Dólar vai a R$ 5,91, maior nominal histórico; Bolsa fecha em queda

O dólar fechou nesta quarta-feira (27) no maior valor nominal da história (sem contar a inflação). A Bolsa de Valores de São Paulo terminou o dia em queda forte, com o mercado repercutindo a decisão do governo de isentar de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil.

Nesta noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará pronunciamento que será veiculado em rede nacional de TV pelo governo às 20h30. Além do anúncio dessa isenção, uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro dará detalhes do pacote de corte de gastos.

No entanto, a notícia não caiu bem para o mercado, conforme dizem analistas.

O que aconteceu

A Bolsa de Valores de São Paulo teve baixa de 1,73%. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, desvaloriza para 127.676 pontos.

O dólar comercial fechou o dia em forte alta de 1,80%, vendido a R$ 5,912. O turismo era vendido com valorização de 1,69%, para R$ 6,129.

Esse valor é o maior valor nominal da história. Esta é a maior cotação nominal de fechamento desde que o real começou a circular, em julho de 1994. A cotação de fechamento desta quarta-feira superou os 5,9012 reais de 13 de maio de 2020 — no auge da pandemia de Covid-19 —, até então o maior valor para o dólar na história.

Internacionalmente, o dólar se desvalorizou. Os investidores descontaram da moeda parte do risco geopolítico do conflito entre Israel e Líbano, que agora têm um cessar fogo.

O mercado se estressou com o anúncio da isenção de IR porque está aguardando um pacote de contenção de despesas e não de renúncia de receitas. Foi o que disse Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. "Enquanto não divulgar as medidas, o governo dá margem para o capital especulativo", afirma.

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A notícia da possibilidade de isenção reflete um temor de que o pacote de cortes seja menos robusto do que o esperado. É o que disse André Galhardo, consultor econômico da plataforma transferências internacionais Remessa Online. "Há receio de que o governo, ao tentar preservar apoio popular, adote um esforço tímido para cortar despesas enquanto aumenta gastos por meio da reforma do Imposto de Renda", afirmou. Paulo Luives especialista da Valor Investimentos, concordou. "É difícil fazer um ajuste fiscal abrindo mão de receitas', disse.

O dólar vai continuar nesse patamar?

Não. É esperado que amanhã o mercado se acalme, após o pronunciamento. "Para que a isenção de IR seja implementada, será crucial detalhar as fontes de receita e os bloqueios de despesas necessários. Caso o anúncio traga esses esclarecimentos, podemos esperar algum alívio no mercado já a partir de amanhã", disse o especialista.

Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a proposta já era sabida pelo mercado. O que causou surpresa foi a possibilidade de perder receita. "Por isso, esse é um bom momento para falar da taxação dos super ricos. O ganho em consumo das famílias que ganham até R$ 5 mil não seria suficiente para compensar a perda de arrecadação", disse ele.

À noite, o ministro Haddad também deve comunicar ponto a ponto quais são as medidas de ajuste fiscal no pronunciamento. Ele já confirmou que mudanças no Vale Gás e a limitação dos chamados "supersalários" (que ultrapassam o limite legal) estão no pacote.

Líderes ouvidos pelo UOL afirmaram que o projeto poderia começar a tramitar na Câmara na semana que vem, num esforço para aprovar ainda em 2024. Hoje, após o fechamento dos mercados, deputados vão ao Planalto para uma apresentação do pacote de corte de gastos. A votação no Congresso pode furar a fila para que as medidas sejam aprovadas ainda este ano.

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O feriado que começa amanhã nos Estados Unidos também piora a situação do real e da Bolsa. Para não passar a quinta (28), dia de Ação de Graças, e a sexta (28) comprados em ações que podem cair, investidores estrangeiros, que são a maior parte na B3, vendem suas posições hoje.

Maior queda

A maior baixa do dia na Bolsa foi a da Locaweb, provedora de serviços de internet. A desvalorização de 8,24%, para R$ 4,12 (conforme dados preliminares), aconteceu após o banco Citi, rebaixar a recomendação do papel de "compra" para "neutro/alto risco". A revisão levou em conta os resultados da companhia no terceiro trimestre. O banco também culpou a alta taxa de juros brasileira pela desaceleração dos negócios da companhia.

Com Agência Estado

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