Agro, aço, têxtil: os setores da economia brasileira ameaçados por Trump
Gabriela Bulhões
Colaboradora do UOL, em São Paulo
07/11/2024 13h56
A vitória de Donald Trump na eleição dos Estados Unidos, anunciada na manhã de quarta-feira (6), mexeu com o dólar e as bolsas do mundo inteiro, mas esses efeitos imediatos não são os únicos que podem afetar a economia mundial. O resultado traz preocupações também pelas políticas protecionistas prometidas pelo republicano, que podem reduzir as vendas e o faturamento das empresas de parceiros comercial como o Brasil.
O que pode acontecer
Durante a campanha, Trump prometeu colocar em prática o tarifaço de importados. O aumento deve mudar de 10% a 20% para todos os seus parceiros comerciais, de 60% para produtos da China e ainda podendo haver sobretaxas de mais de 100% em ocasiões específicas.
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Para os brasileiros, essas medidas podem ter um efeito negativo no curto prazo. O ciclo do dólar mais alto e a redução das exportações é uma possibilidade real, que deve ter impacto na economia do Brasil.
A longo prazo, algumas medidas de Trump poderão aumentar a inflação americana e prejudicar o desempenho de alguns setores da economia no Brasil. Com a subida dos preços, a taxa de juros dos EUA poderá cair menos, forçando o nosso Banco Central a aumentar os juros brasileiro. Isso afeta as empresas nacionais de consumo, imobiliárias e todos os empresários muito endividados, aponta o coordenador do curso de Economia do Ibmec-RJ, Gustavo Moreira.
Quais segmentos devem ficar mais preocupados
Todas as empresas que exportam para os EUA correm risco. Entre os segmentos que mais vendem aos americanos estão o agronegócio, especialmente soja e carnes, siderúrgicas e empresas da área têxtil.
Entrar no enorme varejo interno americano vai ficar mais difícil, porque produtos importados ficam menos atraentes com impostos altos. Isso afeta diretamente, por exemplo, o setor têxtil, no qual o Brasil é um importante fornecedor de roupas e tecidos. As empresas do setor terão de reduzir as margens de lucro e todos os preços na cadeia produtiva devem subir.
Exportadores de commodities também podem ser impactados. Isso aconteceria porque as medidas prometidas por Trump ameaçam reduzir o crescimento econômico chinês, diminuindo a demanda pelas commodities vendidas pelo Brasil ao gigante asiático. Consequentemente, os preços cairiam, achatando o lucro das empresas brasileiras, explica Gustavo Moreira.
Setor de aço e alumínio nacional tende a perder espaço nos Estados Unidos. Essas companhias já sofreram no primeiro mandato de Trump, em que teve tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio. Essa medida gerou uma tensão significativa, pois o Brasil é um dos principais fornecedores desses materiais para o mercado norte-americano.
Variação cambial atrapalha uns, agrada outros
Setor petroquímico pode ganhar competitividade com dólar valorizado. Pois ele possui boa parte de suas receitas em moeda estrangeira, e tem seus custos em reais, fatores que devem garantir alta lucratividade. Por outro lado, o preço da gasolina tende a aumentar.
Alguns sofrem inicialmente, mas talvez cresçam em seguida. Se por um lado o agronegócio e o segmento siderúrgico perdem vendas com medidas protecionistas americanas, podem ganhar mercado na China, país que certamente terá redução de negócio com os americanos.
Outro ponto positivo é que as empresas exportadoras nacionais ficarão mais acessíveis ao mundo inteiro. Isso porque seus produtos ficarão mais baratos por causa da desvalorização do real. Vendendo mais, apesar do margem de lucro menor, elas garantirão maior renda.
Setor de tecnologia aguarda os próximos capítulos
As políticas do governo Trump tendem a limitar o crescimento dos investimentos, impactando diretamente o setor tecnológico. Em contrapartida, o dólar mais forte facilita a exportação de serviços e beneficia profissionais desse ramo, que podem oferecer alto valor agregado a um custo competitivo, diz Thiago Pisano, CEO da 87 Labs, empresa brasileira de tecnologia com atuação no mercado americano.