OPINIÃO
Sakamoto: cortes de gastos em educação e saúde podem rachar governo e PT
Colaboração para o UOL
04/11/2024 19h07
O anúncio de que medidas de cortes de gastos serão implementadas pelo governo Lula (PT) poderá abrir um racha tanto no governo quanto no Partido dos Trabalhadores, afirmou o colunista do UOL Leonardo Sakamoto, se a equipe do ministro Fernando Haddad mexer nos custos da saúde e educação.
E, se ele não mexer, quem deve reclamar é a Faria Lima, apontou ainda Sakamoto durante o UOL News desta segunda-feira (04).
Os mínimos constitucionais da saúde e da educação são vinculados à arrecadação, e o PT, assim como setores do governo, são contra qualquer mudança nesse sentido — há um grupo que tem preocupações eleitorais, afirmou o colunista. Do outro lado, Haddad se vê pressionado pelo mercado para apresentar medidas que façam seu arcabouço fiscal ser cumprido.
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Tem o lado político no PT, que quer ver o diabo na rua, mas não quer a desvinculação constitucional do crescimento da educação e da saúde de acordo com o orçamento. E tem um outro lado político que acredita que isso pode causar um impacto muito grande nas eleições e na capacidade de reeleição do próprio presidente Lula, devido à redução de recursos a serem investidos para grupos sociais mais vulneráveis. Até porque quem depende, grosso modo, de educação e saúde públicas no Brasil são os grupos mais vulneráveis.
Então você tem essa disputa. Não estou dizendo que o ministro Haddad não está pensando no social, só que a lógica é diferente: ele quer fazer essas mudanças estruturais [para] colocar o Brasil em grau de investimento, chegar mais dinheiro, diminuir juros, reduzir o preço do dólar, cair a inflação, ter mais recursos para investimento, tudo isso.
Para o colunista, inevitavelmente haverá uma crise a ser lidada, mas o corte na área social não se demonstrou eficiente nos últimos anos.
Não estou dizendo que os dois lados não se preocupam também com a questão econômica, mas o lado contrário ao corte na educação e saúde diz que não dá para, novamente, priorizar a questão fiscal para só depois resolver a questão social. É uma fórmula que vem se repetindo no Brasil há muitas décadas e que, de certa forma, nunca se resolve. O próprio [ex-ministro da Economia] Paulo Guedes durante quatro anos tentou resolver a questão fiscal tirando o aumento real de salário mínimo.
Se não houver um corte de educação e saúde, um corte estrutural, a Faria Lima e o mercado vão chiar. E se houver esse corte, o PT e uma parte do governo vão chiar.
Leonardo Sakamoto
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