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Concentração de renda é uma tragédia para o varejo, diz presidente da Petz

Sérgio Zimerman, CEO da Petz Imagem: Divulgação/Petz

Do UOL, em São Paulo (SP)

29/11/2024 09h00

Para o empresário Sérgio Zimerman, fundador e presidente da rede de produtos para animais Petz, os juros altos sacrificam a população e favorecem a concentração de renda no país. Ele defende que o país cobre mais impostos dos ricos do que dos pobres e que haja uma correção da tabela do Imposto de Renda. "A concentração de renda é uma tragédia para o varejo", disse em entrevista exclusiva ao UOL.

Zimerman é membro do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo) e integra o CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável) do governo, o Conselhão. O grupo Petz, que inclui a rede de lojas e outros negócios, faturou R$ 3,8 bilhões em 2023.

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Concentração de renda

Não corrigir a tabela do imposto de renda tira renda do trabalhador, que é quem compra. O empresário critica a falta de correção da tabela do imposto de renda ao longo dos anos. Segundo ele, o empresariado errou ao não pressionar pela correção da tabela.

Lá atrás, só quem pagava imposto de renda era de gerente para cima. Hoje até empregada doméstica paga imposto de renda. Isso nunca foi pauta do empresariado. Como se o trabalhador não tivesse nada a ver com a gente. É o trabalhador que compra das nossas empresas. Se a gente não ajuda a proteger o trabalhador, como é que você vai ter empresa próspera?
Sérgio Zimerman, presidente da Petz

Rico tem que pagar mais imposto do que o pobre. Zimerman critica o modelo tributário do país, que favorece a concentração de renda, uma vez que os ricos pagam menos imposto que os pobres, proporcionalmente. "Não vejo o Brasil se tornando um país forte, um país desenvolvido, sem enfrentar essa discussão", diz.

Quando você começa a tirar imposto de quem ganha menos, R$ 2 mil, R$ 4 mil, R$ 6 mil, essas pessoas vão ter mais poder aquisitivo e elas vão consumir mais. Isso vai favorecer o varejo, a indústria, vai gerar mais emprego. O rico precisa entender que, se ele paga mais impostos na pessoa física, os negócios que ele tem vão melhorar tanto, que ele vai enriquecer mais.
Sérgio Zimerman, presidente da Petz

Mudança aproximaria o Brasil do modelo dos Estados Unidos. O empresário argumenta que, nos Estados Unidos, os ricos pagam mais imposto do que os pobres. Com isso a economia prospera e é possível criar grandes redes varejistas. "A concentração de renda para o varejo é uma tragédia", diz.

Nos Estados Unidos, quanto mais dinheiro você tem, mais imposto você paga. E onde é que tem o maior número de milionários e bilionários do mundo? Tem gente que fala: 'Você quer transformar isso numa Venezuela'. Pelo contrário, eu quero transformar nos Estados Unidos, numa Alemanha, numa França. Com uma desigualdade de renda menor, você tem as pessoas com muito mais acesso às coisas. Não existe varejo forte em país fraco. A concentração de renda para o varejo é uma tragédia.

Taxação dos mais ricos

Não tem cabimento o empresário ser contra a tributação de dividendos, diz. Ao comentar a tributação dos mais ricos, o empresário citou a taxação de dividendos. Ele argumenta que o restante do mundo tributa dividendos, e em compensação tem uma taxação menor do lucro das empresas. Assim, o empresário paga menos imposto se optar por reinvestir o lucro. Se optar por distribuir o lucro ao acionista, a tributação é maior, já que há a taxação dos dividendos. No modelo brasileiro, a empresa tem uma taxação maior do lucro, e não há taxação nos dividendos. Sendo assim, se o empresário reinvestir ou embolsar o lucro, a tributação é a mesma.

Não tem cabimento ser contra a tributação de dividendo. É só olhar o mundo. Brasil e Letônia não tributam dividendos, o resto do mundo tributa. É saudável tributar o dividendo. O que não é saudável é cobrar 34% de imposto de renda sobre o lucro da empresa. Você não está dando incentivo para as empresas pensarem em reinvestir.

