Intervenção do BC para baixar dólar seria 'enxugar gelo', diz economista
O dólar chegou ao patamar de R$ 6,11 nesta sexta-feira (29), ainda com o impacto do anúncio do pacote fiscal e da isenção de Imposto de Renda feito ontem pelo governo. Para analistas ouvidos pelo UOL, há espaço para uma reversão do dólar, mas é preciso que o governo melhore a comunicação com o mercado. Caso contrário, a moeda americana pode ficar em novo patamar.
Novo patamar do dólar?
Queda do dólar depende de comunicação do governo. A queda do dólar deve ocorrer quando houver mais clareza na comunicação do governo sobre seus esforços no ajuste fiscal, diz André Braz, economista do FGV IBRE. "Houve uma confusão de expectativas, e isso se alinha por comunicação. Há espaço para uma reversão, mas isso depende de como o governo vai comunicar seus esforços e comprovar isso", diz.
Dólar pode voltar ao patamar anterior. Para Braz, se a comunicação for bem-sucedida, a expectativa é de que o dólar volte ao patamar anterior, mais alinhado ao previsto no Boletim Focus, do Banco Central. O Boletim Focus de 24 de novembro indicava dólar a R$ 5,70.
Novo patamar de equilíbrio para o dólar pode ficar na faixa dos R$ 6. Já Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que o dólar pode entrar em um novo patamar de equilíbrio. "Em vez de dólar entre R$ 5 e R$ 5,50, veremos dólar entre R$ 6 e R$ 6,50. É para isso que estamos caminhando", diz.
Intervenção do Banco Central
O Banco Central pode atuar para segurar o câmbio. A autarquia tem poder para colocar dólar no mercado e segurar a desvalorização do real.
Para isso, o BC faz leilões da moeda americana. Os principais instrumentos para isso são o leilão de dólar à vista, que é a venda da moeda diretamente, e o leilão de swap cambial, que permite que o investidor ganhe com a valorização do dólar sem ter que comprar a moeda, o que, na prática, reduz a pressão no câmbio.
Intervenção do BC seria "enxugar gelo". Não caberia uma intervenção do Banco Central no momento, uma vez que o motivo da alta do dólar está na incerteza em relação à questão fiscal, diz Vale.
A situação do câmbio tem uma causa, que é o pacote fiscal. Não tem o que o Banco Central fazer. Se tentasse intervir, ia perder reservas, enxugar gelo e não ia adiantar nada.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados
Mercado precisa digerir a posição do governo. O Banco Central até poderia intervir no dólar, mas antes ele deve dar espaço para que o mercado possa digerir os anúncios feitos pelo governo, diz Braz. Caso contrário, o efeito de uma intervenção pode ser adverso.
Intervenção política poderia elevar ainda mais o dólar. "Se tivéssemos um Banco Central amigo do governo que tentasse enxugar gelo, o mercado devolveria um dólar ainda mais apreciado, por conta da percepção de que o país tem um BC que intervém para ajudar o governo", diz Vale.
Mudança na presidência não deve modificar atuação do BC. Em janeiro, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo, assume a presidência do BC. Para Braz, a mudança na gestão não deve levar a mudanças na forma de atuação da autoridade monetária. "O Galípolo tem uma grande responsabilidade pela frente e ele não deve fugir muito da cartilha do BC. Não tem manual diferente que ele poderia seguir", diz.