Saiba quais são e como estão as pesquisas dos combustíveis do futuro
Bárbara Muniz Vieira
Colaboração para o UOL de Ottawa (Canadá)
15/10/2024 05h30
Combustíveis renováveis como biodiesel, etanol e biometano vieram para ficar. Eles são alternativas sustentáveis, que emitem menos gases de efeito estufa na produção e durante sua utilização, como acontece com a gasolina. E o melhor, já podem ser encontrados à venda. A novidade mais esperada pelos ambientalistas, no entanto, é o hidrogênio verde, ainda em fase de desenvolvimento. Saiba em que pé estão os combustíveis verdes no Brasil e como o país está trabalhando para evitar mais prejuízos ao meio ambiente.
Lei do Combustível do Futuro
Na terça-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei do Combustível do Futuro. A legislação visa promover a mobilidade sustentável de baixo carbono com o objetivo de "consolidar a posição do Brasil como líder da transição energética global". O Brasil, com sua rica diversidade de recursos naturais, está bem posicionado nessa disputa. O Relatório Síntese 2024 realizado pelo Ministério de Minas e Energia e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) demonstrou que 49,1% da geração de energia elétrica no Brasil é proveniente de fontes renováveis como solar, biomassa, biogás, eólica e hidráulica.
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"A demanda por soluções energéticas que equilibrem o trilema energético—segurança, sustentabilidade e competitividade de preços—continua a crescer globalmente. A posição privilegiada do país para a produção de energia renovável colabora muito para que a marca da transição energética no país seja a complementaridade de variadas fontes energéticas."
Aurélio Ferreira, diretor de Marketing e Estratégia da Ultragaz
Hidrogênio verde, a principal aposta
Um combustível que emite apenas vapor d'água. Veículos movidos a células de combustível de hidrogênio, como carros, caminhões e ônibus, já estão em operação em países como Japão, Alemanha e Estados Unidos. O hidrogênio verde não só para ser usado como combustível, mas também na indústria e na produção de eletricidade.
"O hidrogênio de baixo carbono é visto globalmente como o combustível do futuro, que vai desempenhar um papel importante na transição energética global, especialmente em setores que têm maior dificuldade de descarbonizar sua operação, a exemplo da aviação civil, do transporte público, das siderúrgicas e da indústria naval. E isso tem um lado muito positivo: o Brasil tem total condições de ser protagonista desse mercado, uma vez que já é uma potência na geração de energia limpa, o que nos coloca à frente quando ao assunto é transição energética renovável."
Ricardo Gedra, Gerente de Novos Negócios da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE
A América Latina tem potencial para suprir de 25% a 33% da demanda global de hidrogênio de baixo carbono, e que o Brasil tem condições de responder por 10% dessa fatia. Já o Ministério de Minas e Energia contabiliza que cerca de US$30 bilhões em projetos do insumo já foram anunciados no Brasil, país com potencial técnico para gerar 1,8 gigatoneladas por ano do produto.
Como funciona? O hidrogênio verde é produzido através da eletrólise da água, um processo que usa eletricidade para separar a água (H?O) em hidrogênio (H?) e oxigênio (O?). O que torna esse hidrogênio "verde" é o fato de que a eletricidade utilizada no processo vem exclusivamente de fontes renováveis, como energia solar, eólica ou hidrelétrica, sem emissões de carbono. Dentro do carro, a eletricidade gerada pela célula de combustível alimenta o motor elétrico, movendo o carro de maneira semelhante a veículos elétricos tradicionais.
Emissões zero. O único subproduto dessa reação química é a água. Portanto, carros movidos a hidrogênio verde não emitem gases de efeito estufa, tornando-os uma solução ambientalmente amigável.
Como estão os outros combustíveis verdes
Biometano, gás renovável produzido a partir da purificação do biogás. Ele é gerado a partir de resíduos orgânicos, como esterco animal, resíduos agrícolas, lixo orgânico e esgoto, que são utilizados como fonte de biomassa Para transformar o biogás em biometano, é necessário remover o CO? e outros contaminantes, elevando a concentração de metano para mais de 90%.
"Além de contar com um mercado promissor, o biometano desempenha um papel crucial na transição energética do Brasil, especialmente ao substituir combustíveis mais poluentes no setor industrial (como óleo combustível) e no transporte pesado (diesel). Seja nos grandes centros urbanos, aproveitando resíduos de aterros sanitários, ou no interior, utilizando resíduos de usinas sucroenergéticas e da atividade agrossilvopastoril, o mercado de biometano vem atraindo grandes investidores e fortalecendo a inserção do Brasil nas cadeias produtivas comprometidas com metas de descarbonização."
Aurélio Ferreira, diretor de Marketing e Estratégia da Ultragaz
Etanol ganha espaço entre combustíveis. Produzido a partir de biomassa, como a cana-de-açúcar, o etanol começou a ser usado como combustível no Brasil na década de 1970, durante a crise do petróleo. No início, ele foi utilizado apenas como aditivo à gasolina, mas a partir de 1979, o Brasil introduziu carros movidos 100% a etanol. Recentemente, o governo brasileiro anunciou que vai aumentar a concentração máxima permitida de etanol em combustíveis fósseis de 22% para 27%, podendo chegar a 35%.
"O Brasil se posiciona como um país com maior diversidade de fontes de energia renovável tanto para geração de energia elétrica quanto para combustível de veículos. O mais consolidado em termos de tecnologia é o etanol. Boa parte dos veículos leves produzidos ao longo dos últimos dez anos ou mais, são flex, ou seja, conseguem usar gasolina e etanol e isso é uma vantagem boa porque já temos cadeia de produção, distribuição, comercialização e uso."
Pedro Côrtes, professor titular da USP
Diesel verde ou biodiesel, feito com materiais que iriam para o lixo. Diferentemente do diesel refinado do petróleo, o diesel verde é gerado a partir de resíduos domésticos e agrícolas, como bagaço de cana, soja, etanol e óleo de palma. Atualmente, a concentração máxima de biodiesel misturado ao diesel de origem fóssil é de 14%. O governo federal anunciou na terça-feira, 8, porém, que esse número vai aumentar gradativamente até chegar a 20% em março de 2030.