Bolsa fecha em alta após Haddad defender arcabouço fiscal; dólar sobe
Depois de abrir sem direção definida, a Bolsa de Valores engatou num ritmo de alta após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar, nesta quarta-feira (16), que o governo está comprometido em dar "vida longa" às normas previstas no arcabouço fiscal. O Ibovespa terminou o dia com ganhos de 0,54%, indo a 132.749 pontos. O mercado também repercutiu a alta na produção da Vale (VALE3), divulgada ontem.
O dólar, que bateu em R$ 5,69 no início da tarde, chegou a virar o sinal. Mas não durou muito e fechou em alta de 0,14%, indo a R$ 5,664. O dólar turismo ficou em R$ 5,87.
O que aconteceu
Haddad defendeu propostas para garantir a longevidade das normas fiscais. Com isso, ele reanimou os investidores. "Estamos com um desenho de propostas consistentes para que o arcabouço fiscal tenha vida longa. É o que precisamos garantir neste momento para que não paire mais incertezas sobre a trajetória das finanças públicas do Brasil", afirmou o ministro.
Ele também disse que o governo não vai propor a retirada das empresas públicas do arcabouço. "Não há hipótese de isso acontecer", garantiu. Ele explicou que a possibilidade avaliada busca reduzir o aporte federal para que algumas estatais sejam "emancipadas". "Há estatais que podem deixar de ser dependentes", disse.
No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender gastos com saúde e educação, após a entrevista de Haddad. "Toda vez que a gente está cuidando de fazer política social é tratado como gasto", disse ele.
Ontem, a ministra Simone Tebet declarou que "chegou a hora de levar a sério uma revisão de gastos estruturais no Brasil". O plano, disse ela, é endereçar uma série de medidas em três pacotes. O primeiro deve ser apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o segundo turno das eleições e enviado ao Congresso Nacional em seguida. Um outro pacote, mais estrutural, deve ser discutido posteriormente.
Tebet não deu detalhes das propostas. Mas explicou que uma delas tem o potencial de economizar R$ 20 bilhões em gastos. A equipe econômica tem mais de 30 propostas em análise, e o plano inclui uma revisão profunda de políticas públicas ineficientes, que, segundo a ministra, não promovem justiça social.
O mercado gostou das notícias. Se implementadas, elas podem, segundo Idean Alves, especialista em mercado de capitais e sócio da Aware Investments, "reduzir a pressão sobre os juros e a inflação". As falas de Haddad e Tebet já trouxeram o "apetite de volta aos investidores no dia de hoje", disse ele. "As recentes declarações dos ministros do governo indicam um reforço no compromisso com a responsabilidade fiscal e uma mudança de direção", afirmou André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
Segundo ele, desde o início do ano, a estratégia principal do governo tem sido ampliar as receitas para melhorar a situação fiscal. "No entanto, essa abordagem parece não ser mais suficiente para cumprir o Novo Arcabouço Fiscal", completou.
Vale
A mineradora divulgou ontem que atingiu a maior produção de minério de ferro desde 2018. Por isso é uma das altas mais significativas do dia. Com aumento de 5,5% na produção no terceiro trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior, a empresa alcançou seu maior volume em quase seis anos. Assim, as ações VALE3 foram a R$ 62,12, com alta de 1,55%, conforme dados preliminares. Elas representam 11,32% do Ibovespa.
Impulsionada por melhorias operacionais, a produção da companhia chegou a 90,97 milhões de toneladas entre julho e setembro. As vendas cresceram 1,6%, para 81,84 milhões de toneladas.
Dólar
O dólar ganhou novamente valor frente a moedas emergentes, como o real. "O cenário externo, a questão da proximidade com as eleições nos Estados Unidos têm pressionado a taxa de câmbio", disse Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank. O último dia de votação nos EUA é em 5 de novembro. O mercado teme que Donald Trump esteja ganhando vantagem.
"Nem mesmo a perspectiva de cortes de gastos no Brasil conseguiu conter essa valorização hoje", completou Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresas de ouro e câmbio. Segundo ele, também pesaram comentários de Donald Trump sobre tarifas de importação, além da queda no preço do petróleo.
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Tudo depende da situação fiscal do Brasil. É o que disse o estrategista do Morgan Stanley, Nikolaj Lippmann. Segundo ele, a economia está crescendo mais rápido que o esperado e as ações da Bolsa estão baratas.
Mas isso não significa que haverá uma alta nas ações. "O crescimento econômico é uma má notícia para as ações brasileiras porque sabemos que esse mecanismo gera dívida adicional", afirmou. "Para haver uma virada no mercado é preciso que o Brasil jogue junto com o mundo e que os formuladores de políticas reduzam as taxas de juros", disse Lippmann. "E isso só acontece com responsabilidade fiscal."
Sem uma notícia positiva, a Bolsa continuará andando em cima do muro. "Se passar os 131.800 pontos é cenário de recuperação, mas se perder os 129.300 pontos, é baixa no curto prazo", previu Fábio Perina, estrategista de investimentos em ações do Itaú BBA.
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