Dólar sobe para maior valor desde março de 2021 com incerteza sobre gastos
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)
29/10/2024 10h17Atualizada em 29/10/2024 18h11
O dólar teve forte alta de 0,92%, terminando a terça-feira (29) vendido a R$ 5,761, maior valor desde 29 de março de 2021. Durante o dia, a moeda americana chegou a bater em R$ 5,7671 na venda, cotação mais alta desde maio de 2020. O dólar turismo encerrou o dia vendido a R$ 5,97.
A Bolsa de Valores de São Paulo, que oscilou muito desde a abertura, passou a cair no começo da tarde e fechou em queda. O Ibovespa terminou o dia em baixa de 0,37%, aos 130.729 pontos.
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O clima no mercado ficou negativo depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixou claro que ainda há muitas incertezas sobre como vai ficar o Orçamento do governo federal daqui para a frente.
O que aconteceu
A incerteza do mercado sobre as medidas de contingenciamento de gastos do governo elevou a cotação do dólar e fez a Bolsa cair. Em entrevista na porta do Ministério da Fazenda, em Brasília, o ministro Fernando Haddad, afirmou por volta das 16h, que o pacote de contenção de gastos a ser apresentado pela área econômica do governo ainda está em análise. "Não tem uma data ainda e eu não chamaria de pacote", disse ele.
Quando perguntado se as medidas envolveriam um corte de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões, o ministro disse: "Não sei de onde saiu esse número". Haddad também afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu mais dados sobre as propostas e que a Fazenda está fornecendo as informações.
"Internamente, essa falta de uma divulgação do governo em relação ao corte de despesas esperado para depois das eleições é o que tem estressado o mercado", diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. "Hoje, especialmente, também houve um fluxo negativo de capital estrangeiro saindo do Brasil. Mas o fato de o ministro deixar a data do pacote em aberto certamente colaborou para a alta", diz Ariane Benedito, cofundadora e economista chefe da Eai Invest.
A taxa de câmbio está em tendência de alta no mundo todo desde que a campanha para a Presidência dos Estados Unidos se acirrou. A possibilidade de Donald Trump vencer as eleições tem feito a moeda se valorizar. O chamado "Trump Trade" (negociação baseada nas chances de Trump) puxa a divisa para cima. Como o candidato tem uma proposta de política econômica considerada inflacionária pelos especialistas, o mercado prevê que, se Trump ganhar a disputa, os juros americanos devem voltar a subir. Com a posibilidade de os investimentos em renda fixa nos EUA pagarem mais, muitos investidores internacionais saem dos seus países e correm para o mercado americano. Nesse movimento, precisam comprar dólares, daí as cotações em seus países de origem avançam.
Outro fator que ajudou a cotação a se elevar foi o dado de abertura de postos de trabalho nos EUA divulgado nesta terça. O total caiu para 7,443 milhões em setembro, de acordo com o relatório Jolts, publicado nesta terça-feira, pelo Departamento do Trabalho do país.
Analistas previam abertura de 7,95 milhões de vagas em agosto. "Isso mostra um mercado ainda aquecido, mas se enfraquecendo, o que pode levar o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) a fazer um corte menor de juros, de 25 pontos percentuais", diz Paulo Gala, economista chefe do Banco Master. Quanto menos caem os juros nos EUA, pior para a Bolsa brasileira, pois os investidores continuarão preferindo aproveitar as altas taxas de juros da renda fixa nos EUA em vez de se arriscar aqui. E, assim, o real também se desvaloriza.
Por que a Bolsa caiu?
Um dos motivos foi a queda da produção da Petrobras (PETR3 e PETR4) no Brasil. O volume caiu 8,2% entre julho e setembro na comparação com o mesmo intervalo do ano passado. Paradas para manutenção e declínio em campos maduros foram a causa da queda, informou a companhia na segunda-feira (28) à noite, em seu relatório de produção e vendas. A Petrobras produziu média de 2,13 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) no país no terceiro trimestre, versus os 2,32 milhões de bpd de julho, agosto e setembro do ano passado.
Nesta terça (29), as cotações internacionais do petróleo fecharam em leve baixa de 0,42% (Brent) e de 0,25% (WTI). Mas as ações da Petrobras tiveram queda. PETR3 teve desvalorização de 0,28%, indo a R$ 39,21, enquanto PETR4 perdeu 0,33%, para R$ 35,97, conforme dados preliminares.
Outro balanço que esteve na mira do mercado foi o do Santander Brasil. O banco teve lucro líquido gerencial de R$ 3,664 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 34,3% no comparativo anual. Na comparação com o segundo trimestre deste ano, o total foi 10% maior. O índice de inadimplência do banco para atrasos acima de 90 dias ficou em 3,2%, um leve aumento de 0,1 ponto percentual em relação ao período anterior e de 0,2 pontos base comparado a setembro de 2023. A ação SANB11 caiu 4,12%, para R$ 27,68, conforme dados preliminares.