Boicote à carne do Mercosul impacta as ações do Carrefour no Brasil

Em meio à polêmica sobre o boicote do Carrefour (CRFB3) francês às carnes produzidas por países do Mercosul, as únicas ações na Bolsa de Valores de São Paulo que podem se dar mal são as da varejista francesa.

Após o anúncio feito pelo CEO, Alexandre Bompard, de que o Carrefour da França não iria mais comprar carne do Mercosul para atender a demanda dos agricultores franceses — que protestam contra um possível acordo entre o Mercosul e a UE —, setores do agronegócio brasileiro têm se manifestado.

Entre os protestos, em "repúdio" à decisão na França, a Fhoresp (Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo) recomenda que seus associados interrompam as compras nos estabelecimentos. A associação representa cerca de 500 mil empresas dos setores. Os frigoríficos JBS, Minerva Foods e Masterboi suspenderam as vendas para o Carrefour brasileiro. O boicote tem apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro,

Situação das empresas na Bolsa

Nesta segunda-feira (25), as ações CRFB3 chegaram a cair mais de 2,26%. Mas no início da tarde, tinham leve alta. As empresas de frigorífico brasileiras, entretanto, não tiveram nenhuma variação negativa.

Confira o impacto nas ações:

  • Carrefour (CRFB3) 1,09%
  • Marfrig (MRFG3) 6,68%
  • BRF (BRFS3) 3,78%
  • JBS (JBSS3) 2,30%
  • Minupar (MNPR3) 0,88%
  • Minerva (BEEF3) 0,71%

Fonte: Economatica, de 20 a 22 de novembro.

A França importa 0,003% do total de carne bovina embarcada pelo Brasil, isso considerando os dados no acumulado até outubro de 2024, conforme dados do governo. Em termos de comparação, seria como se o Brasil decidisse não importar mais sabonetes da França, dizem os analistas.

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Por isso, o efeito adverso para o Carrefour tem sido muito maior. A JBS (JBSS3), uma das maiores empresas de carne brasileira, anunciou que interrompeu o fornecimento de carne para a rede no Brasil. "É um efeito adverso para a empresa que prejudica não só as vendas dela, mas também sua imagem", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

É um tiro no pé, uma vez que o setor de proteína representa quase 10% da receita da companhia. É o que diz Julio Mora, fundador da Choice Investimentos "As 150 unidades do Sams Club, Atacadão e Carrefour serão afetadas. Soma-se a isso o endividamento alto de R$ 17 bilhões, além da competição acirrada com Assaí, Pão de Açúcar e outros", afirma ele. A dívida líquida do Carrefour no terceiro trimestre subiu 30,4%,

Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade

Grupo Carrefour, em nota

Essa interrupção pode gerar escassez de carne nos supermercados da rede. "Pode afetar o lucro da companhia, já que a carne bovina é responsável por cerca de 4% a 5% das vendas totais do Carrefour", afirma Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me banco.

Para o Goldman Sachs, entretanto, a suspensão de vendas para o Carrefour Brasil por parte dos frigoríficos brasileiros pode ser limitada. Segundo banco, açougueiros independentes podem suprir as vendas gerais de carne da rede.

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E se esse boicote francês durar?

Aí os prejuízos podem ser maiores. "O boicote por uma grande rede como o Carrefour poderia gerar, no curto prazo, uma reação negativa no mercado financeiro. Ações de empresas de proteína animal listadas na B3, como JBS, Marfrig e Minerva, poderiam sofrer desvalorização devido à percepção de risco ou à especulação de investidores sobre possíveis desdobramentos desse movimento", diz Luccas Saqueto, economista da GO Associados.

No entanto, essa possível reação negativa tende a ser passageira. "Os fundamentos econômicos dessas empresas, como a diversificação de mercados e o volume de exportações para destinos mais relevantes, permanecem sólidos", acrescenta Saqueto.

Como tudo começou?

Há mais de 20 anos o Brasil e a União Europeia negociam a conclusão do Acordo de Associação Mercosul-União Europeia. O acordo fazer as exportações crescerem quase quatro vezes, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mas os agricultores franceses querem barrar novamente o acordo de livre comércio entre os blocos, firmado em 2019.

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