Consumidor poderá optar por energia eólica, diz presidente da Vestas na AL
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
29/08/2024 12h00
No futuro, o consumidor brasileiro poderá decidir qual tipo de energia quer receber em casa. É o que diz Eduardo Ricotta, presidente da Vestas na América Latina, convidado do "UOL Líderes", videocast do UOL Economia que entrevista líderes do mundo empresarial. "Já é possível em outras partes do mundo. Você tem mercados completamente desregulados [mercado livre]. E aqui no Brasil não vai ser diferente", disse.
Ele deu exemplo da Inglaterra. Segundo Ricotta, o consumidor na Inglaterra escolhe de quem quer comprar energia. E é possível escolher comprar energia de fontes renováveis ou não.
Ricotta diz que o setor vai passar por uma digitalização muito grande também. Com a abertura do mercado livre, segundo ele, a forma de contratação vai mudar também, assim como aconteceu no mercado da telefonia móvel. Ricotta diz que, no futuro, será possível fazer a contratação da energia eólica pelo celular.
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A Vestas, uma empresa dinamarquesa, é líder global em soluções de energia sustentável. É também a maior produtora de turbinas eólicas do mundo. Na América Latina, a empresa atua em 21 países, entre eles o Brasil, onde a companhia implantou uma fábrica própria de turbinas eólicas em 2012, em Aquiraz (CE). Mantém ainda outras oito fábricas associadas (Argentina, Brasil e México) e oito centros de serviços (Argentina, Brasil, Caribe, Chile, México e Uruguai).
Sobre o mercado livre
O mercado livre é o segmento em que o consumidor de energia elétrica pode escolher o seu fornecedor e estabelecer contratos por fonte, prazo ou preço. Vários países já adotam esse modelo (como Japão, Coreia do Sul e Alemanha), e o Brasil está em processo de migração (abertura do mercado livre). Desde janeiro de 2024, consumidores do chamado Grupo A (quem usa alta tensão, como comércio e indústrias que precisam de voltagem acima de 2,3 quilovolts) podem comprar energia de qualquer comercializador que não seja a distribuidora, negociando preços.
O mercado livre existe no Brasil desde 1996, segundo a Vestas. Mas, até o ano passado, as regras para migração restringiam a contratação a esses grandes consumidores. A companhia informa que, conforme a portaria do Ministério de Minas e Energia, a expectativa é que, a partir de janeiro de 2026, os consumidores do Grupo B (consumidores de baixa tensão/voltagem, alguns pequenos negócios e iluminação pública) estejam liberados para migrar ao mercado livre. Em janeiro de 2028, todos, então, poderiam escolher seu fornecedor de energia (incluindo a classe residencial e rural), informou a Vestas.
Necessidade de descarbonização
A gente está no meio de uma transição [energética]. A transição vai levar um tempo para acontecer. Não vai acontecer do dia para a noite. Mas eu sempre falo: a idade da pedra não acabou por falta de pedra. A era do petróleo não vai acabar por falta de petróleo.
Eduardo Ricotta, presidente da Vestas na América Latina
Para Ricotta, há uma necessidade de descarbonização enorme. Ele diz que 30% das emissões de gases com efeito de estufa provêm da indústria, 18% do agronegócio e 16% dos transportes. "A gente precisa descarbonizar. Eu não tenho dúvida que é uma transição que vai levar um tempo, porque é muito difícil e custa muito também fazer essa transição", afirmou.
Acredito que a gente vai melhorando a tecnologia e, ao longo do tempo, vai fazendo uma transição para um mundo melhor, onde a gente consegue ter uma descarbonização de verdade no planeta inteiro.
Eduardo Ricotta, presidente da Vestas na América Latina
Zero emissões de carbono
Na entrevista, Ricotta afirmou que a meta é ser uma empresa com zero emissão de carbono até 2030. A Vestas tem adotado medidas para isso. Uma delas é ter uma frota 100% de carros elétricos. "Nós temos uma frota muito grande de carros, mas a gente quer ter 100% elétrico. Essa é uma ambição que a gente tem", afirmou. Outra medida é ter torres com 50% menos de emissão de CO2.
Transformar a energia eólica em hidrogênio verde já é uma realidade. Ricotta disse que esse é um movimento forte da própria indústria. Ele citou o exemplo da Maersk, companhia de logística, que hoje consome combustíveis fósseis nas embarcações. "Eles têm mais de 700 navios. E eles têm uma solução, ao longo dos próximos anos, para passar todos os navios para um combustível com menos emissão de carbono", disse Ricotta. Outro exemplo é de um cliente da Vestas que está desligando a planta de carvão e migrando para energia renovável.
Melhor vento do mundo
Ricotta disse que o Brasil é um dos melhores lugares do mundo para energia renovável. Segundo ele, atualmente, 7% de toda a produção de energia renovável do mundo está no Brasil.
O Brasil vai ser um celeiro dessa transição energética, diz ele. "Porque aqui venta mais do que nos outros lugares do mundo", afirmou.
Nós estamos em 90 países, e a gente mede os ventos em 90 países. E eu posso te garantir com segurança que o Brasil tem o melhor vento do mundo.
Eduardo Ricotta, presidente da Vestas na América Latina