no país oriental, onde o juro aumentou e tornou essas operações menos rentáveis. "No Japão, ficou mais caro tomar recurso, ainda que seja um dos menores juros do mundo", explica Gusmão.
A perspectiva de corte de juros nos EUA também impulsiona a moeda americana. Mas as chances de o corte ser leve demais assusta. Por isso a moeda americana se valorizou. "Alguns investidores viram que o núcleo do CPI acelerou em relação ao dado do mês passado e por isso acham que os cortes vão ser menores do que se espera", diz Ariane Benedito, economista especialista em mercados de capitais.
Com essa especulação, parte dos investidores ainda prefere ficar no Tesouro americano e isso fez o real se desvalorizar.
E as vendas no comércio varejista no Brasil também desanimaram. Elas caíram 1,0% em junho na comparação com o mês anterior, quando cresceram 0,9%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje (14) pelo IBGE. "Isso desanimou um pouco o mercado", completa Ariane.
Entre as altas de destaque, Cemig (CMIG4) chamou atenção após apresentar balanço bem positivo. A empresa de energia teve lucro líquido de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre de 2024, alta de 35,6% em relação aos R$ 1,2 bilhão do mesmo intervalo de 2023. "Além disso, a empresa anunciou o pagamento de dividendos extraordinários de R$ 1,45 bilhão, que animou os investidores", diz Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me banco. O papel fechou em alta de 8,65%, indo a R$ 12,05, conforme dados preliminares.
Na contramão, as empresas ligadas à mineração não foram bem. O desempenho das siderúrgicas chinesa continua fraco, assim como a demanda por ferro," diz Rodrigo Moliterno, especialista em renda variável da Veedha Investimentos. Vale (VALE3), por exemplo, caiu para R$ 55,87, encolhendo 1,15%, conforme dados preliminares.
Mesmo com esses percalços, Moliterno acredita que a Bolsa pode, já nos próximos dias, bater a marca histórica e passar dos 134,4 mil pontos.