Haddad é coerente no tema da taxação de grandes fortunas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse recentemente que a taxação dos super-ricos não deve ser adotada de forma unilateral pelo Brasil, pois isso poderia gerar fuga de capitais. Para Zimerman, Haddad está "certíssimo". "Ele está certíssimo nisso. Nenhum país consegue fazer isso. Ou a comunidade internacional se une para todos taxarem, ou, se isso não acontecer, é muito sábio não adotar, porque é um tiro no pé."

Juros altos sacrificam população

O empresário questiona a necessidade de juros tão altos no Brasil. O empresário diz que a discussão dos juros passa pela questão da estabilidade fiscal, mas questiona a necessidade de juros tão altos no país. A taxa básica de juros está hoje em 11,25%. Descontada a inflação, os juros reais ficam na casa dos 8%. "Por que precisa ter esse tamanho de juros reais? 5% não seria suficiente? Eu não estou convencido em absolutamente nada que 5% não seria sustentável", diz Zimerman.

Para o empresário, a análise da inflação deveria considerar o contexto mundial. Zimerman defende que a meta de inflação, que atualmente é de 3%, precisaria considerar o efeito inflacionário gerado pela pandemia em todo o mundo. Para ele, a inflação no país não é efeito de um aumento da demanda da população, que está "sacrificada pelos juros altos".Na pandemia foram despejados trilhões de dólares no mundo. É evidente que isso provoca um efeito inflacionário. E não se faz nenhum ajuste [na meta de inflação] por conta dessa pressão? Não é só no Brasil, o mundo sofreu. Essa inflação que temos é fruto de algum superaquecimento? Ou tem mais um efeito de outras coisas que não têm a ver exatamente com demanda? Eu não vejo a população super próspera com dinheiro. Eu vejo uma população arrebentada. Uma população que é sacrificada pelo modelo tributário, é sacrificada pelos juros altos e uma classe média que vai sendo esmagada.
Sérgio Zimerman, presidente da Petz

Pobre paga juros altos e rico que se beneficia. O empresário diz ainda que os juros altos são mais um instrumento de concentração de renda e inibem o investimento produtivo.

Um punhado de pessoas que tem dinheiro aplicado. Esses são os beneficiados dos juros altos. E milhões de pessoas pagam o efeito. É o pobre que está pagando juros altos e é o rico que está se beneficiando. É mais um mecanismo de concentração de renda. Não bastasse isso, o rico pensa o seguinte: por que vou investir na bolsa? Por que vou abrir empresa, se posso deixar rendendo 8% de juros reais ao ano? Que tipo de transferência de renda que a gente fica fazendo com os juros na estratosfera desse jeito?
Sérgio Zimerman, presidente da Petz

Importações e bets

Batalha da taxação das importações ainda não acabou. Após muita pressão do varejo e da indústria nacionais, foi definido um imposto de importação de 20% para compras internacionais de até US$ 50. Antes disso, o imposto era zero, e esses produtos só pagavam ICMS. Para Zimerman, ainda que a taxação em 20% seja uma vitória, o tema não está superado e os produtos estrangeiros continuam sendo beneficiados. Ele defende que, para haver equanimidade no pagamento, os produtos de fora deveriam pagar cerca de 60% de imposto de importação.

Eu só conhecia dois tipos de países: o país que deixa regra igual para produto de dentro e produto de fora, são os liberais, ou o país que protege o seu varejo e a sua indústria, são os protecionistas. O Brasil criou uma terceira categoria, que é assim: eu vou proteger quem estiver do lado de fora, porque quem estiver dentro eu não posso fazer nada.

Empresário reclama de falta de controle sobre a qualidade dos produtos. "Ao longo dos anos, foram se estabelecendo milhares de normas de como fabricar um produto no Brasil. E quando você é o importador, assume toda essa responsabilidade para você. Você tem que trazer o produto de acordo com as normas. Tudo isso desaparece no cross border. Você vai comprar um monte de coisas absolutamente proibidas no Brasil, sem nenhuma qualificação técnica, e vai receber normal."

Imposto sobre bets deveria ser no mínimo igual ao do consumo. O empresário critica a forma como foi liberada a operação das bets no país, com taxação de 15%. Para ele, a taxação deveria ser no mínimo igual à do consumo. "Existe um equívoco do governo nesse assunto. Eles tributam o jogo em 15% e o consumo em 50%. Mas o dinheiro é o mesmo. O dinheiro que está indo para o jogo deixa de ir para o consumo", diz.

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