Campos Neto diz que Open Finance brasileiro é o mais completo do mundo
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo (SP)
29/10/2024 07h55
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse que o Open Finance feito no Brasil "é o que tem mais produtos no mundo". Campos Neto participa nesta terça-feira (29) do LIDE Brazil Conference London, evento promovido pelo Lide, UOL e Folha de S.Paulo que reúne líderes políticos, empresariais, além de investidores brasileiros e britânicos, em Londres, no Reino Unido.
O que aconteceu
O presidente do BC destacou o alcance do Open Finance no Brasil. Em sua exposição durante um painel, o presidente do BC enalteceu o trabalho do banco à frente do sistema que permite aos usuários compartilhar informações bancárias com diversas instituições financeiras. "Nosso Open Finance é o mais aberto, que tem mais produtos no mundo e o que evoluiu mais rápido", destacou.
Modelo brasileiro expandiu a democratização do sistema. Carla Ferreira, vice-presidente da Câmara de Comércio na Grã-Bretanha, afirma que o modelo nacional permite a troca de experiências entre os países. "O Brasil foi além, com um enfoque claro na democratização do acesso aos serviços financeiros, mas também na redução de custo de transação e custo de crédito, um elemento necessário dado o nosso cenário macroeconômico", destacou.
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Brasil é visto como um dos pioneiros dos modelos. Para Robert Wigley, presidente da UK Finance, a revolução dos serviços financeiros marca a vida da sociedade. Ele citou o modelo de pagamentos instantâneos como inovador para os consumidores. "Nós temos muito a aprender com o Pix, a legislação de ativos digitais e outras questões essenciais", disse, ao ressaltar a ampla presença dos serviços financeiros na rotina dos brasileiros.
Dentre os notáveis sucessos brasileiros, Wigley destacou o número de pessoas com acesso a serviços bancários no país. Mais de 80% da população é bancarizada.
Os serviços financeiros ajudaram a lidar com uma lacuna de acesso a ferramentas como contas de depósitos e outras oportunidades de investimento e poupança.
Robert Wigley, presidente da UK Finance
Pix por aproximação
Pix por aproximação será lançado na próxima semana. Durante o painel intitulado "A experiência brasileira com a moeda digital e o Open Finance", Campos Neto disse que a nova funcionalidade será anunciada em um evento realizado junto com o Google na semana que vem. Ele destacou que o modelo será o mesmo já utilizado na carteira digital do Google para os pagamentos por cartão de crédito pelo celular.
A gente vai lançar o pagamento por aproximação do Pix, do mesmo jeito que você tem hoje na wallet do Google. Você vai começar a poder fazer isso com o Pix a partir da semana que vem.
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Questionado pelo UOL, o Google disse, via assessoria de imprensa, que o evento será no dia 4 de novembro. A empresa afirmou que tem uma série de lançamentos programados para o segmento de pagamentos digitais, mas que não vai dar detalhes no momento.
Previsão do BC era lançar a ferramenta do Pix por aproximação apenas em fevereiro de 2025. Em julho, a autoridade monetária ressaltou que a novidade seria possível devido ao avanço do Open Finance. O Banco do Brasil já oferece a funcionalidade, em fase piloto, para funcionários de São Paulo e Brasília. A previsão é de que todos os correntistas tenham acesso a partir de novembro.
Campos Netos prevê que o modelo de pagamentos instantâneos será implementado em todo o mundo. Com a integração dos sistemas, Campos Neto descarta a necessidade de criar uma moeda comum para os países da América Latina, como a adotada na Zona do Euro. "Se a gente conseguir conectar os sistemas de pagamento de forma instantânea, não tem mais relevância esse debate de blocos de moeda, porque a gente vai conseguir fazer os pagamentos em tempo real de forma instantânea e atomizada", avaliou.
Inovações
BC auxiliou na expansão digital nos últimos anos. Paulo Henrique Costa, presidente do Banco BRB, parabenizou Campos Neto pelo olhar ampliado durante seu comando à frente da autoridade monetária. "Eu nunca tinha visto um Banco Central tão protagonista no desenvolvimento da inovação", afirmou.
Mudanças digitais avançaram em uma única geração. Vanessa Rubio Márques, reitora associada de educação estendida da Escola de Políticas Públicas da London School of Economics and Political Science, destacou as recentes mudanças das atividades populacionais.
Márques destaca que as revoluções foram evidenciadas nos últimos anos. "Essas mudanças muito grandes, ocorreram principalmente durante a pandemia, quando saindo das dos eventos presenciais para aqueles que acontecem nas plataformas digitais", recordou.
Essas transformações aconteceram em uma só geração. Nós passamos da Blockbuster ao Netflix em uma geração. Também saímos do telefone fixo, que eu me lembro só existir na casa da minha avó, e hoje não podemos ter uma vida sem o nosso celular.
Vanessa Rubio Márques, reitora da London School of Economics and Political Science
Inflação
Campos Neto manifestou preocupação com o controle dos preços. Segundo o presidente da autoridade monetária, a inflação "parou de convergir" para o intervalo da meta e cita que o Banco Central já começou a "correção" da taxa de juros para conter o avanço de preços, principalmente do setor de serviços.
A gente precisa que a inflação de serviços comece a cair, porque não tem como a inflação de bens ficar baixa o suficiente para fazer com que o processo siga de convergência sem ter uma melhor inflação de serviços.
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Eleição nos Estados Unidos traz cenário desafiador. Campos Neto observou que os principais pilares do debate econômico são inflacionários. "A gente vê que ao longo dos anos tanto os republicanos quanto os democratas passaram de um fiscal mais restritivo para um fiscal bem mais expansionista, ou seja, mais gasto", disse.