Bolsa fecha em alta e dólar fica estável à espera de cortes do governo

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou nesta terça-feira (26) em alta enquanto o dólar manteve a estabilidade, com os investidores na expectativa pelo pacote fiscal, que tem possibilidade de ser anunciado nesta quarta-feira (27) ou quinta-feira (28), depois de mais de um mês de negociações.

O câmbio reagiu à ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% a importações do México e Canadá, e um adicional de 10% à China. Isso forçou a moeda americana para cima. Mas essa alta acabou sendo contida pela expectativa pelos cortes de gastos.

O que aconteceu

A Bolsa de Valores de São Paulo finalizou o dia em alta de 0,69%. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, subiu para 129.922 pontos.

O dólar comercial fechou em ligeira alta de 0,04%, vendido perto da estabilidade, a R$ 5,808. O turismo teve leve valorização de 0,02%, para R$ 6,028.

Em São Paulo, na segunda, a ministra Simone Tebet disse que o pacote de ajuste dos gastos já está pronto. A ministra do Planejamento disse que "provavelmente, o anúncio sai realmente esta semana". O detalhamento das propostas, porém, será feito após a apresentação das medidas para os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Mas Lira afirmou nesta tarde que não foi chamado pelo governo para discutir o pacote de gastos, mas considerou que as medidas devem ser aprovadas ainda neste ano no Congresso Nacional. As declarações ocorreram após uma reunião na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em Brasília. "Não fui chamado", disse Lira ao ser questionado por jornalistas se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, haviam lhe convidado para alguma reunião sobre o tema.

O pacote pode incluir mudanças nas regras para concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), no abono salarial, na política de reajuste do salário mínimo e na previdência e pensão de militares, conforme informações divulgadas na imprensa.

Trump

Também na segunda-feira (25), Trump publicou nas redes sociais que vai impor tarifas ao Canadá e ao México até que eles reprimam a entrada de drogas e imigrantes ilegais. Os vizinhos dos EUA estão entre os maiores parceiros comerciais dos EUA. Trump assume em 20 de janeiro de 2025.

Para a China, haveria "uma tarifa adicional de 10%, acima de qualquer tarifa adicional". Não ficou totalmente claro o que isso significa, pois ele já havia prometido aplicar tarifas superiores a 60%. Trump falou do assunto em duas publicações na plataforma Truth Social, que ele mesmo criou em 2022, após ter sido banido do antigo Twitter.

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As novas tarifas podem violar os termos do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês) sobre comércio. O acordo assinado por Trump entrou em vigor em 2020 e deu continuidade ao comércio amplamente isento de impostos entre os três países.

Além disso, elas são altamente inflacionárias. Se a inflação nos EUA subir, os juros voltam a aumentar. Isso prejudica Bolsas do mundo todo, mais ainda as emergentes, como a do Brasil. O capital dos investidores migraria para os EUA, em busca da remuneração desses altos juros e deixaria de ser aplicado aqui.

Com essa grande entrada de dinheiro nos EUA, o valor do dólar sobe, prejudicando o Brasil, por exemplo, com uma onda de aumento de preços. "Essas tarifas podem gerar um efeito cascata em mercados emergentes, como o Brasil", diz Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital.

Por isso, as Bolsa europeias fecharam em queda. Em Londres, por exemplo, o índice Financial Times recuou 0,40%. Na Alemanha, o DAX caiu 0,56% e em Paris, o CAC-40 perdeu 0,87%.

E por que o dólar não subiu?

Por que a moeda americana já está bem alta em relação ao real. Além disso, a expectativa pelas medidas de cortes de gastos acabou neutralizando essa alta.

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Inflação

Aqui no Brasil, ao contrário do que esperava o mercado, a prévia da inflação de novembro subiu 0,62%. O percentual é 0,14 ponto percentual maior do que as projeções. A variação do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), além de superar o teto da meta de inflação no acumulado em 12 meses, é a maior para o mês desde 2021 (1,17%).

No ano passado, a alta do índice foi de 0,33%. Na análise entre todos os meses de 2024, o resultado só não é maior do que o apurado em fevereiro (0,78%). "Essa alta da inflação aumenta as chances de uma elevação maior das taxas de juros em dezembro", diz Paulo Gala, economista chefe do banco Master. Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados, concorda. "A inflação continua sendo uma preocupação e é algo relacionado também à percepção de fragilidade fiscal, o que coloca importância e mesmo pressão para que haja um pacote de corte de gastos", diz ele

Com Agência Estado

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