Bolsa fecha em alta com mais medidas de estímulo na China, e dólar cai

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou nesta quinta-feira (26) em alta, com o Ibovespa subindo 1,08%, a 133.009 pontos. Novas medidas para acelerar a economia chinesa ajudaram principalmente ações de empresas exportadoras, como a Vale (VALE3).

O dólar teve baixa de 0,59%, indo a R$ 5,443. O dólar turismo fechou a R$ 5,64.

O que aconteceu

A China deve emitir títulos especiais no valor de cerca de 2 trilhões de yuans (US$ 284,43 bilhões) ainda este ano. Essa seria a segunda parte do pacote de estímulos para a economia e combate às fortes pressões deflacionárias. As informações ainda não foram oficializadas.

Desta maneira, o Ibovespa avançou, impulsionado principalmente pelas ações da Vale. A China é o maior mercado da mineradora. VALE3 avançou para R$ 64,24, com ganhos de 5,99%, conforme dados preliminares.

Há dois dias, na terça-feira (24), o Banco Central da China lançou um pacote que inclui cortes de juros e novos financiamentos para a compra de ações. Houve também queda no juro para empréstimos hipotecários já existentes e providências para conter a crise imobiliária.

No total, a injeção de liquidez soma 1 trilhão de yuans. São US$ 140 bilhões a mais no sistema financeiro do país oriental. Essas medidas estimulam os investidores, mas não devem ser suficientes para resolver o problema da China. É o que diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "O desafio é evitar que a economia entre numa grande crise. Acho que eles conseguem. Mas dificilmente a China conseguirá crescer 4% este ano como o governo quer", diz o especialista.

Todos os estímulos monetários chineses fizeram o dólar cair. "O mercado falou hoje na possibilidade de até 1 trilhão de yuans em estímulo e um sentimento de menor aversão ao risco global fez com que mais dólares entrassem nas economias emergentes — em especial aqui, no Brasil", diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresa de ouro e câmbio.

A economia da China é importante para o Brasil porque o país é o maior destino das exportações brasileiras. Se a China vai bem, ela compra mais — e mais dólares entram aqui, ajudando a baixar a cotação e diminuindo a inflação.

Petróleo

O preço do petróleo no mercado internacional caiu forte hoje. O barril do tipo brent teve queda de 2,59%, indo a US$ 71,60. Pelo segundo dia seguido, o valor teve queda já que a Arábia Saudita estaria avaliando aumentar a produção. Na Líbia, um acordo abre caminho para o retorno de parte da extração. Aumenta a oferta, cai o valor.

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Assim, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) tiveram baixa. "O pacote chinês não foi suficiente para sustentar os ativos ante as cotações do petróleo, visto que a China junto com os EUA são os países que mais consomem petróleo no mundo", diz Andre Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital. No final do dia, PETR3 foi a R$ 39,54, com desvalorização de 2,44%, enquanto PETR4 perdeu 2,43, indo a R$ 36,18, conforme dados preliminares.

Azul

Outra ação que subiu bastante hoje foi a da aérea Azul (AZUL4), com valorização de 12,16%, a R$ 5,72 (dados preliminares). "A empresa anunciou um acordo com 90% dos arrendatários de aeronaves, propondo converter US$ 600 milhões de dívida em ações, o que representariam entre 20% e 22% do capital social, com um valor estimado de R$ 30 por ação, enquanto o preço atual está em torno de R$ 5. Isso torna a estrutura de capital da empresa mais saudável", diz Gabriel Carris, analista da Aware Investments.

Inflação

Aqui, o Banco Central (BC) elevou a previsão para a inflação em 2024 de 4% para 4,3%. Os dados foram divulgados nesta quinta, na edição de setembro do RTI (Relatório Trimestral de Inflação). A estimativa está 1,3 ponto percentual acima do centro da meta de inflação prevista para este ano, de 3% — mas na margem de tolerância superior.

"Nos próximos meses, a inflação acumulada em 12 meses deve permanecer próxima ao limite superior do intervalo de tolerância, em meio a taxas mais elevadas", diz o RTI.

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Os dados também ajudaram o real a se valorizar. Eles indicaram que a economia doméstica está operando acima da sua capacidade potencial, segundo André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online. "Com os riscos inflacionários, o mercado avalia não haver outra alternativa se não a de intensificar o ritmo de aumentos da Selic", diz ele.

O Itaú, em documento para investidores, também reforça essa posição. "Em nossa visão, tal cenário reforça a leitura de que o recém-iniciado movimento de alta de juros deve se estender ao longo dos próximos meses, em direção à nossa projeção de 12% a.a. para o fim do ciclo", publicou o banco.

Uma Selic mais alta melhoraria a situação para investidores que apostam no chamado diferencial de juros ("carry trade"). Eles emprestam dinheiro no exterior a juros baixos e aplicam na taxa brasileira, bem mais alta. Mas seria pior para Bolsa, já que uma taxa ainda maior prejudica as finanças das empresas e deteriora o valor das ações.

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