Bolsa cai, perde os 130 mil pontos, e dólar sobe com temor sobre Trump
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL
22/10/2024 10h17Atualizada em 22/10/2024 17h30
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou nesta terça-feira (21) baixa de 0,31%, com o Ibovespa perdendo o patamar dos 130 mil pontos. Com a queda, o índice chegou a 129.951 pontos.
O dólar teve alta de 0,11%, indo a R$ 5,697. O dólar turismo ia a R$ 5,92. A perspectiva de que Donald Trump possa vencer a eleição nos Estados Unidos vem fazendo a moeda americana subir em todo o mundo. Aqui, a cotação só não subiu mais por conta de um forte movimento de venda, com muito investidor querendo embolsar a alta dos últimos dias. Só em outubro, a divisa já teve valorização de 4,86%. No ano, a alta acumulada é de 17,99%, com dados da Economatica.
Relacionadas
O medo que essa possível vitória causa nos investidores também os afasta de Bolsas emergentes, como a brasileira.
O que aconteceu?
As pesquisas nos EUA vêm assustando o mercado. A vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump estariam empatados, segundo levantamento do Washington Post/Schar School. No estado da Geórgia, Kamala está na frente por 51% a 47%. Mas, no Arizona, Trump venceria por 49% a 46%, ambos os resultados dentro da margem de erro de mais ou menos 4,5 pontos percentuais.
O problema é que os juros poderão voltar a subir com Trump. E isso faz o dólar disparar. Trump prega um crescimento mais robusto da economia no curto prazo, com mais tarifas de importação sobre os produtos estrangeiros — o que impulsionaria a inflação americana. Consequentemente, haveria taxas de juros mais elevadas.
E tudo isso aumenta a aversão ao risco, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. "Possíveis tarifas sobre importações e cortes de impostos corporativos criam um medo no investidor e isso favorece a alta do dólar", afirma ele.
Desta maneira, o índice dólar (DXY) — que mede a variação da divisa contra várias outras moedas — superar ontem e hoje também os 104 pontos — pela primeira vez desde agosto.
Como Trump afeta a Bolsa brasileira?
A perspectiva de mais inflação e juros altos caso Trump vença, faz o dólar subir e, consequentemente, isso afeta os preços no Brasil. "O dólar mais forte aumenta o preço das importações do Brasil e pressiona a inflação. Junta-se a isso a seca e o aumento de preços causado pela energia mais cara. Por isso há quem estime já uma taxa Selic acima de 13% no próximo ano", diz Paulo Gala, economista chefe do Banco Master.
Juros altos são inimigos do mercado de ações. Com eles, as empresas ficam mais endividadas e o valor das ações cai. Assim, em vez de se arriscarem na Bolsa, os investidores tiram o dinheiro do mercado de renda variável para aproveitar altas taxas pagas pelo de renda fixa.
Com tudo isso, a Bolsa vem caindo. Tanto é que o volume de negociações hoje ficou em torno de R$ 15 bilhões, enquanto a média, no primeiro semestre do ano, é de R$ 23 bilhões. "A repercussão que isso causa na economia é ruim porque pode provocar sufocamento do crescimento que vem sendo registrado", diz Bruno Corano, economista da Corano Capital.
Petróleo
Depois de subir ontem, o combustível continuou em alta nesta terça-feira. O tipo Brent teve elevação de 2,35% para US$ 76,04 por barril e o WTI subiu 2,17% (US$ 72,09). Mesmo assim, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram, como também aconteceu na segunda. PETR3 foi a R$ 39,35, com queda de 0,49%, enquanto PETR4 teve baixa de 0,25%, para R$ 36,16, conforme dados preliminares.
Por que Petrobras não sobe?
Normalmente, as ações da empresa acompanham a variação do petróleo. Mas isso não tem acontecido. A questão é que o mercado de petróleo está num sobe e desce muito grande. Numa semana o óleo se valoriza e na outra, cai demais. E isso afasta os investidores.
Outro problema é a proximidade com a divulgação do balanço da companhia. Isso geralmente também faz com que as ações oscilem bastante. Os números do terceiro trimestre saem no dia 7 de novembro, após o fechamento do mercado.
Arrecadação
A boa notícia foi que o governo federal arrecadou R$ 203,2 bilhões com impostos e contribuições no mês de setembro, segundo dados apresentados nesta terça-feira (22) pela Receita Federal. O valor é o maior de toda a série histórica, iniciada em 1994, para o mês. A arrecadação com impostos e contribuições superou pela primeira vez a marca de R$ 200 bilhões no mês em 30 anos. Na comparação com o desempenho registrado no mesmo mês do no passado (R$ 174,3 bilhões), o novo recorde representa uma alta nominal de 16,5%. No acumulado do ano, arrecadação supera R$ 1,924 trilhão.
Temporada de balanços
Começa nesta terça-feira a temporada de balanços brasileira do terceiro trimestre. A Neoenergia (NEOE3) é a primeira, depois do fechamento do mercado. A expectativa é de resultados positivos, como aconteceu com os números do segundo trimestre. O Itaú BBA prevê crescimento no lucro líquido de 12,9% ano a ano e de 6,6% em relação ao segundo trimestre. Os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) devem avançar 7,2% na base anual, menos que os 18% de crescimento registrados entre abril, maio e junho deste ano.
No trimestre anterior, esse resultados bons ajudaram a Bolsa a andar bem, no positivo. Pode ser que isso ajude novamente.