'Alta dos juros não é baseada em números de curto prazo', diz Campos Neto

O presidente do BC (Banco Central) afirmou nesta quinta-feira (26), que a decisão pela primeira elevação dos juros desde agosto de 2023, de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano, não considerou as perspectivas de curto prazo para a inflação. Durante entrevista coletiva para apresentar o RTI (Relatório Trimestral de Inflação) do terceiro trimestre, ele descartou a discussão pela elevação de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, para 11% ao ano, no veredito da semana passada.

O que aconteceu

Campos Neto revelou dados que determinaram alta da Selic. O presidente do BC destaca que a alta de 0,25 ponto percentual na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) não foi resultado da inflação recente e destacou o aquecimento do mercado de trabalho e da economia como preocupação para o futuro dos preços. "Nossa decisão não é baseada em um número de curto prazo, a gente tenta olhar um conjunto de dados", declarou ao avaliar a alta abaixo das expectativas da prévia de inflação de setembro.

Iniciamos o ciclo [de alta da taxa Selic] dizendo que entendemos que existe um mercado de trabalho apertado, com o crescimento revisado para cima, as expectativas de inflação que estão piorando, o hiato do produto positivo e as nossas projeções e o balanço de riscos que ficou assimétrico.
Roberto Campos Neto, presidente do BC

Presidente do BC nega discussão por alta maior no encontro. Questionado sobre uma eventual elevação de 0,5% ponto percentual da taxa Selic na semana passada, Campos Neto garantiu que a magnitude não foi considerada e reforça que todas as ponderações são incluídas na ata das reuniões."Se algum grupo tivesse considerado uma alta de 0,5 ponto percentual, a gente teria escrito na ata.", disse ele.

Ele reconheceu discordâncias com o mercado financeiro. Para Campos Neto, as decisões do Copom olham para as projeções de crescimento, o hiato do produto e o que está espelhado na curva de juros. "Em alguns momentos pode ter uma incoerência entre uma coisa e outra, uma trajetória e outra, e cabe a nós explicar porque entendemos que isso não acontece", observa.

Campos Neto deixa em aberto as próximas definições da Selic. Ele destaca que as decisões serão tomadas com base nos próximos números da economia. "Tem alguns elementos que geram incertezas", pondera. "A gente precisa de mais dados e mais tempo para entender como isso vai se dar mais para a frente", complementa.

Retomada do ciclo de altas não representa a correção de erros do passado, avalia Campos Neto. Prestes a deixar o comando do BC, ele ressalta que as decisões monetárias são mais sensíveis em países emergentes e precisam ser revistas mais esporadicamente. "[Ao definir os juros] A gente considera que naquele momento, com as informações que se tinha, era o curso a ser seguido, mas ao longo do curso você pode dizer que aqueles dados não trouxeram a verdade", explica ao garantir o compromisso com a transparência em busca do "menor custo para a sociedade".

Debate considera a Selic como ferramenta para conter a inflação. Principal instrumento de política monetária para limitar os preços, a taxa básica de juros determina o consumo das famílias e tende a elevar a inflação ao ser reduzida. Quando a Selic sobe, os investimentos ficam mais atrativos e o menor volume de compras abre caminho para uma inflação menor.

Revisão do PIB

Banco Central elevou a expectativa de alta do PIB em 2024. A atualização prevê um avanço de 3,2% da economia neste ano. Diogo Guillen, diretor de política econômica do BC, avalia que a revisão considera o crescimento econômico acima das expectativas no segundo trimestre.

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Nova projeção estima resultado melhor de todos os setores. O novo relatório revistou as apostas de crescimento da indústria (de 2,7% para 3,6%) e do setor de serviços (de 2,4% para 3,2%). Para a agropecuária, a nova perspectiva é de uma queda de 1,6%, variação menor do que a estimada em junho (2%).

Autoridade monetária vê desaceleração da atividade. As revisões mostram que haverá uma desaceleração do ritmo de crescimento da economia nacional neste segundo semestre. Para 2025, a autoridade monetária estima alta de 2%. "Espera-se um menor ritmo de crescimento no segundo semestre de 2024 e ao longo de 2025", destaca a apresentação de Guillen.

Aumento do consumo das famílias chama atenção do BC. Segundo Guillen, o indicador "tem chamado atenção" e motivou uma atualização da projeção de 3,5% para 4,5% entre julho e setembro.

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