Bolsa cai, perde os 130 mil pontos, e dólar fecha em alta, após IPCA
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL
09/10/2024 10h13Atualizada em 09/10/2024 19h08
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou esta quarta-feira (9) em baixa, além de ter perdido o patamar dos 130 mil pontos. O Ibovespa terminou o dia em queda de 1,18%, com o índice marcando 129.962 pontos. Dentre as notícias do dia que impactaram o mercado está a alta na inflação indicada pelo IPCA.
O dólar teve alta forte de 1%, indo a R$ 5,588. O dólar turismo ficou em R$ 5,80.
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O que aconteceu?
Enquanto os juros estiverem altos, a Bolsa não tem como ir para frente. E aí, qualquer notícia negativa é motivo para queda. A de hoje foi o IPCA. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo — a inflação oficial do país — acelerou 0,44% em setembro, divulgou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O encarecimento da energia elétrica foi o principal motivo da alta. Em agosto, o índice havia apresentado deflação de 0,02%. No ano, a inflação acumulada é de 3,31% e, nos últimos 12 meses, de 4,42%. O mercado esperava uma subida de 0,46% no índice de setembro, e um total de 4,43% no acumulado desde setembro de 2023.
A variação não foi surpresa para o mercado, segundo Camila Abdelmalack economista chefe da Veedha Investimentos. Com a bandeira tarifária mais cara e as condições climáticas adversas afetando a produção de alimentos, os especialistas já previam esse aumento.
Os dados de inflação são os maiores balizadores do Banco Central para definição da taxa de juros. A próxima reunião do comitê é em 6 de novembro quando o BC decide os rumos da Selic.
Por que a Bolsa caiu tanto?
O Ibovespa só terá impulso para altas com notícias extraordinárias. Aumentos na cotação do petróleo (que beneficia a Petrobras - PETR3 e PETR4), estímulos à economia chinesa ou alta no preço do minério de ferro (que dão vantagem a empresas exportadoras, como a Vale - VALE3) poderão dar um gás ao mercado. Fora isso, tudo vai ser motivo para queda. No mês de outubro, a Bolsa acumula baixa de 0,23%, segundo a Economatica.
Isso acontece porque o mercado de ações não se desenvolve em um ambiente de juros altos. Uma Selic mais alta aumenta também a dívida das empresas. Isso prejudica o valor das ações. Companhias que precisam financiar seu crescimento, também deixam de crescer ou pagam mais caro por empréstimos. Esse cenário faz o valor dos ativos cair. Então o investidor sai do mercado de ações — para evitar perdas — e vai para a renda fixa, para aproveitar os rendimentos mais altos, atrelados à Selic.
Ata do Fomc
Os juros americanos também prejudicam a Bolsa brasileira. Hoje, os diretores do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) divulgaram que estavam divididos sobre se cortariam ou não as taxas em meio ponto, em setembro. Foi isso o que mostrou a ata do FOMC (Federal Open Market Comittee), equivalente ao Comitê de Política Monetária aqui, divulgada nesta quarta. Na reunião de 16 e 17 de setembro, o Fed cortou os juros em meio ponto porcentual.
A ata revelou que alguns diretores defendiam um corte menor, de 0,25 ponto percentual. Eles buscavam garantias de que a inflação estava caindo e estavam menos preocupados com o cenário de empregos.
Isso aumenta a força das apostas para a próxima reunião de um corte de 0,25 ponto ou de manutenção. "A ata e outros dados que já saíram de lá para cá, como o 'Payroll', corroboram para que o Fed faça cortes menores", diz Patrícia Krause, economista-chefe na América Latina da Coface, empresa de seguro de crédito comercial.
Também podem pressionar a inflação americana os estragos de furacões e alta do petróleo. Hoje, o petróleo WTI desvalorizou 0,45%, negociado a US$ 73,24 por barril. O Brent recuou 0,78%, a US$ 76,58. Mas no mês, a alta acumulada é de cerca de 4%.
Quanto mais alta a taxa americana — ou quanto menos ela cair — pior para o Brasil. Os investidores preferem continuar aplicando no Tesouro Americano, que paga esse percentual de juros, em vez de se arriscar em mercados emergentes, como o brasileiro.
Tanto que o Brasil registrou fluxo cambial negativo de US$ 4,148 bilhões em setembro, em movimento puxado pela via financeira. O Banco Central informou que pelo canal financeiro, houve saídas líquidas de US$ 4,574 bilhões. Por este canal são realizados os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, as remessas de lucro e o pagamento de juros, entre outras operações.
De olho no furacão
Os investidores também estão atentos ao furacão Milton nos EUA. Na Flórida, companhias aéreas, empresas de energia e parques temáticos da Disney e Universal Studios paralisaram suas operações para se preparar para a chegada do furacão Milton ao estado nesta quarta-feira.